Máquinas chinesas no Brasil devem ajudar nossa soberania tecnológica, diz dirigente do MST

A vinda de máquinas chinesas para a agricultura familiar no Brasil deve ajudar a construir a soberania tecnológica e transferir tecnologia para territórios brasileiros. É o que espera Diego Moreira, da direção nacional do setor de produção do MST.

O dirigente participou do seminário “Agricultura Digital Familiar e Camponesa na cooperação Brasil-China”, que ocorreu nesta sexta-feira (9) durante a 5ª Feira Nacional da Reforma Agrária.

“A gente quer entender a soberania digital dentro de um processo da luta popular”, disse Moreira. Ele explicou que a chegada das máquinas não visa criar uma linha de importações e muito menos competir com a indústria nacional.

“Visamos a transferência de tecnologia para que o Brasil construa indústria, construa soberania tecnológica e possa construir as suas próprias máquinas, adaptadas às regiões e biomas dos territórios brasileiros”, afirmou.

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Desde 2024, regiões do nordeste do Brasil vem recebendo levas de máquinas fabricadas na China para a utilização em diversos cultivos da agricultura familiar. A iniciativa faz parte de um projeto de estudos das fábricas chinesas que realizam testes em parceria com universidades, governos estaduais e o MST.

O próximo passo seria a instalação de fábricas no Brasil como arte de um projeto de transferência de tecnologia

“Precisamos socializar o que temos aprendido na caminhada de cooperação Brasil-China, que são parcerias importantes para a agricultura e para o MST”, disse.

“Para avançarmos nas várias cadeias produtivas, segurar a juventude no campo, ter famílias assentadas com condições básicas de vida, é necessário mecanizar a agricultura familiar brasileira. E para isso acontecer, precisamos colaborar com a China.”

‘Romper com modelo hegemônico’

A parceira entre Brasil e China também tem potencial para romper com modelos hegemônicos na agricultura, como os importados dos EUA, e absorver as tecnologias do ponto de vista agroecológico. Quem aponta o caminho é Tica Moreno, pesquisadora da Baobab – Associação Internacional para Cooperação Popular na China.

“Só teremos o desenvolvimento e uma nova tecnologia se tivermos povo nesse processo, o que se contrapõe ao modelo hegemônico dos EUA, sem diversidade tecnológica e dos modos de vida”, garantiu.

Moreno ainda explicou o atual estágio do debate sobre produtividade na China, que envolve também a mecanização da agricultura, e a utilização do conceito de nova qualidade das forças produtivas, impactando os setores de computação, microchips e Inteligência Artificial.

“Esse conceito leva em consideração como elemento fundamental os dados como novo fator de produção eficiente. Isso significa que eles têm muito nítido que quem dominar os estágios iniciais da nova revolução que está em curso vai ter papel central da futura hegemonia global”, apontou.

No entanto, ela ressaltou também a necessidade de interiorizar no Brasil a produção dessas tecnologias, pois “não queremos ser apenas usuários das plataformas, queremos desenvolver essas plataformas também”.

“O desafio das organizações populares é saber em quais medidas essas ferramentas vão se inserir no projeto da reforma agrária, da agroecologia, quais tecnologias os movimentos querem e quais não querem.”

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