{"id":814,"date":"2025-02-01T08:17:38","date_gmt":"2025-02-01T11:17:38","guid":{"rendered":"https:\/\/agencia1.jornalfloripa.com.br\/agencia1\/814"},"modified":"2025-02-01T08:17:38","modified_gmt":"2025-02-01T11:17:38","slug":"de-oculos-leitor-a-maquete-tatil-como-unicamp-evoluiu-para-ampliar-acesso-de-estudantes-cegos-a-pesquisas","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/agencia1.jornalfloripa.com.br\/agencia1\/814","title":{"rendered":"De ‘\u00f3culos leitor’ a maquete t\u00e1til: como Unicamp evoluiu para ampliar acesso de estudantes cegos a pesquisas"},"content":{"rendered":"

Primeiro vestibular com cotas para pessoas com defici\u00eancia (PCDs) na universidade teve a lista de aprovados na semana passada. De \u00f3culos leitor a maquete t\u00e1til: projetos feitos na Unicamp ajudam deficientes visuais
\nPela primeira vez na hist\u00f3ria, a Unicamp reservou vagas de gradua\u00e7\u00e3o para estudantes com defici\u00eancia. A a\u00e7\u00e3o inclusiva, que foi implantada no processo seletivo de 2025, acompanha outras iniciativas que buscam tornar a pesquisa mais acess\u00edvel a PCDs.
\n\u00d3culos que transformam texto em \u00e1udio, placas de circuitos com recursos t\u00e1teis e sonoros, al\u00e9m de maquetes que podem ser tocadas s\u00e3o parte das ferramentas produzidas na Unicamp para permitir que estudantes com defici\u00eancia visual possam desenvolver pesquisas.
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\nApesar do avan\u00e7o, professores e alunos cegos apontam a necessidade de melhorias estruturais nos campi da universidade (leia mais abaixo).
\nDe \u00f3culos leitor a maquete t\u00e1til: como Unicamp busca aproximar a pesquisa de estudantes com defici\u00eancia
\nMontagem\/g1
\nEletr\u00f4nica, c\u00e1lculos e programa\u00e7\u00e3o
\nUm dos exemplos de iniciativas ligadas \u00e0 pesquisa foi criada pelo engenheiro el\u00e9trico Giordano Arantes, que desenvolveu uma placa de circuitos com dispositivo t\u00e1til e sonoro no in\u00edcio do doutorado.
\nA ideia surgiu ap\u00f3s uma faculdade entrar em contato com o orientador de Arantes, Luiz Cesar Martini – que j\u00e1 atuava com pesquisas na \u00e1rea da acessibilidade – e informar a dificuldade em incluir alunos com defici\u00eancia visual nos cursos de engenharia.
\n\u201cOs alunos entram num curso de engenharia e na hora de aprender programa\u00e7\u00e3o e mexer com os circuitos el\u00e9tricos, esse aluno fica impossibilitado de ser ativo nessas disciplinas, pois essas disciplinas exigem \u00e9 atividade pr\u00e1tica e eles viram s\u00f3 ouvintes\u201d
\nO orientador n\u00e3o tinha nada relacionado \u00e0 \u00e1rea de el\u00e9trica e eletr\u00f4nica, mas o doutorando assumiu o desafio e criou um prot\u00f3tipo com tr\u00eas itens:
\nMult\u00edmetro falante, \u00e9 um dispositivo que serve para medir tens\u00e3o, corrente el\u00e9trica e valor de um resistor, mas adaptado com acessibilidade t\u00e1til e valores em \u00e1udio, onde o usu\u00e1rio consegue escutar os valores que est\u00e3o sendo medidos.
\nProtoboard com acessibilidade t\u00e1til, \u00e9 uma placa que serve para efetuar testes de circuitos el\u00e9tricos com diferentes tipos de dispositivos eletr\u00f4nicos.
\nUma segunda protoboard com acessibilidade t\u00e1til, mas com sensores program\u00e1veis utilizados em conjunto com um aplicativo e permite ao aluno cego aprender a programar sem a necessidade de uma linguagem de programa\u00e7\u00e3o.
\nArantes contou que a placa foi criada com uma impressora 3D e testada com o pr\u00f3prio orientador, que \u00e9 uma pessoa cega, e \u201cmuito f\u00e3 da parte de el\u00e9trica e eletr\u00f4nica e programa\u00e7\u00e3o\u201d. O custo de cada placa fica em aproximadamente R$ 600 e podem ser feitos em qualquer lugar.
