‘Dinheiro esquecido’ vira investimento e até cervejinha: o que clientes fizeram com valores encontrados em bancos


Ainda há R$ 8,56 bilhões disponíveis para saques por pessoas físicas e jurídicas até o próximo dia 16 de outubro. O que não for resgatado será incorporado ao Tesouro Nacional. Veja como sacar. Dinheiro, real, economia, salário mínimo, pagamento, PIB, reais, auxílio, notas, dívidas, contas, endividamento
Natalia Filippin/g1
O chamado “dinheiro esquecido” pegou muita de gente de surpresa. Segundo o último balanço do Banco Central do Brasil (BC), mais de 20 milhões de pessoas já resgataram algum valor deixado para trás em bancos, consórcios ou outras instituições financeiras.
Ainda há, contudo, outros R$ 8,56 bilhões disponíveis para saques por pessoas físicas e jurídicas. Agora há um prazo para retirada, até o próximo dia 16 de outubro — prazo estipulado antes que os valores sejam incorporados ao Tesouro Nacional. (entenda mais abaixo)
LEIA TAMBÉM
‘Dinheiro esquecido’: veja como consultar e sacar os valores
Quase 1 milhão de pessoas têm mais de R$ 1 mil para receber
Veja como resgatar valores de falecidos
Maior saque de pessoa física foi de R$ 2,8 milhões; veja ranking
Conforme mostrou o g1, o assunto “dinheiro esquecido” já teve de tudo: da decepção de resgatar só R$ 0,10 à boa surpresa de encontrar quase R$ 3 mil deixados em instituições financeiras.
É o caso do carioca Pedro Delforge, que descobriu R$ 2.948,33 em uma conta antiga após acessar o Sistema Valores a Receber (SVR) do BC, ferramenta que permite consultar se pessoas físicas, inclusive falecidas, e empresas possuem algum recurso a ser resgatado.
“Entrei no sistema por desencargo de consciência. Achei que tivesse uns 10 centavos, mas tinha R$ 3 mil”, afirmou, no ano passado, ao g1.
O carioca Pedro Delforge, de 26 anos, se surpreendeu ao saber que tinha quase R$ 3 mil ‘esquecidos’.
Reprodução
O jovem de 27 anos disse que o valor estava parado no banco. “Eu não tinha ideia de onde era esse dinheiro. Perguntei para a minha mãe. Ela acha que era de uma poupança que ela fez para mim no Bradesco, que pagava até os meus 21 anos.”
Agora, mais de um ano após o resgate, ele confirmou ao g1 que não mudou os planos e usou o dinheiro como pretendia: aplicando em investimentos.
“Basicamente, não mexi no dinheiro. Continua investido, dividido em um CDB [Certificado de Depósito Bancário], ações e fundos imobiliários. Procuro não gastar dinheiro extra quando aparece assim, ‘do nada'”, brincou.
Pedro também disse que o assunto virou piada entre os amigos. “Brincaram dizendo que quem ‘esquece’ R$ 3 mil é porque não precisa.”
“Eu separo parte da minha renda mensal para investimentos, e tenho isso como prioridade. O objetivo maior é conseguir me aposentar cedo. Antes dos 50, se possível”, disse.
‘A solução é comprar cerveja, né?’
O designer gráfico Vinícius Mauro ao checar o valor a ser resgatado
Sérgio Leite/TV Globo
O designer e artista plástico Vinícius Mauro chegou a pensar em planos ambiciosos quando descobriu que tinha dinheiro esquecido no SVR. Mas levou um banho de água fria: tinha só R$ 27,76 para sacar.
“Eu queria investir nos estudos, fazer um mestrado, uma pós. Mas esse dinheiro mal dá para comprar um caderno”, contou ao g1 em março do ano passado.
À época, ele disse que a solução seria, então, “comprar umas duas cervejas”.
Em nova entrevista ao g1, Vinícius relembrou a data e disse que “foi bem baixo astral saber que não tinha nem R$ 30”.
“O dinheiro juntou com uma quantia que eu já tinha na conta e, se eu não comprei duas cervejas, comprei um drink, que era o que dava”, disse.
Em tom de brincadeira, o jovem também reclamou da alta nos preços. “Estou finalizando minha segunda graduação em artes plásticas, e R$ 27 não pagam nem o pincel na lojinha da faculdade. Hoje, talvez nem duas cervejas dê para comprar”, concluiu.
