A nomeação de Frederico Siqueira para o Ministério das Comunicações, após a recusa do deputado Pedro Lucas Fernandes (União Brasil – MA), escancara o cálculo político de interesses dos partidos do centrão, como o União Brasil, de olho na situação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) diante de um Congresso majoritariamente bolsonarista. A avaliação é do cientista político Paulo Niccoli, em entrevista ao Conexão BdF, do Brasil de Fato.
Segundo Niccoli, a recusa de Pedro Lucas, presidente da bancada do União na Câmara, reflete uma tentativa de se equilibrar entre duas alas opostas dentro do partido: uma que apoia o governo e outra que sustenta o bolsonarismo. “Pedro Lucas é ponto de contato entre esses grupos. Pressionado, recusou o cargo para manter essa mediação”, diz o cientista político, que vê na decisão uma manobra da sigla diante das pesquisas que sugerem uma queda de popularidade do governo. “O partido age conforme o calor do momento. A vocação do centrão é essa: nunca ser governo, mas estar em qualquer governo”.
“O centrão está de olho, como um urubu, observando a dinâmica da taxa de popularidade do presidente Lula. É possível que, à medida que as eleições se aproximem, esses partidos comecem a se afastar temporariamente do governo, recusando cargos, como foi o caso de Pedro Luca, ou dificultando a aprovação de projetos no Congresso. É um comportamento histórico do centrão. Mas, se a popularidade do presidente voltar a crescer, os veremos colocando Lula no colo, como fizeram com o ex-presidente Jair Bolsonaro quando ele despontou em 2018”, analisa.
PL da anistia paralisa debates e expõe projeto autoritário
Niccoli criticou ainda a tramitação do Projeto de Lei (PL) da anistia, que classificou como exemplo de “paralisia decisória” no Congresso. “A Câmara evita discutir temas mais importantes em nome de uma causa muito particular. Qual é a urgência em se votar anistia? Para que Bolsonaro participe das eleições no próximo ano? Para que, com Lula sendo reeleito, haja novas tentativas de golpe que passem impunes?”, questiona.
Segundo ele, “boa parte do Congresso é bolsonarista e mostra que não tem nenhum compromisso com a democracia, com valores institucionais. A única preocupação é salvar a si mesmo e promover um regime antidemocrático.”
Nesse cenário, o presidente da Câmara, Hugo Motta, evita pautar a urgência do projeto, um compromisso assumido com o PT e outras bancadas. Embora apadrinhado pelo antecessor Arthur Lira, Motta tem buscado equilibrar suas alianças, atento à necessidade de manter apoio tanto da base governista quanto de setores de centro. “Ele tem a calculadora na mão. Sabe que vai precisar do apoio do PT e de Lula, que é um cabo eleitoral fortíssimo, para garantir sua reeleição e de aliados”, observa Niccoli.
2026 no horizonte: Lula segue favorito, mas sem sucessor à altura
Apesar de movimentações e especulações, Lula ainda é, segundo pesquisas, o nome com maior chance de vitória em 2026. Para Niccoli, a força do presidente vem de sua trajetória e da confiança que grande parte da população ainda deposita em sua figura. “Mesmo com os desafios de comunicação do governo, quando Lula fala, o impacto é imediato. Seu carisma e o legado dos programas sociais seguem muito presentes”.
O cientista político destaca, no entanto, que a esquerda precisa começar a estruturar alternativas com relevância nacional. “Hoje, Lula é maior do que o PT. Ainda não surgiu um nome que tenha o mesmo peso para 2030.” O mesmo acontece com Bolsonaro, que segue inelegível: a direita não tem outro líder com o mesmo carisma na oposição.
Para ouvir e assistir
O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.