Terra enfrenta “crise climática irreversível”, alerta especialista

Seca histórica causa impacto na vida dos moradores do Amazonas ADRIANO GAMBARINI/WWF-BRASIL

O mundo tem observado eventos climáticos extremos nos últimos anos. Esses fenômenos têm causado uma série de problemas, impactos no cotidiano e na vida das pessoas. No Brasil, está sendo cada vez mais comum dias com registro históricos de temperaturas.

Em 2024, a população da cidade de São Paulo viveu o segundo setembro mais quente já registrado em 81 anos, alcançando 36,7ºC, segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia. O recorde atual é de 37,1°C, no registrado em setembro de 2023.

No mês seguinte, a região metropolitana sofreu com fortes chuvas, além de um vendaval histórico. A tempestade tirou a vida de pessoas e deixou boa parte das casas e comércios sem luz.

As mudanças climáticas provocadas pelo ser humano são temas que têm preocupado entidades em todo mundo. Um dos eventos que discutem a questão do clima é a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29), que está sendo realizada no Azerbaijão

O Prof. Dr. Maurício Cetra, ecologista da Universidade de São Carlos (UFSCAR) em Sorocaba, comenta que chegamos a um estado de não reversão desses eventos.

“Na minha opinião, não podemos fazer mais nada para evitar a crise climática, ela é uma realidade e temos que aprender a viver com essa nova situação. Isso não quer dizer que não podemos propor atitudes”, comenta.

Além do estado de São Paulo, as fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul e as secas que aconteceram na região norte do Brasil também mostraram efeitos desses eventos climáticos.

Especialistas explicam que secas e chuvas fortes sempre aconteceram ao redor do mundo, o grande problema é que esses eventos estão cada vez mais frequentes e cada vez mais fortes.

Eventos climáticos ao redor do mundo

Assim como o Brasil, outras partes do mundo também estão sentindo os efeitos das mudanças climáticas. Recentemente, parte do deserto na Arábia Saudita foi coberto com neve. Em outros pontos do Saara apareceram poças de água após chuvas intensas.

A chegada do furacão Milton nos Estados Unidos e as fortes chuvas que atingiram a Espanha são mais dos muitos exemplos que mostram como as mudanças climáticas podem alterar a vida da população local.

Além do transtorno, os eventos podem colocar em risco a vida da população. O  presidente da COP29, Mukhtar Babayev, ressaltou a importância do apoio global para resolver problemas envolvendo as questões do clima e começou a negociação para que destravem os financiamentos para viabilizar as ações de enfrentamento às mudanças climáticas.

“Precisamos urgentemente resolver as nossas diferenças sobre contribuidores e quantidade e definir o novo objetivo. Estas negociações são complexas e difíceis. Compreendemos as restrições políticas e financeiras. Esses números podem parecer grandes, mas não são nada comparados ao custo da inação. Estamos todos juntos nisso”, disse Mukhtar Babayev.

Aquecimento global

O aquecimento global é um dos principais culpados desses fenômenos. O evento causa o aumento dos gases de efeito estufa, que ajudam a aquecer a Terra. O acúmulo desses elementos na atmosfera terrestre provoca um aumento considerável na temperatura.   

Entre esses gases, o CO2 (gás carbônico) é o mais comum. Esse tipo de elemento é liberado após a queima de combustíveis fósseis, como carvão e petróleo.

Com a atmosfera mais quente, quando os ventos frios dos polos se encontram com o ar quente, a tendência é que provoque grandes tempestades e furacões.

Segundo a pesquisa Sustentabilidade & Opinião Pública da Confederação Nacional da Indústria (CNI), 91% dos brasileiros têm percebido os efeitos das mudanças climáticas nos últimos anos e estão preocupados com o aquecimento global. 

Segundo o levantamento de 2023, 55% dos entrevistados consideram ruim ou péssimo a conservação do meio ambiente no país. Entre os temas que mais preocupam a população, o desmatamento aparece em primeiro lugar, com 30%, na frente de combate ao aquecimento global e mudanças climáticas (27%).

Dados do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal divulgados em novembro mostram que a taxa de desmatamento da Amazônia para o ano 2024 foi de 6.288 km², uma queda de 30,6% em comparação ao período anterior. 

Já no Cerrado, a redução foi de 25,7%. Apesar dos bons números, o desmatamento ainda preocupa os especialistas. Os números se referem ao período entre agosto de 2023 e julho de 2024.

Há como evitar as mudanças climáticas?

Nesse mês de novembro, o Brasil anunciou uma nova meta de redução de gases de efeito estufa para 2035. A proposta irá compor a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), prevista no Acordo de Paris. 

O governo brasileiro pretende implementar ações para que o país emita entre 850 milhões e 1,05 bilhão de toneladas de gás carbônico. Caso isso aconteça, seria um corte de 59% a 67% das emissões em relação aos níveis de 2005.

Algumas organizações da sociedade civil criticaram a proposta, já que se esperava uma meta mais ambiciosa e precisa. 

Entidades internacionais alertam para uma mudança imediata das emissões de gases. Uma análise das organizações da sociedade civil mostra que a nova meta climática do Brasil não é o suficiente para atender o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). A ideia da instituição é manter a média de aquecimento da temperatura global em 1,5ºC.

O professor Cetra comenta que mesmo considerando irreversível conviver com as mudanças climáticas, é possível tomar algumas medidas para diminuir os impactos no meio ambiente. O ecólogo cita um trecho do seu artigo “Taxonomic and functional diversity patterns of stream fish assemblages from Brazilian Atlantic Rain Forest”, no qual explica algumas dessas ações.

“Em um momento histórico com fatores de escala espacial que avançam em um contexto incontrolável (por exemplo, mudanças climáticas, macroeconomia e guerra), o tomador de decisão pode adotar algumas medidas locais, como a proteção de riachos de alta qualidade, considerando a bacia hidrográfica”, afirma.

O professor também explica que a observação dos peixes é algo para ser levado em consideração nas mudanças climáticas. Para ele, é necessário a manutenção da biodiversidade, o que “pode exigir a conservação de grande parte ou de toda a bacia hidrográfica”.

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