Crítica Argylle: O Superespião | Muitas reviravoltas deixam todo mundo zonzo

Crítica Argylle: O Superespião | Muitas reviravoltas deixam todo mundo zonzoAndré Mello

Muitas vezes quando os filmes são muito misteriosos em sua divulgação, correm o risco de aumentar demais as expectativas do público. Às vezes, tanto mistério dá certo, entregando algo realmente novo ao espectador, mas em outros casos, o que poderia ser acaba sendo muito mais legal do que temos na tela.

Argylle: O Superespião vai e vem entre esses dois lados, muitas vezes aproveitando tudo o que escondeu sobre a trama do filme na sua divulgação, surpreendendo o espectador, mas também se mostrando absurdamente previsível a partir de sua segunda metade.

A nova empreitada de Matthew Vaughn (Kingsman: Serviço Secreto) traz um elenco conhecido, muita ação e talvez uma necessidade de suspensão de descrença para que todos possam se divertir como planejado. Infelizmente, nem sempre isso dá certo.

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Boa sacada do marketing, mas esquecida no filme

Durante todo o seu período de filmagens, Argylle era mostrado como um filme de espionagem estrelado por Henry Cavill (Homem de Aço), quase como uma paródia de séries como 007 e Missão: Impossível. Ter Matthew Vaughn, que fez um ótimo trabalho em Kingsman: Serviço Secreto, já era suficiente para chamar a atenção de todos.

A entrada de atores como John Cena (Pacificador) e a então estréia da cantora Dua Lipa na atuação (que realmente estreou em uma participação em Barbie), apenas deixavam as coisas mais interessantes. O filme seria baseado em um livro ainda não publicado da autora Elly Conway. Por meses, publicações tentaram entrevistas com ela, sem sucesso.

Quando o primeiro trailer do longa foi lançado, a grande mentira foi revelada. Argylle na verdade é a história da própria Elly, interpretada por Bryce Dallas Howard (Jurassic World: Domínio), uma autora reclusa que já está no quarto livro de sua série de espionagem.

Quando ela está para terminar o trabalho no quinto livro, acaba se envolvendo em uma trama de espionagem real, já que descobre que as coisas que vem escrevendo se tornaram realidade. Agora, uma agência secreta quer o manuscrito do seu quinto livro para descobrir segredos ainda não revelados.

Ela recebe a ajuda de um espião de verdade, Aidan, vivido por Sam Rockwell (Homem de Ferro 2), um cara que não parece nem um pouco com a visão que Ellie tem de um espião.

Em boa parte da produção, a trama mostra que Elly, completamente apavorada por tudo que está acontecendo ao seu redor, começa a projetar a figura de Argylle, interpretado por Cavill, para tentar compreender os acontecimentos.

Falando desse jeito, parece apenas um filme de ação comum, mas a ideia inicial, que ocultava a verdadeira natureza do longa, me parecia muito mais interessante e confesso que seria bem mais impactante se todo o segredo não tivesse sido revelado. Por conta disso, toda a genialidade do marketing parece ser mais legal que o produto final, por mais que ele não seja de todo ruim.

Várias participações poderiam ser bem mais divertidas se surgissem de surpresa, em vez de serem reveladas em pôsteres e trailers. Tem gente que teve sua presença muito alardeada para aparecer em pouquíssimas cenas. É o típico caso em que elementos externos acabam influenciando muito a experiência do filme, o que é uma pena, já que ele traz vários momentos divertidos.

Segredos, reviravoltas e falta de fôlego

Argylle: O Superespião consegue ser um longa divertido enquanto ainda usa um pouco dessa aura de mistério que se criou em torno de sua história. Como Elly conseguiu adivinhar tudo? Quem são aquelas pessoas? Tudo isso prende o espectador junto da personagem.

Enquanto Bryce Dallas Howard vem bem interpretando alguém completamente apavorado por estar naquela situação, boa parte do filme está nas costas de Sam Rockwell, que consegue se sair muito bem nas cenas de ação e por ter carisma sobrando.

Em várias cenas, mesmo com os diálogos não sendo particularmente inspirados, o ator consegue ser cativante como um espião que parece com uma pessoa comum, como deveria ser. A participação de Henry Cavill no filme é divertida exatamente para mostrar esse contraste da ficção com a “realidade”, deixando claro que alguém com o porte do ex-Superman chamaria muito a atenção caso fosse um agente secreto.

Tudo isso funciona muito bem na primeira metade da história, mas as coisas começam a desandar um pouco na segunda parte, já que algumas reviravoltas tornam tudo em algo extremamente previsível.

Até mesmo as cenas de ação que pareciam bem legais, se tornam complicadas demais e com coreografias que parecem não encaixar muito bem. Isso é impressionante, principalmente após Vaughn ter mostrado que consegue entregar cenas incríveis, como aquela da igreja do primeiro Kingsman. Porém, muitos dos problemas vistos aqui já estavam presentes em Kingsman: O Círculo Dourado, então não é algo totalmente surpreendente.

A partir da segunda metade do filme, uma sacada que poderia dar muito certo acaba exigindo ainda mais do espectador, que foi testado até então para aceitar tudo o que foi apresentado na sua frente, para acreditar mais em algumas saídas da história.

O grande clímax da trama não funciona tão bem como poderia exatamente por isso. Coisas acontecem completamente sem qualquer tipo de preparação, e estão lá simplesmente porque fariam sentido em uma história de espionagem.

Nem tudo está perdido

Mesmo com esses problemas, Argylle: O Superespião ainda consegue entregar momentos divertidos. A produção, uma parceria entre a Universal Pictures e a Apple, indicam que ele seja lançado no streaming da empresa, onde acredito que talvez funcione até melhor do que na tela do cinema.

O longa ainda conta com mais uma reviravolta nos momentos finais e uma cena no meio dos créditos que abrem muitas possibilidades para o futuro, o que considero legal, principalmente pela direção apontada. Talvez as aventuras seguintes sejam mais divertidas. Potencial para isso tem de sobra.

Argylle: O Superespião estreia dia 1º de fevereiro nos cinemas brasileiros.

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