Candidatura única: como é fazer campanha eleitoral sem concorrentes

Debates acirrados, disputa pelo melhor espaço nas ruas para fazer um bandeiraço, material de campanha sendo produzido dia e noite. Os elementos comuns a toda campanha eleitoral se repetem na quase totalidade das cidades, mas estão um pouco diferentes nos municípios catarinenses com candidatura única na disputa pelo cargo de prefeito.

O ND Mais conversou com os cinco candidatos para entender em que medida essas campanhas se distinguem de uma eleição convencional. Apesar de reconhecerem que vivem uma situação atípica, eles garantem que procuram encarar a eleição como uma disputa normal.

Iraceminha é um dos cinco municípios com candidatura única a prefeito em SC

Roberto Foresti (à dir.) é candidato único à Prefeitura de Iraceminha, com apoio do atual prefeito, Jean Carlos Nyland (à esq.) – Foto: Reprodução redes sociais/ND

“A campanha é um pouco diferente das duas que já tivemos, com disputa, mas a essência é a mesma. Estamos focados em escutar a população. A gente visita o povo, casa por casa, os comércios, dialogando, escutando, colhendo ideias para dar sequência nos próximos quatro anos”, afirma Roberto Foresti (PL), candidato único a prefeito de Iraceminha, no Oeste catarinense, em coligação com o MDB.

Para o candidato, atual vice-prefeito da cidade, o desafio é eleger o maior número possível de vereadores entre os partidos que o apoiam.

“Temos nove cadeiras. Se conseguirmos eleger os nove, melhor. Estão todos os vereadores trabalhando muito, dentro da legalidade, para não termos eventuais problemas”, conta Foresti.

Igualdade de tratamento resultou em candidatura única

Paulo Deitos (à esq.), candidato em Peritiba, que tem Nestor Boll como vice, garantiu que candidatura única resultou de tratamento igual para situação e oposição – Foto: Reprodução redes sociais/ND

O prefeito de Peritiba, Paulo Deitos (PL) – que concorre à reeleição em chapa formada também por MDB e a Federação PSDB/Cidadania – credita a candidatura única à igualdade de tratamento que a prefeitura, segundo ele, sempre teve com oposição e situação.

“A gente fez um trabalho sem olhar em nenhum momento para a questão política, atendendo todos os munícipes da mesma forma, tendo uma equipe boa, que se esforça, na saúde, na educação, nos serviços municipais”, diz o prefeito e candidato.

A harmonia entre os dois lados, de acordo com ele, se reflete na relação com a oposição na Câmara de Vereadores do município, localizado no Meio-Oeste catarinense.

“Nunca tivemos problema. A gente era minoria, mas não teve problema em aprovar projetos bons para o município”, comemora.

“A gente está indo sozinho, mas com apoio de muitas pessoas que ajudam, porque sozinho ninguém vai a lugar nenhum. Então todos os partidos ajudam na captação de recursos”, explica Deitos.

Segundo ele, apesar da aparente tranquilidade da candidatura única, a situação não autoriza ninguém a descuidar da opinião popular.

“Estamos fazendo uma campanha normal, pedindo apoio a todos. Não é por uma questão de candidatura única que a gente não depende do apoio da população”, alerta.

Em Meleiro, oposição sequer tem candidato a vereador

Anderson Scardueli (à esq.), candidato único a prefeito de Meleiro, no Sul do Estado, garante estar vivendo “período eleitoral normal” – Foto: Divulgação/ND

A candidatura única para prefeito em Meleiro, no Sul do Estado, tem uma característica um pouco diferente das outras cidades na mesma situação. É que a oposição no município decidiu também ficar de fora da corrida pelas nove cadeiras da Câmara de Vereadores.

A disputa ficou reservada às quatro siglas que dão suporte à candidatura do vereador Anderson Scardueli – o PL, partido do candidato, PP (sigla do vice), MDB e PSD.

“Cada um poderia lançar até dez candidatos, mas lançou seis”, conta Scardueli, que já foi o vereador mais votado em 2020 e hoje conta com o apoio do atual prefeito, Eder Mattos (PL).

Scardueli garante que a situação da candidatura única aumenta a responsabilidade e o compromisso e explica que a construção da chapa é resultado de muita conversa entre os quatro partidos da coligação. Segundo ele, até a oposição, formada por PSDB e PDT, foi chamada para compor o que chama de “chapão único”, indicando o nome do vice.

“A gente convidou para fazer um chapão único pensando no município. Quanto mais deputados, mais recursos, e quem cresce é o município. A gente quis unir todo mundo para ver primeiro o município”, explica.

No entanto, a articulação – que repetiria o que ocorreu em 2000, quando a cidade também teve apenas um candidato a prefeito – não evoluiu.

Scardueli garante estar “vivendo um período eleitoral normal”, cuidando ao máximo para não ter nada errado.

