Exploração de petróleo na Foz do Amazonas não pode ser uma opção no Brasil, diz conselheira da ONU

Com a aproximação da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30), que será realizada em Belém (PA) em novembro, a ativista climática Amanda Costa, fundadora do Instituto Perifa Sustentável e jovem conselheira do Pacto Global da ONU, faz um alerta: “Exploração de petróleo na Foz do Amazonas não é uma opção”. Para ela, o Brasil tem a oportunidade de recuperar seu protagonismo ambiental, mas isso exige coerência entre discurso e prática.

“Parece que muitos governantes querem tirar a última gota de petróleo para só depois começar a investir em energias renováveis. Não é a realidade que podemos viver”, afirma Costa em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato. Ela também chama atenção para o risco de os acordos multilaterais perderem ainda mais força diante do atual cenário geopolítico e cobra pressão da sociedade civil para evitar retrocessos.

A conselheira acompanha as conferências do clima da ONU desde a COP 23 e se diz preocupada com a perda de relevância desses acordos. Ainda assim, vê na COP 30 uma chance única para o Brasil se reposicionar. “Temos a chance de mostrar para o mundo, não apenas com palavras e narrativas vazias, mas com ações, que o Brasil pretende voltar a ser protagonista dentro do discurso ambiental”, diz.

Para ela, isso só pode ser feito caso o país, além de abandonar a exploração de petróleo na Foz do Amazonas, investa em “adaptação climática para as nossas cidades”. “Não apenas no Brasil, mas no mundo, não dá mais para que o Acordo de Paris, as Contribuições Nacionalmente Determinadas (CNDs), fiquem apenas o discurso, porque vidas estão sendo perdidas. Pessoas estão morrendo por conta das enchentes, secas, calor extremo. O mundo está em colapso”, defende.

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) aprovou, nesta segunda-feira (19), o plano de proteção à fauna apresentado pela Petrobras como parte dos procedimentos para o licenciamento ambiental da perfuração exploratória de petróleo na Foz do Amazonas.  A empresa quer explorar petróleo em mais de 2 mil quilômetros da costa equatorial brasileira.

Racismo ambiental e crise nas periferias

Amanda Costa lembra que os impactos da crise climática não atingem todos da mesma forma. “São as pessoas negras, as pessoas indígenas, as pessoas quilombolas, os ribeirinhos, as mulheres que estão sofrendo os piores impactos da crise climática”, afirma. Para ela, o racismo ambiental, conceito cunhado nos anos 1980 pelo ativista Dr. Benjamin Chavis, se expressa na ausência de políticas públicas eficazes nos territórios periféricos e racializados.

“Eu sou da Brasilândia, da ‘quebrada’ de São Paulo. Muitas vezes falam: ‘Mas é que a Brasilândia é uma terra de morros’. Água Fria, Perdizes [bairros da capital paulista] também são regiões de morros, mas não alagam, não inundam, porque nesses lugares tem políticas públicas adequadas”, compara.

A tragédia climática recente no Rio Grande do Sul, segundo a ativista, ilustra esse descompasso. “A cidade não teve a eficiência de implementar um plano de adaptação climática. Só que isso não é um fato isolado. Isso vai continuar sendo a realidade”, destaca.

PL da devastação e perdas econômicas

A ativista também se posiciona contra a flexibilização dos licenciamentos ambientais prevista no chamado “PL da devastação”, criticando a narrativa de que isso impulsionaria a economia. “Nosso ambiente é integral. Isso vai impactar fortemente todos os biomas”, indica. Segundo ela, além da perda de biodiversidade, há risco de prejuízo econômico concreto.

“Quando impacta o ecossistema de uma forma generalizada, afeta investimentos internacionais e compradores de comércios agrícolas. Ao invés do Brasil ampliar o seu mercado de bens externos, ele vai sofrer essas consequências, principalmente com as futuras perdas de safras potencializadas pela crise climática”, prevê.

Luta por justiça climática é coletiva

Para enfrentar esses desafios, Costa defende um caminho coletivo e estrutural. “A primeira solução, na minha concepção, é cada vez mais votarmos em tomadores de decisão que realmente vão legislar pelo nosso território”, afirma. Mas, reconhecendo o cenário político adverso, ela propõe mobilização popular. “É essencial fazer um trabalho de base, comunitário, popular, antirracista”, defende.

Ela também sugere ações locais, como “projetos de educação ambiental, hortas comunitárias, de alimentação popular, para combater esse nutricídio que muitas vezes afeta corpos como o meu: corpos pretos, periféricos, que estão na base da pirâmide social”.

Para ouvir e assistir

O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.

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