
Hoje à noite, na Livraria da Travessa do Shopping Iguatemi, será lançado oficialmente o livro “De volta ao jogo – a história de sucesso, dramas e viradas do BTG Pactual”, de autoria da jornalista Ariane Abdallah. O texto é ágil, envolvente e repleto de detalhes saborosos, recolhidos pacientemente pela autora em uma pesquisa minuciosa, enriquecida por quase cem entrevistas com os personagens dessa história que tem mais de 40 anos.
Os leitores vão devorar rapidamente as 337 páginas da publicação, pois essas quatro décadas passaram em um ritmo alucinante, como se pertencessem a um roteiro de série da Netflix (há ainda 76 páginas adicionais de agradecimentos e fontes de consulta, além do índice onomástico).
A narrativa gira em torno de dois protagonistas: Luiz Cezar Fernandes, o fundador, e André Esteves, quem de fato colocou o BTG nos trilhos de um crescimento que não parece ter limites (evidentemente, a colaboração de outros sócios, como Paulo Guedes e Roberto Saloutti, também é creditada em minúcia). Apesar de contar com depoimentos de quem participou diretamente dessa trajetória, não é um livro chapa-branca: conta sem rodeios momentos difíceis, como a saída de Fernandes e a prisão de André Esteves, em meio à operação Lava Jato.
Conheci esses dois personagens em momentos diferentes de minha carreira jornalística.
Estive com Luiz Cezar apenas uma vez – mas os detalhes esmiuçados por Ariane me confirmaram a impressão ruim que ele me causou: uma pessoa arrogante e desrespeitosa, na linha “professor de Deus”.
Começava o milênio e a editora na qual trabalhava (de propriedade de um fundo de private equity ligado ao hoje Banco Pátria) tinha sido vendida, com exceção de um título – que me foi concedido. Fui ao mercado conversar com eventuais interessados. Um deles me foi trazido pelo jornalista Rubeny Goulart, que era da nossa equipe. Era justamente Luiz Cezar Fernandes.
Lá pelas tantas, ele me disse que, se assumisse o título, iria contratar um amigo para o meu lugar (eu, que iria decidir para quem a revista iria ser vendida). E também me comunicou (como se já tivesse assinado um contrato) que a redação teria de ficar no Rio de Janeiro. Ponderei que nada tinha contra os cariocas, mas que o centro de negócios do Brasil estava em São Paulo.
Ele, então, deu um muxoxo e disse que eu “estava completamente equivocado”. “Com as ferramentas de tecnologia que temos hoje, é possível fazer uma revista em qualquer cidade do mundo”, disparou. Eu retruquei: “E a redação vai levantar as pautas como? Por telepatia?”.
Ele ruborizou de raiva e falou por dez minutos seguidos sobre como a tecnologia estava revolucionando a comunicação no mundo – sem ter exatamente conexão com aquilo que estávamos conversando. Quando ele terminou, agradeci a atenção e nunca mais nos falamos.
Por uma enorme coincidência, tive meu primeiro encontro com André Esteves quando trabalhei pela segunda vez na mesma revista que motivou a minha reunião com Luiz Cezar.
Conversamos sobre política, economia e jornalismo durante uma hora seguida e decidimos nos encontrar com alguma frequência para discutir os cenários que se descortinam para o Brasil. Isso aconteceu em 2014. De lá para cá, falamos de duas a três vezes por ano, sobre inúmeros assuntos. Não sou o único jornalista que tem esse privilégio – mas sei que sou um dos poucos que desfruta com alguma frequência a possibilidade de ouvir suas ideias.
Em novembro de 2015, no entanto, Esteves foi preso por conta de uma lorota contada pelo então senador Delcídio do Amaral – e gravada pelo filho de Nestor Cerveró, da Petrobras, que estava preso por decisão do juiz Sergio Moro. Logo depois da prisão, compareci à festa de aniversário de um empresário e fui logo cercado por uns seis amigos, que sabiam da minha proximidade com o controlador do BTG Pactual.
Três, em particular, estavam se deliciando com o caso. Um deles começou: “Acharam a delação do Cerveró na sala do André”. Eu perguntei quantas vezes aquela pessoa tinha sido recebida na sala do banqueiro. A resposta: nenhuma. Eu provoquei: “Sabe por quê? Ele não tem sala. Fica sentado no mesão no meio de todos os operadores. Ele iria deixar um documento desses em uma mesa que poderia ser acessada por qualquer um?”. Não houve tréplica.
Outro foi em frente: “Mas ele iria emprestar o jatinho para o Cerveró fugir…”. Eu repliquei: “Com o dinheiro que tem, por que não alugaria um outro avião? Por que iria emprestar o próprio jato?”. Mais uma vez, silêncio absoluto.
Por fim, mais um incauto arriscou: “Ele se propôs a assinar um contrato para dar mesada à família do Cerveró”. Seguiu-se, então, o seguinte diálogo, começando por minha reação:
– Você assinaria um contrato para sustentar a família de alguém como o Cerveró?
– Mas é óbvio que não.
– Então, me explique uma coisa: como é que o André Esteves, que é mais inteligente que nós dois juntos, iria deixar a impressão digital dele em um contrato como esse?
Alguns anos depois, em um evento para levantar fundos a uma organização do Terceiro Setor, Esteves foi chamado para ser o orador da noite. E dois destes três indivíduos estavam entre os que foram cumprimentá-lo pelo discurso.
Nada como um dia após o outro. Os responsáveis pelo sucesso do BTG Pactual podem assinar abaixo.
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O post BTG: o livro que poderia virar uma série da Netflix apareceu primeiro em BM&C NEWS.