“Vamos casa por casa, entregando plano de governo, olhando olho no olho, e escutando também. Como é um município pequeno, quero escutar da boca do eleitor o que ele acha da atual administração, o que espera da próxima e também alguma reclamação, para estar ciente de como está a saúde, a educação”, finaliza.

Ouro volta a ter candidatura única após 48 anos

Em cima da carroceria, Claudir Duarte, o Dire, faz campanha casa a casa mesmo sendo candidato único a prefeito de Ouro, no Meio-Oeste – Foto: Divulgação/ND

A última vez em que Ouro, no Meio-Oeste, só teve um candidato a prefeito tinha sido há 48 anos. Mas, em 2024, o prefeito busca a reeleição sem precisar enfrentar concorrentes. Claudir Duarte (PL), o Dire, tem apoio do PP, partido do candidato a vice, e da Federação PSD/Cidadania.

“Se torna uma campanha mais informativa, de prestar contas do mandato que passou e o planejamento para o próximo mandato. Estamos muito felizes, acho que a população entendeu nossa proposta, nosso jeito de administrar, de fazer política pública”, diz o prefeito.

Para ele, a candidatura única é uma resposta aos anseios da cidade. “A população queria que a coligação continuasse e se concretizou”, avalia.

Dire Duarte incentiva as pessoas a votar pois, na visão dele, isso trará “nova energia para o próximo mandato”. Além disso, tenta atrair votos para os 26 candidatos a vereador dos partidos que o apoiam. As siglas que não estão na coligação somam 13 candidatos à Câmara Municipal.

“A gente sabe que é uma eleição encaminhada, mas é importante. Estamos fazendo campanha de casa a casa, pedindo voto para impulsionar os nossos vereadores.”

Ainda que não tenha adversários para se preocupar, o candidato único permanece atento para não correr riscos.

“Mesmo sem adversário, é preciso tomar muito cuidado para não cometer nenhuma irregularidade. A Justiça Eleitoral tem regras a serem cumpridas e a gente precisa manter isso, o respeito pela Justiça, e fazer as coisas dentro da legalidade”, afirma.

Segundo Dire Duarte, por não haver disputa na majoritária, o custo da campanha não é o mesmo.

“Tem uma estrutura jurídica, de contabilidade por causa das prestações de contas. O custo se torna um pouco menor, mas a estrutura é a mesma. Fazendo campanha precisa desse aparato e acarreta gastos”, explica o candidato.

Planalto Alegre vai eleger o filho do primeiro prefeito

Evandro Bet (à dir.), candidato único em Planalto Alegre, Oeste catarinense, segue os passos do pai, Romeo Bet (centro), primeiro prefeito da cidade – Foto: Reprodução redes sociais/ND

Eleição com candidato único a prefeito não é novidade em Planalto Alegre, no Oeste catarinense. Após uma disputa bastante acirrada em 2012, os ânimos foram pacificados, o que resultou na vitória sem concorrentes de Juares Bet em 2016. Quatro anos depois, o então vice-prefeito, Sadi Felippi, venceu o prefeito, que tentava a reeleição. Em 2024, quem está na vez é o ex-vereador Evandro Bet (PSD).

Depois de ser o mais votado em 2012 e 2016 para a Câmara Municipal, Evandro Bet apoiou Sadi em 2020. Por discordar da decisão do então prefeito de concorrer à reeleição, Evandro ficou de fora da disputa.

Agora, perto de completar 50 anos e com a experiência de um biênio como presidente da Câmara (2013-14) e de ter participado ativamente das negociações que levaram à candidatura única de 2016, Evandro Bet se prepara para assumir o Executivo municipal, repetindo o que fez o pai dele, Romeo Bet, o primeiro prefeito de Planalto Alegre (1993-1996).

“Nesta eleição os partidos da situação apontaram meu nome para o pleito. Depois de várias tratativas, decidimos abrir o vice para a oposição, montando novamente uma configuração para que a candidatura única acontecesse”, conta o candidato.

A vaga de vice-prefeito coube a Rodrigo Seidel (União Brasil), numa coligação que ainda reúne PP, MDB, PT, PC do B e PV.

Evandro Bet vê várias vantagens na candidatura única. “A eleição é bem tranquila, sem divisão da sociedade, sem brigas, tendo um clima harmonioso. Desenrola de maneira natural”, garante.

Segundo o candidato, este tipo de eleição custa bem menos do que as outras.

“Com relação à eleição, é bem mais econômica, pois a estrutura montada é enxuta e de colaboração dos envolvidos. O custo maior é burocrático, com contador, jurídico e propaganda”, explica.

“A campanha é desenvolvida em cima de propostas, sem promessas de emprego e outros vícios que existem em uma disputa, principalmente nesses municípios pequenos”, completa o futuro prefeito de Planalto Alegre.

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