A uma semana do Enem, veja como foi preparação de estudantes do RS

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) vai acontecer nos dias 3 e 10 de novembro, no qual cerca de 4 milhões de estudantes vão realizar a prova. Do total das inscrições, 279.028 são do Rio Grande Sul. Além do desafio do exame em si, os alunos do estado gaúcho enfrentaram a maior crise ambiental e climática na região dos últimos anos.

Segundo dados da secretaria de educação do Rio Grande do Sul, as enchentes afetaram diretamente 400 mil estudantes, dos 740 mil da rede estadual. Mesmo com os alunos prejudicados, o estado registrou uma marca histórica, tendo o maior percentual de inscritos em uma edição do Enem na rede pública de ensino.

Ao todo, 86% dos concluintes do terceiro ano do ensino médio realizarão as provas. O resultado superou o recorde anterior, de 2013, que era de 83% de participação. Em relação a 2023, ano em que a porcentagem foi de 34%, o crescimento no engajamento dos estudantes foi de 52 pontos.

A cidade de São Leopoldo, um dos municípios mais castigados pelas enchentes, é onde Manuela Sipp, 19 anos, vive com a família. Durante as enchentes, a estudante precisou passar dois meses na casa de uma tia em Pontão — a cerca de 300 km de São Leopoldo. Ainda indecisa sobre qual curso seguir na faculdade, Manuela disse que vai prestar o Enem sem conseguir ter visto todos os conteúdos da prova.

A estudante de São Leopoldo lembra que após voltar para casa demorou muito para se reorganizar e voltar aos estudos. Manuela acredita que todos os inscritos do Rio Grande do Sul, até mesmo aqueles que não tiveram sua casa atingida, vão sofrer as consequências da enchente.

“Ser vestibulando hoje em dia já é muito difícil por si só, somando com os acontecimentos da enchente, causa uma grande pressão psicológica, e ainda fazer a prova e concorrer com pessoas que se prepararam o ano todo sem interrupções ou problemas”, analisou Manuela.

Persistência

No Enem deste ano, os participantes do Rio Grande do Sul receberam isenção da taxa de inscrição. Das 279.028 inscrições, 152.940 são de participantes que já terminaram o ensino médio. Além disso, outras 52.208 inscrições são de estudantes do 1º ou 2º ano e 3.464, de pessoas que não cursam nem completaram o ensino médio, mas farão o exame como “treineiros”.

Com o sonho de cursar arquitetura e urbanismo, Lara Mota, 17 anos, está no último ano do ensino médio e viu sua residência ficar inundada durante as enchentes. No início do colapso, a estudante de Eldorado do Sul teve que dormir no telhado de casa em uma barraca para esperar o dia raiar para ela e a família serem resgatadas e levadas para Porto Alegre.

A estudante recorda que a casa onde ficou após o resgate tinha os recursos necessários para continuar os estudos,  porém Lara não tinha cabeça para focar na prova. “Era só a preocupação de quando poderia voltar para casa e organizar tudo. Fui muito difícil voltar, tanto com a escola quanto por conta própria, pois, querendo ou não, estava muito afetada com tudo o que tinha acontecido e ainda estava acontecendo, então não conseguia manter o foco por completo”, diz Lara.

Nos últimos dois meses, Lara assinou uma plataforma de estudos on-line para impulsionar os estudos na reta final, visando “recuperar” o tempo perdido. “Com certeza, acredito que nenhum de nós teve o mesmo tempo para se preparar que os jovens de outros estados, mesmo que alguns estejam se esforçando nesse tempo de restauração”, conta.

Apoio

A Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul realizou ações para ajudar os estudantes no estudo para o Enem, disponibilizando materiais didáticos, oferecendo aulas on-line e caravanas presenciais em diversas regiões do estado. Moradora de Eldorado do Sul, Sarah Gomes foi uma das que usufruíram das ferramentas oferecidas pelo estado. Ela destaca o esforço dos professores. “Inclusive, quero agradecer a todos que estão envolvidos nesta causa. Hoje, os professores não recebem o valor que merecem (infelizmente), porém saibam que vocês são muito importantes em nossa sociedade! Obrigada pela preocupação conosco”, afirma.

Sarah quer cursar administração e esteve entre os milhares de gaúchos que tiveram que sair de suas casas. Sarah conseguiu ficar em um lugar seguro, todavia, não conseguiu estudar da forma correta e não ter constante acesso à internet. “Ficamos dois meses sem aula e, quando retornamos para nossas aulas (não para a escola em si, pois foi severamente atingida), era uma aula na semana, e cada semana um componente diferente. (…) Está questão varia de estudante para estudante, pois existem alunos que se preparam há anos, e acredito que todo esforço não será em vão, mas de certa forma fomos prejudicados sim”, frisa.

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