Durante uma reunião com o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, o mandatário dos Estados Unidos, Donald Trump, abordou o tema do suposto “genocídio” contra fazendeiros brancos na África do Sul. O republicano exibiu um vídeo com multidões de sul-africanos pedindo a ocupação de terras pertencentes a proprietários rurais, que fazem parte de uma elite privilegiada minoritária do país.
Segundo relatou a agência de notícias britânica Reuters, durante a exibição do vídeo, o mandatário sul-africano “permaneceu, em grande parte, sem expressão enquanto o vídeo passava, ocasionalmente esticando o pescoço para observá-lo”.
Diante das afirmações de Trump de que o material mostrava “túmulos de milhares de fazendeiros brancos”, Ramaphosa respondeu que “nunca havia visto aquilo antes e que gostaria de saber onde ficava o local”. Se esquivando de responder diretamente à pergunta, o republicano folheou papéis que dizia ser cópias de artigos que supostamente relatavam a morte de sul-africanos brancos, enquanto dizia “morte, morte”.
Ramaphosa advertiu Trump ao lembrar que a maioria das vítimas de homicídios em seu país são os negros, e obteve a resposta: “os fazendeiros não são negros”. Para concluir o constrangimento, Ramaphosa disse que as preocupações de Trump sobre um suposto genocídio branco na África do Sul é algo que ele está “disposto” a debater com o republicano.
“Você [Trump] é um parceiro da África do Sul e está levantando preocupações [sobre genocídio], e essas são questões sobre as quais estamos dispostos a conversar com você”, declarou Ramaphosa durante reunião bilateral com Trump no Salão Oval da Casa Branca.
Diplomacia em crise
O governo dos EUA, sob a Presidência de Trump, e influência de Elon Musk, que é sul-africano e veio de família rica porque seu pai, Errol Musk, fazia parte do ramo minerador de pedras preciosas no país africano, tem denunciado, sem provas, que a minoria branca sul-africana é vítima de perseguição e discriminação racial.
As denúncias infundadas levaram os EUA a acolherem um grupo de 59 “refugiados” sul-africanos brancos que, segundo Trump, estão sendo perseguidos na África do Sul por sua raça. Por sua vez, o governo sul-africano rejeita as acusações de perseguição racial, afirmando que os africâneres, como o grupo privilegiado é conhecido, continuam sendo uma das comunidades mais privilegiadas do país.
Ramaphosa também chegou a classificar as alegações de genocídio como “completamente falsas” e destacou que as reformas agrárias que têm atingido a aglomeração de terras por essas elites, por meio de uma lei criticada por Trump, visam corrigir desigualdades históricas. Os desentendimentos entre os dois países aumentaram com a expulsão, em março, do então embaixador de Pretória em Washington, Ebrahim Rasool, que foi declarado persona non grata após criticar as políticas de Trump.
Outra disputa entre os dois países diz respeito à postura dos Estados Unidos em relação a Israel e à população palestina, especialmente na Faixa de Gaza. Por suas ações, Pretória processou Israel por genocídio no Tribunal Penal Internacional.
Ramaphosa chegou aos Estados Unidos na última segunda-feira (19/05) e ficará até a próxima quinta (22/05). De acordo com a Presidência sul-africana, a viagem pretende discutir “questões de interesse bilaterais, regionais e globais”.
Ramaphosa também afirmou que sua delegação chegou aos Estados Unidos com a missão de “redefinir” e “recalibrar” os laços entre os dois países.
“Estamos aqui, essencialmente, para redefinir a relação entre os Estados Unidos e a África do Sul. Nossos vínculos são realmente duradouros, e gostaríamos de recalibrar as relações entre nossos dois países”, disse.
Neste sentido, propôs que os Estados Unidos aproveitem os minerais estratégicos da África do Sul para impulsionar a economia norte-americana. O país foi um dos atingidos pelas tarifas de Trump, com 31% de aumento no valor de seus produtos importados pelos EUA.
“Temos minerais críticos que vocês desejam para alimentar o crescimento da sua própria economia e promover a reindustrialização. Então, temos isso a oferecer, incluindo minerais de terras raras”, afirmou Ramaphosa.
(*) Com Brasil247, Prensa Latina e informações da Reuters