Novo gigante do petróleo, Suriname vai às urnas para escolher governo neste domingo

Neste domingo (25), quase 400 mil surinameses vão às urnas para renovar a Assembleia Nacional, o parlamento unicameral de 51 cadeiras que definirá os rumos políticos do país pelos próximos cinco anos. De acordo com o sistema político do Suriname, após as eleições, será a própria Assembleia que entrará em acordo para eleger o novo presidente nas semanas seguintes.

Com uma população de aproximadamente 600 mil habitantes, o Suriname é o menor país da América do Sul. Antiga colônia holandesa, conquistou sua independência apenas em 1975. É o único país da região cujo idioma oficial é o holandês.

Apesar da baixa densidade populacional e do pequeno território, o Suriname possui uma notável diversidade étnica, incluindo descendentes de indianos, indonésios, chineses, africanos, holandeses e comunidades indígenas. Essa diversidade resultou em um sistema político complexo e fragmentado, fortemente influenciado pela filiação partidária étnica.

O pleito ocorre em um momento decisivo para o Suriname, podendo representar um marco histórico para o país. São as primeiras eleições desde a confirmação da descoberta de vastas reservas de petróleo em águas profundas, a cerca de 150 quilômetros da costa. Com um volume estimado em mais de 750 milhões de barris recuperáveis, essa descoberta tem o potencial de transformar a pequena nação sul-americana em um novo protagonista no mercado global de energia.

Atualmente, o Suriname está se preparando para iniciar a exploração desses recursos por meio de sua empresa estatal de energia, a Staatsolie. A expectativa é que a produção e exportação de petróleo e gás offshore comecem em 2028. O desenvolvimento será conduzido pela TotalEnergies, que será a operadora do campo GranMoru, localizado em águas profundas, com uma capacidade projetada de 220 mil barris por dia.

Em um processo semelhante, a vizinha Guiana está passando por seu próprio “milagre econômico”. Essa ex-colônia britânica, com uma população de pouco mais de 820 mil habitantes, foi por décadas o segundo país mais pobre da América do Sul. No entanto, desde a descoberta de petróleo em 2015, o país vem registrando um crescimento econômico acelerado. Somente em 2024, seu produto interno bruto teve um aumento de 43,6%.

Cenário eleitoral

Quatorze partidos disputam as eleições no Suriname. Entre as principais forças políticas está o Partido Reformista Progressista (VHP), liderado pelo atual presidente Chan Santokhi, que poderá buscar um novo mandato. Também se destaca o Partido de Libertação Geral e Desenvolvimento (ABOP), integrante do governo atual e ocupante da vice-presidência da República.

Na oposição, uma das principais siglas é o Partido Democrático Nacional (NDP), fundado pelo ex-presidente Desi Bouterse, recentemente falecido — ele governou o país de fato entre 1980 e 1987 e, posteriormente, exerceu a presidência constitucional entre 2010 e 2020. A principal liderança do partido atualmente é Jennifer Simons, médica e ex-presidente da Assembleia Nacional durante o governo constitucional de Bouterse.

O governo de Santokhi tem sido marcado pela adoção de medidas de austeridade e pelo aumento de impostos, exigidos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) como parte do processo de reestruturação da dívida externa do país.

Na tentativa de recuperar apoio popular, o presidente Chan Santokhi centrou a campanha do VHP no lançamento do programa “Royalties para Todos”, que promete um bônus de US$ 750 para cada cidadão, a ser financiado com as futuras receitas da exploração de petróleo.

Por outro lado, a oposição buscou capitalizar o descontentamento social, focando sua campanha em propostas voltadas para maior transparência, estabilidade econômica e descentralização do poder. Nos últimos dias, em meio a um clima de crescente tensão política, Jennifer Simons acusou o partido governista de preparar uma fraude eleitoral, citando casos de “compra de votos, desistências suspeitas de candidatos e desorganização” como evidências.

Um futuro com repercussões internacionais

Tudo indica que nenhum partido alcançará maioria absoluta, o que exigirá que a sigla com mais cadeiras no parlamento negocie uma coalizão com partidos menores — um processo que pode se estender por semanas.

O novo governo terá pela frente um cenário político desafiador. Apesar das expectativas de crescimento econômico atreladas à futura produção e exportação de petróleo e gás, o país enfrenta uma situação interna delicada.

O Suriname convive com uma inflação elevada e uma taxa de pobreza que atinge quase uma em cada cinco pessoas. A dívida pública representa cerca de 79% do Produto Interno Bruto, e o FMI tem exercido forte influência sobre a política econômica, impondo condições rigorosas.

Nos últimos meses, o país também enfrentou uma escalada na violência. Em 2024, o número de homicídios cresceu 382%, enquanto os crimes cometidos com armas de fogo aumentaram 123%. Esses índices alarmantes estão ligados ao avanço da economia ilícita e ao agravamento das desigualdades sociais.

No cenário internacional, especialmente por conta de seu potencial como novo protagonista no mercado global de energia, o Suriname deve atrair um interesse crescente de potências como os Estados Unidos.

A empresa petrolífera estatal Staatsolie ainda não concedeu licenças para 60% dos blocos onde se presume a existência de petróleo, o que tem colocado o país no centro das atenções do cenário geopolítico.

No final de março, como parte de sua turnê pela região, o chefe do Departamento de Estado dos EUA, Marco Rubio, visitou o Suriname e participou de uma coletiva de imprensa ao lado do presidente Chan Santokhi. Na ocasião, Rubio insistiu com sua retórica sobre a crescente presença da China no país, que classificou como “uma ameaça”.

O Suriname abriga uma numerosa comunidade de origem chinesa e mantém laços estreitos com a República Popular da China, relação que se aprofundou durante o mandato de Dési Bouterse (2010–2020). Estima-se que a China já tenha investido pelo menos 776 milhões de dólares no país, incluindo importantes projetos de infraestrutura em telecomunicações. Em abril de 2018, o Suriname tornou-se um dos primeiros países da América Latina a aderir à Iniciativa do Cinturão e Rota.

Apesar de ser um país pequeno, essas eleições no Suriname prometem ter um impacto internacional.

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