\nO orientador tamb\u00e9m j\u00e1 produziu alguns prot\u00f3tipos como calculadoras que fazem opera\u00e7\u00f5es complexas como integrais e matrizes que s\u00e3o muito utilizados na engenharia, e por meio de um software que desenvolveu, torna acess\u00edvel para pessoas com defici\u00eancia visual. Atualmente a dupla desenvolve aplicativos para garantir acesso ao YouTube e a intelig\u00eancias artificiais.
\n\u201cUma empresa t\u00e3o grande como a Google n\u00e3o tem nada que permita acessibilidade para pessoas com defici\u00eancia visual acessarem as suas ferramentas\u201d.
\nPlaca de circuitos com dispositivo t\u00e1til e sonoro criado na Unicamp que ajuda alunos com defici\u00eancia visual
\nGiordano Arantes\/arquivo pessoal
\nLaborat\u00f3rio de Acessibilidade
\nNascido em um projeto de pesquisa em 2002, o Laborat\u00f3rio de Acessibilidade ligado \u00e0 Biblioteca Central (BC) \u00e9 outro exemplo na Unicamp. O espa\u00e7o conta com recursos e ferramentas para alunos cegos e com baixa vis\u00e3o.
\nMichele Lebre de Marco, bibliotec\u00e1ria respons\u00e1vel pelo local, conta que a ideia nasceu em um projeto de pesquisa de um grupo de professores, mas com o tempo tornou-se parte de um departamento na universidade.
\n“N\u00f3s atendemos pessoas cegas, com baixa vis\u00e3o ou com qualquer outro tipo de defici\u00eancia que cause dificuldade para que a pessoa utilize o texto impresso com autonomia. Nosso prop\u00f3sito \u00e9 justamente garantir que essas pessoas tenham o direito de realizar os estudos e as pesquisas com maior grau de autonomia poss\u00edvel”, informou.
\nDesta forma, Marco explica que o Laborat\u00f3rio oferece servi\u00e7os para a comunidade interna com adapta\u00e7\u00e3o de livros e artigos para formatos acess\u00edveis a pessoas com defici\u00eancia com transcri\u00e7\u00e3o para \u00e1udio de textos, imagens, tabelas e gr\u00e1ficos.
\nOutra iniciativa \u00e9 no vestibular, com o fornecimento da adapta\u00e7\u00e3o em \u00e1udio das obras de leitura obrigat\u00f3ria nos vestibulares da Unicamp aos candidatos que declararem defici\u00eancia visual no ato da inscri\u00e7\u00e3o.
\nAl\u00e9m disso, o laborat\u00f3rio possui equipamentos e softwares que visam oferecer autonomia \u00e0s pessoas com defici\u00eancia atrav\u00e9s da tecnologia. E dentre os aparelhos, ela destacou o \u201c\u00f3culos de vis\u00e3o artificial\u201d.
\n\u201cEle tem uma c\u00e2mera acoplada com sistema de escaneamento que faz a leitura em voz dos livros. A pessoa com defici\u00eancia coloca esse \u00f3culos, posiciona o livro e ele, atrav\u00e9s do escaneamento feito em segundos, l\u00ea o livro para a pessoa. Isso permite que as pessoas cegas ou com baixa vis\u00e3o possam acessar esses materiais impressos com autonomia.\u201d
\n\u00d3culos leitor possui c\u00e2mera acoplada com sistema de escaneamento que faz a leitura em voz dos livros na biblioteca da Unicamp.
\nLaborat\u00f3rio de Acessibilidade do SBU
\nMaquetes t\u00e1teis
\nOutra iniciativa que visa melhorar a acessibilidade de pessoas com defici\u00eancia visual na Unicamp vem do Laborat\u00f3rio de Pesquisa Aplicada em Acessibilidade Arquitet\u00f4nica e Urbana (Lapa), ligado \u00e0 prefeitura do campus.
\nCriado em maio de 2024, o laborat\u00f3rio desenvolve projetos como o \u201cPara Todos Verem\u201d, cujo objetivo \u00e9 melhorar a acessibilidade dos edif\u00edcios. Dentre eles as maquetes t\u00e1teis s\u00e3o os mais adiantados segundo a mestre em Engenharia Civil Edilene Teresinha Donadon.