‘Troquinho? Sempre bem-vindo’
Empresário de Tubarão Michel Sent
Michel Lopes Del Sent/Arquivo pessoal
O empresário Michel Lopes Del Sent comemorou quando encontrou R$ 170 no SVR do Banco Central: “Um troquinho sempre é bem-vindo”.
“Foram dois saques, um do CPF e outro do CNPJ. O valor do CPF é de R$ 72 e alguns centavos, e o outro, de R$ 100 do CPNJ”, resumiu, à época.
Assim que descobriu os valores, o catarinense definiu o destino da cifra: investir em criptomoeda. Ele não só confirmou o uso do dinheiro como relatou novos ganhos. “Apliquei em Bitcoin. Acho que, com a alta da moeda, o valor deve ter triplicado.”
De lá para cá, Del Sent também teve novas surpresas. Além dos R$ 170, outros valores esquecidos apareceram no SVR para resgate.
“Verifiquei novamente depois de alguns meses e vi novos valores. Somando tudo, tive R$ 1,8 mil recuperados. Boa parte veio de financiamentos, já que eu antecipava parcelas”, disse. “Mas foi uma surpresa. Não esperava que a financeira iria me dar uma gorjeta”, brincou.
Clientes têm até 16 de outubro para sacar
g1 em 1 minuto: ‘Dinheiro esquecido’: quase 1 milhão de pessoas têm mais de R$ 1 mil para receber
Os clientes com “dinheiro esquecido” no Sistema de Valores a Receber (SVR) têm até o dia 16 de outubro para sacar os valores. (veja mais abaixo como fazer)
O prazo de 30 dias para resgate começou a valer em 16 de setembro, quando o presidente Lula (PT) sancionou a Lei nº 14.973/2024, que trata da reoneração gradual da folha de pagamentos de 17 setores da economia e de municípios até o fim de 2024.
O projeto, que já havia sido aprovado pelo Congresso Nacional, estabelece que o dinheiro esquecido não resgatado por pessoas físicas e jurídicas poderá ser incorporado pelo Tesouro Nacional.
Em nota enviada ao g1, o Ministério da Fazenda explicou que, além dos 30 dias para resgate após publicação da lei, os clientes terão 30 dias para contestar o recolhimento dos recursos pelo Tesouro, a contar da data de publicação de edital pela pasta.
“Apenas após o término desse segundo prazo, e caso não haja manifestação daqueles que tenham direito sobre os depósitos, os valores serão incorporados ao Tesouro Nacional”, disse o Ministério.
A Fazenda também reforçou que, ainda assim, os interessados terão um prazo de seis meses para requerer judicialmente o reconhecimento de seu direito aos depósitos.
“Logo, não há que se falar em confisco”, afirmou.
Caso não haja contestação do recolhimento, os valores serão, então, incorporados de forma definitiva como receita orçamentária primária, continuou a pasta, destacando que os recursos serão considerados para fins de verificação do cumprimento da meta de resultado primário.
Ainda segundo o Ministério da Fazenda, a medida encontra precedentes no sistema jurídico brasileiro.
Como consultar o dinheiro esquecido
O único site no qual é possível fazer a consulta e saber como solicitar a devolução dos valores para pessoas jurídicas ou físicas, incluindo falecidas, é o https://valoresareceber.bcb.gov.br.
Via sistema do Banco Central, os valores só serão liberados para aqueles que fornecerem uma chave PIX para a devolução.
Caso não tenha uma chave cadastrada, é preciso entrar em contato com a instituição para combinar a forma de recebimento. Outra opção é criar uma chave e retornar ao sistema para fazer a solicitação.
No caso de valores a receber de pessoas falecidas, é preciso ser herdeiro, testamentário, inventariante ou representante legal para consultá-los. Também é necessário preencher um termo de responsabilidade.
Após a consulta, é preciso entrar em contato com as instituições nas quais há valores a receber e verificar os procedimentos.
Dicas para não cair em golpes
A primeira dica do Banco Central para não cair em golpes é não clicar em links suspeitos enviados por e-mail, SMS, WhatsApp ou Telegram.
A instituição informa que não envia links, nem entra em contato com ninguém para tratar sobre valores a receber ou para confirmar dados pessoais.
“Somente a instituição que aparece na consulta aos valores a receber que pode contatar seu cliente, principalmente no caso de pedido de resgate de valores sem indicar uma chave PIX. Mas ela nunca irá pedir os dados pessoais ou sua senha”, diz o BC.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.