O analfabetismo entre a população com deficiência acima de 15 anos no Brasil atinge 21,3%, taxa consideravelmente superior aos 5,2% registrados no público em geral, segundo o Censo 2022. Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (23). Essa foi a primeira vez em que o Censo teve questões específicas sobre pessoas com deficiência.
Esse resultado representa 2,9 milhões de indivíduos nessa condição que não sabem ler e nem escrever, um número quatro vezes maior que o total nacional. O índice também é muito superior à meta de 6,5% estabelecida pelo Plano Nacional de Educação (PNE) para 2015, e está distante do objetivo de erradicação do analfabetismo.
O cenário também é desafiador no que diz respeito à escolaridade. 63,1% do público com 25 anos e que tem alguma deficiência não completaram o ensino fundamental, quase o dobro da proporção observada entre pessoas sem deficiência (32,3%).
No ensino superior, apenas 7,4% desse grupo concluíram a graduação, contra 19,5% entre os demais. Já a conclusão da educação básica (ensino médio ou mais) foi registrada por 25,2% das pessoas com deficiência, menos da metade do percentual observado entre quem não possui deficiência (53,4%).
A pesquisa destaca progressos significativos entre os mais jovens: a taxa de analfabetismo na faixa etária de 15 a 17 anos é de 11,2%, 2,5 vezes menor que a registrada entre idosos com 60 anos ou mais (27,9%).
Em 2022, cerca de 1,6 milhão de deficientes com 6 anos ou mais frequentavam a escola. Entre crianças de 6 a 14 anos, as taxas de escolarização eram altas tanto para quem não tinha deficiência (98,4%) quanto para os que possuíam (92,6%). A partir dos 15 anos, porém, a evasão se torna mais acentuada neste último grupo.
Desigualdades regionais
Quase metade (48,0%) das pessoas que não sabem ler e escrever e têm alguma deficiência residem no Nordeste, enquanto 27,7% vivem no Sudeste. A região nordestina também concentra o maior percentual de domicílios com pelo menos um morador ou uma moradora deficiente (19,5%).
Os estados com as piores taxas de analfabetismo neste recorte são Piauí (38,8%), Alagoas (36,8%) e Paraíba (34,6%). Embora o Censo não traga análises sobre os motivos do cenário, o IBGE associa essa realidade às desigualdades estruturais brasileiras que estão mais presentes na região e impactam o acesso a serviços básicos e educação.
Outros dados
Ainda de acordo com os dados divulgados nesta sexta, em 2022 o Brasil tinha 14,4 milhões de pessoas com deficiência, ou seja 7,3% das 198,3 milhões de pessoas com dois anos ou mais de idade do país. O número de mulheres nessa condição (8,3 milhões) superava o de homens (6,1 milhões).
A prevalência de deficiência aumenta com a idade. Enquanto apenas 2,2% da população de 2 a 14 anos tinha alguma deficiência, esse percentual sobe para 5,4% entre 15 e 59 anos e atinge 27,5% entre as pessoas com 70 anos ou mais. Idosos com 60 anos ou mais representavam 45,4% desse público.
A dificuldade funcional mais frequente entre as pessoas com deficiência foi a de enxergar (7,9 milhões de pessoas), seguida pela dificuldade para andar ou subir degraus (5,2 milhões), pegar pequenos objetos ou abrir e fechar tampas (2,7 milhões), e ouvir (2,6 milhões). Cerca de 2,0% da população do país com 2 anos ou mais tinha duas ou mais dificuldades funcionais.