\n\u201cAs maquetes s\u00e3o feitas no computador e impressas na impressora 3d com filamento PLA. Testamos com funcion\u00e1rios e professores com defici\u00eancia visual e os resultados foram surpreendentes\u201d
\nEla contou que um prot\u00f3tipo da maquete foi testado com um funcion\u00e1rio que trabalha na Unicamp h\u00e1 22 anos e ele se emocionou ao tatear o objeto e \u201ccompreender finalmente o desenho das ruas desse lugar que ele j\u00e1 detinha muitas percep\u00e7\u00f5es\u201d
\nOutro projeto em desenvolvimento \u00e9 o ‘Guia Vidente’ que faz uma audiodescri\u00e7\u00e3o do bairro entorno do campus, evidenciando as ruas, avenidas e principais refer\u00eancias urbanas.
\n\u201cFazemos este trajeto com um ve\u00edculo el\u00e9trico que atende pessoas com defici\u00eancia (VAMUS) at\u00e9 o edif\u00edcio que o aluno ou professor cego deseja chegar, nele, descrevemos o percurso, localiza\u00e7\u00e3o de sanit\u00e1rios, bebedouros e assim proporcionamos autonomia.\u201d
\nRicardo Antunes Barbosa montando a maquete do Cecom.
\nEdilene Teresinha Donadon\/arquivo pessoal
\nAcesso \u00e0 pesquisa e dificuldades estruturais
\nOs alunos e pesquisadores entrevistados comentaram que iniciativas como o “Vamos”, um ve\u00edculo de mobilidade interna, o Laborat\u00f3rio de Acessibilidade da Biblioteca Central, eventos com audiodescri\u00e7\u00e3o, cotas para PCDs nos vestibulares e editais futuros para docentes, s\u00e3o diferenciais na universidade.
\nAnderson Ferreira Souza de Oliveira, estudante de Matem\u00e1tica Aplicada e Computacional, ressalta que o suporte da universidade \u00e9 essencial. “Isso me d\u00e1 seguran\u00e7a para me desenvolver”, conta.
\nApesar dos avan\u00e7os, os desafios enfrentados por pessoas com defici\u00eancia visual ainda s\u00e3o grandes dentro da universidade, aponta parte dos entrevistados.
\nAndr\u00e9 Kaysel, professor do Departamento de Ci\u00eancia Pol\u00edtica, perdeu a vis\u00e3o aos 22 anos e leciona na Unicamp desde 2017. Segundo ele, ainda h\u00e1 a necessidade de a Unicamp se preparar para garantir mobilidade aos alunos.
\n\u201cFalar sobre acessibilidade \u00e0 pesquisa n\u00e3o se resume apenas a instrumentos, mas no preparo dos pr\u00e9dios do campus de forma estrutural com instala\u00e7\u00e3o de piso t\u00e1til, rampas e elevadores\u201d.
\nAmauri Donadon Leal Junior, estudante de doutorado em Ci\u00eancias Farmac\u00eauticas, explica na pr\u00e1tica como esse problema se d\u00e1. “\u00c0s vezes \u00e9 meio complicado aquelas cal\u00e7adas que t\u00eam relevos muito \u00edngremes ou que n\u00e3o s\u00e3o lisas. Para quem usa bengala de deficiente visual, voc\u00ea vai tateando ali com a bengala. \u00c9 complicado pois enrosca bastante”.
\nIsabele Robles tamb\u00e9m lembra que parte do desafio \u00e9 tornar mais conhecida as iniciativas da Unicamp e que elas tenham a participa\u00e7\u00e3o de pessoas com defici\u00eancia que realmente saibam as dificuldades
\n\u201cNosso lema de luta enquanto pessoas com defici\u00eancia \u00e9 \u2018nada sobre n\u00f3s, sem n\u00f3s\u2019 ent\u00e3o a presen\u00e7a de pessoas com defici\u00eancia nesses espa\u00e7os deliberativos \u00e9 muito importante para tornar isso mais inclusivo e de fato mais representativo. \u00c0s vezes a pessoa sem defici\u00eancias, n\u00e3o v\u00e3o entender t\u00e3o bem como \u00e9 a nossa viv\u00eancia ou n\u00e3o v\u00e3o ter um olhar que n\u00e3o seja t\u00e3o tecnicista. Porque a gente precisa de um olhar mais emp\u00e1tico. E a\u00ed \u00e0s vezes a viv\u00eancia de outras pessoas com defici\u00eancia nesses espa\u00e7os \u00e9 fundamental para a gente conseguir ter esses esse olhar um pouco diferente\u201d, conclui.
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