
Durante a solenidade de abertura da XXVI Marcha a Brasília em Defesa dos Municípios, nesta terça-feira (20), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou novas etapas de programas federais nas áreas da Saúde e da Habitação. Sem apresentar detalhes técnicos, Lula afirmou que as medidas fazem parte da resposta às demandas apresentadas por prefeitos de todo o país. O presidente abriu seu discurso reconhecendo o déficit habitacional estimado em 7 milhões de moradias e afirmou que o governo federal vai destinar recursos para uma nova fase do PAC Seleções, voltado a atender essas necessidades.
Lula também anunciou a criação de uma nova linha de crédito para reforma de moradias, direcionada ao cidadão que deseja melhorar as condições de sua casa. “Vamos anunciar uma política de crédito para reforma de casa. É uma necessidade das pessoas”, declarou, sem apresentar prazos ou modelo de operação do programa.
Governo pretende ampliar atendimento no SUS com nova fase do PMAE
Outra frente anunciada foi a área da Saúde. Lula antecipou que o governo deve lançar mais uma etapa do Programa Mais Acesso a Especialistas (PMAE), com o objetivo de ampliar a oferta de consultas e exames médicos especializados no âmbito do SUS. Segundo o presidente, a participação dos municípios será fundamental para viabilizar o programa. “A gente não vai conseguir fazer isso sem as prefeituras”, afirmou.
Ao lado de 25 ministros de Estado, Lula afirmou que outros anúncios devem ser feitos diretamente pelos integrantes do governo federal ao longo da programação da Marcha, que segue até quinta-feira (22). Segundo o presidente, cabe a cada ministro informar “com exclusividade” o que está sendo feito em sua respectiva pasta para atender às demandas dos prefeitos.
Governo formaliza venda do terreno da sede da CNM em Brasília
A solenidade também marcou a assinatura da portaria que autoriza a venda, com dispensa de licitação, do terreno onde está localizada a sede da Confederação Nacional de Municípios (CNM) em Brasília. O ato foi formalizado pela ministra da Gestão, Esther Dweck, e pelo presidente da CNM, Paulo Ziulkoski.
Governo atua sob risco de populismo fiscal, afirma analista político
Para o analista econômico e político Miguel Daoud, o movimento do governo reflete uma tentativa explícita de recompor popularidade a qualquer custo, mesmo diante de alertas crescentes sobre o desequilíbrio das contas públicas. “É mais um exemplo de como o Palácio do Planalto tem optado por governar com os olhos voltados exclusivamente para as urnas de 2026, e não para o futuro do Brasil.”, afirma Daoud.
Na visão do analista, o problema não está nos temas escolhidos — como saúde e moradia —, mas na forma improvisada com que as medidas são lançadas, em um ambiente fiscal já pressionado e com um arcabouço fiscal que virou letra morta.
“O problema é a forma improvisada e irresponsável com que tudo é anunciado, sem detalhamento técnico, sem orçamento garantido e sem planejamento operacional. É o mesmo erro de governos passados: anunciar no palanque o que não se consegue executar na prática. E o prejuízo, como sempre, recai sobre os brasileiros — sobretudo os mais pobres, justamente os que mais precisam de serviços públicos que funcionem”, aponta.
Governo sob pressão: crise de confiança e impacto eleitoral
Além da questão fiscal, os novos anúncios levantam outro ponto sensível: a relação entre política pública e a disputa eleitoral. Com a aprovação pessoal do presidente em queda e críticas crescentes de prefeitos quanto à centralização e à escassez de repasses, o Planalto parece operar em modo “campanha”, em busca de acenos fáceis a públicos estratégicos — especialmente em véspera de eleições municipais.
Para Daoud, essa “narrativa de entrega” sem entrega efetiva real cria uma bomba-relógio institucional e econômica. “Tentar revertê-la com medidas de apelo fácil e efeitos incertos é uma aposta perigosa. Se falhar — como tantos outros programas mal planejados do passado — o estrago será duplo: nas finanças do país e na confiança da população.“
O histórico brasileiro já mostrou onde esse tipo de abordagem pode levar. Governos que rompem os limites fiscais para agradar eleitores acabam comprometendo a credibilidade do Estado, prejudicando os próprios programas sociais que dizem defender. O caso do “novo PAC” e do “crédito para reforma de casas” soa familiar: uma promessa genérica, lançada sob holofotes, mas sem lastro técnico. Enquanto isso, a dívida cresce, os juros permanecem altos e o setor privado se retrai diante da incerteza.
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