Caso de ‘talaricagem’ dentro de facção criminosa vai a julgamento em Santa Catarina

Caso de talaricagem em facção de SC remete ao jargão ‘talarico’, isto é, um homem que se relaciona com a companheira de outro – Foto: Reprodução/ND

Um caso de “talaricagem” dentro de uma facção criminosa catarinense será julgado pelo Tribunal de Júri em Palhoça, na Grande Florianópolis, nestas quinta (22) e sexta-feira (23). O julgamento está marcado para começar às 9h em ambos os dias.

Segundo a denúncia do MPSC (Ministério Público de Santa Catarina), quatro homens estão envolvidos no homicídio de um “talarico” que fazia parte da organização criminosa PGC (Primeiro Grupo Catarinense).

No jargão popular, “talarico” é um homem que se relaciona com a companheira de outro. A denúncia aponta que os acusados teriam matado um membro da própria facção com disparos de arma de fogo após descobrirem que a vítima mantinha relacionamento amoroso com a ex-namorada de outro integrante da facção. O caso aconteceu em 25 de dezembro de 2020, dia de Natal, no bairro Jardim Eldorado, em Palhoça.

Caso de talaricagem em facção de Santa Catarina terminou em assassinato de integrante

Conforme a investigação da Polícia Civil, a mulher manteve, por dois anos, um relacionamento amoroso com Rafael Hack, vulgo “Amaral”, membro do PGC. Enquanto namoravam, ela descobriu que Rafael a traía com sua ex e, por isso, decidiu terminar a relação, solicitando à facção aval para deixar de visitar Rafael no presídio.

Aproximadamente sete meses após o término do relacionamento com Rafael, ela passou a se relacionar com Wederson Benitz, vulgo “Fuzil”, outro integrante do PGC, que também estava preso e seria amigo de infância de Rafael.

Segundo a denúncia do MP, Rafael não aceitou e reivindicou à cúpula do PGC a morte do casal, alegando “talaricagem” — o que é proibido pelas regras da organização.

A mulher, então, teria novamente procurado a cúpula da facção para evitar represália, mas duas lideranças — Geovane Niches (o “Bomba”) e Gustavo Salum (o “Dancinha”), que estavam presos — expediram um “decreto” pela morte de Wederson. A denúncia não aponta para uma ordem de execução da mulher.

No dia 25 de dezembro de 2020, após cerca de um ano do envolvimento amoroso de Wederson com a mulher, Gustavo Jacinto (o “Maquinista”), que estava em liberdade, chamou Wederson, recém-saído da prisão, para fazer uma ronda no Jardim Eldorado, onde moravam, sob alegação de que membros de uma facção rival estariam ameaçando o território.

A investigação, liderada na época pela delegada Raquel Freire, aponta que, após a ronda, ambos foram até a casa de Wederson. Ali, Gustavo, certificado de que Wederson estava desarmado, disparou várias vezes e o matou, cumprindo a ordem recebida pelo “decreto”. Segundo a polícia, uma outra pessoa, encapuzada, também teria atirado.

Caso de talaricagem em facção de SC vai a júri na Comarca de Palhoça

Caso de talaricagem em facção de SC vai a júri na Comarca de Palhoça – Foto: Cristiano Estrela / NCI TJSC/ND

O que dizem as defesas dos réus

Rafael Hack

Em nota ao ND Mais, o advogado Fabiano Zoldan afirma que Rafael não teve qualquer participação no assassinato.

“Já havíamos demonstrado isso ao juiz da primeira fase que acatou a nossa tese, mas um recurso do MP ao Tribunal fez com que o Rafael fosse enviado ao júri popular. Amanhã, mais uma vez, demonstraremos sua inocência.”

Gustavo Jacinto

Em contato com o ND Mais, advogado Matheus Menna preferiu não se pronunciar e relatou que irá se manifestar sobre o caso somente nos autos do processo.

Gustavo Salum

A banca de defesa de Gustavo Salum, composta pelos advogados Milene Pasquali, Douglas Rocha e Roberto Ekuni, informou ao ND Mais que “demonstrará de forma clara e objetiva que o acusado não possui qualquer vínculo com o fato delituoso julgado”.

“As teses defensivas serão devidamente apresentadas no momento processual oportuno, em plenário, com o compromisso ético de colaborar para o alcance da verdade real”, afirmam os advogados.

Geovane Niches

A reportagem do ND Mais procurou a defesa de Geovane, mas não obteve retorno até o fechamento desta reportagem. O espaço segue aberto.

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