Mulheres no comando: número de lares chefiados pelo sexo feminino aumentou mais de 55% em Bauru, aponta IBGE


Dados do Censo 2022 mostraram que 68.781 domicílios da cidade são liderados por mulheres, o que corresponde a quase 25 mil lares a mais do que em 2010. A posição de chefia, entretanto, carrega desafios. Número de mulheres no comando do lar aumentou mais de 50% em Bauru em 12 anos
TV TEM/ Reprodução
O número de domicílios chefiados por mulheres aumentou 56,10% em 12 anos em Bauru, segundo o Censo 2022. Os dados, divulgados pelo IBGE, apontaram que 68.781 domicílios tinham uma mulher como chefe na maior cidade do centro-oeste paulista em 2022, enquanto que, em 2010, a quantidade era de 44.060.
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Com quase 25 mil domicílios a mais com mulheres na posição de chefia, o percentual de lares liderados pelo sexo feminino em Bauru, em relação ao total, passou de 40,08% para 49,06% na comparação de 2010 com 2022. O percentual de lares comandados por homens, por sua vez, caiu quase 9%. No entanto, eles seguem sendo maioria na cidade.
A liderança feminina mais presente nos lares de Bauru não é uma realidade só da cidade. No país, o percentual de domicílios com uma mulher no comando também cresceu. Uma análise feita pelo g1 mostrou que, pela primeira vez, há mais mulheres na posição de chefe de família das casas brasileiras do que como esposa do responsável.
Segundo a economista do Departamento Intersindical de Estatísticas de Estudos Socioeconômicos (Dieese), Lucia Garcia, especialista em mercado de trabalho e pesquisas socioeconômicas, a mudança na composição dos domicílios, com mais mulheres na posição de liderança, começou a partir da década de 90, período determinante para a entrada do sexo feminino no mercado de trabalho.
“Com isso, houve um aumento das vozes femininas tanto no campo da produção quanto no campo da política. O que estamos vendo agora é um desdobramento dessa trajetória de longo prazo. Temos, então, uma mulher com renda e autonomia econômica. Em segundo lugar, temos o envelhecimento da população brasileira que também é muito relevante, já que as mulheres costumam viver mais, enquanto os homens morrem mais rapidamente. E, além disso, há uma mudança de valores na sociedade, que também se reflete aqui. Todos os movimentos reunidos vão acabar desaguando em uma presença maior das mulheres na sociedade e na chefia dos domicílios”, explica.
Comando desafiador
Pela 1ª vez, Censo mostra que mulheres comandam mais lares no Brasil
O aumento no número de casas lideradas por mulheres, no entanto, vem carregado de desafios. A análise dos dados do Censo aponta que, entre as composições familiares listadas pelo IBGE, a mais comum nos lares chefiados pelo sexo feminino em Bauru é de uma mulher vivendo com seus filhos ou enteados, sem a presença de cônjuge. Segundo o levantamento, cerca de 18 mil domicílios da cidade se enquadram nesse arranjo familiar
Entre os lares bauruenses com mães solo está o de Antônia Gomes da Silva, de 53 anos. Com quatro filhos, a mulher se desdobrou entre vários empregos durante a vida toda para criar as crianças e sustentar o próprio lar. Chegou a se casar com o pai dos meninos, mas, ainda durante esse período, era ela quem se esforçava para pagar as contas.
Hoje, com os dois filhos mais velhos criados, Antônia continua na luta. É com o suor das faxinas e do trabalho noturno como cuidadora de idosos que consegue investir nos estudos da filha de 15 anos e manter vivo o sonho do terceiro filho, que cursa Direito na USP de Ribeirão Preto. São quase 36 horas longe de casa trabalhando, o que não é fácil.
Antônio se divide entre a jornada em dois trabalhos e os cuidados com a casa para dar conta de todos os gastos
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“ Minha rotina é assim. Eu venho pouco em casa. Fico dois dias fora de casa e uma noite. Eu tiro força dos meus filhos. A razão da minha vida são meus filhos. Mas não é fácil. Fisicamente eu não canso, mas mentalmente sim. É muita responsabilidade em cima de mim. Fisicamente eu tomo um banho, durmo 20 minutos e estou pronta pra outra, mas mentalmente não.”
Ser chefe da família também é uma posição desafiadora para Juliana Bettenucci da Silva, que é cabeleireira. Mãe de três filhos, a mulher assumiu o comando do lar sozinha depois de três relacionamentos frustrados.
A necessidade de trabalhar para cuidar da família e o fato de não ter com quem deixar os filhos durante o trabalho, fizeram com que Juliana abandonasse os empregos anteriores e abrisse um salão de beleza dentro da própria casa. A forma encontrada para conciliar todas as obrigações, no entanto, preocupa em certos momentos, já que, como autônoma, não possui uma garantia de renda.
“Eu tenho um filho adolescente e uma menininha de 3 anos que moram comigo, que eu preciso cuidar. Então a gente fica sempre insegura. Fica preocupada se vai ter cliente suficiente, se vai ganhar suficiente para bancar tudo. Porque tem aluguel, água, luz, internet, que é hoje indispensável, compras de mercado. Tudo está mais caro do que costumávamos. Então não é fácil.”
Juliana montou o salão de beleza em casa para poder cuidar dos filhos (mulheres comando bauru)
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A existência de uma creche com horário de funcionamento similar ao do trabalho da Juliana já ajudaria a vida da cabeleireira, porque teria um local seguro para deixar a criança de 3 anos.
Pensando nisso, a economista do Dieese explica que com o aumento da participação na sociedade, é necessário que a mulher passe também a se conscientizar sobre o cenário social e político da onde mora, justamente para escolher representantes que, de fato, a representem, que pensem em políticas públicas voltadas a elas.
“O fato de ter protagonismo te traz também uma responsabilidade do pensar no mundo. Não adianta você pensar só no bem-estar da sua família, porque o que determina o bem-estar da sua chefia domiciliar vem de fora para dentro e não de dentro para fora”, explica.
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