L\u00eamure bailarino que vive na ilha de Madagascar, o sifaka-de-Coquerel inspirou o famoso personagem da TV. L\u00eamure end\u00eamico de Madagascar \u00e9 a esp\u00e9cie por tr\u00e1s do personagem Zoboomafoo
\nsamhyderoberts\/iNaturalist
\nSe voc\u00ea cresceu assistindo ao programa Zoboomafoo, certamente se lembra do personagem principal: um l\u00eamure carism\u00e1tico que saltava e dan\u00e7ava ao lado dos irm\u00e3os Kratt. O que pouca gente sabe \u00e9 que ele era, na verdade, um sifaka-de-Coquerel (Propithecus coquereli), um primata end\u00eamico de Madagascar, conhecido por seus incr\u00edveis saltos entre as \u00e1rvores e sua maneira peculiar de se locomover no solo, um comportamento que lhe rendeu o apelido de “bailarino da floresta”.
\nA s\u00e9rie infantil Zoboomafoo foi uma produ\u00e7\u00e3o estadunidense-canadense exibida originalmente pela rede de televis\u00e3o Public Broadcasting Service (PBS), entre 1999 e 2001, com um total de 65 epis\u00f3dios. Criada pelos irm\u00e3os Chris e Martin Kratt, o programa apresentava o l\u00eamure Zoboomafoo, que encantava as crian\u00e7as ao falar sobre animais e a biodiversidade de maneira divertida e educativa.
\nNa s\u00e9rie, o personagem era representado de duas formas: em live-action, por um l\u00eamure real chamado Jovian, e, em algumas cenas, por um boneco manipulado e dublado pelo artista Gord Robertson. Jovian viveu no Duke Lemur Center, na Carolina do Norte, onde faleceu em 10 de novembro de 2014, aos 20 anos de idade.
\nMartin Kratt, Chris Kratt e Zoboomafoo compunham o elenco principal do seriado de TV
\nReprodu\u00e7\u00e3o\/PBS
\nNo Brasil, o programa foi exibido inicialmente entre julho de 2005 e junho de 2006. Ap\u00f3s um per\u00edodo fora do ar, voltou \u00e0 programa\u00e7\u00e3o em maio de 2008, mas foi retirado novamente em abril de 2009, sendo essa a \u00faltima vez que foi transmitido em TV aberta no pa\u00eds. Apesar disso, a s\u00e9rie permanece na mem\u00f3ria afetiva de muitas pessoas.
\n\u201cZoboomafoo foi muito importante para que as crian\u00e7as conhecessem o sifaka. O programa foi bastante popular no Brasil e em outros pa\u00edses onde foi exibido. Hoje, se algu\u00e9m posta a foto de um sifaka, as pessoas que viveram essa \u00e9poca logo se lembram de Zoboomafoo\u201d, diz o bi\u00f3logo Andrews Nunes.
\nA esp\u00e9cie
\nEmbora Zoboomafoo tenha deixado saudades, o verdadeiro sifaka-de-Coquerel continua a fascinar cientistas e amantes da natureza. Muito al\u00e9m do personagem da TV, esse l\u00eamure possui caracter\u00edsticas \u00fanicas e enfrenta desafios que amea\u00e7am sua sobreviv\u00eancia.
\nEm seu habitat natural, especificamente na regi\u00e3o de Sofia, o sifaka-de-Coquerel vive em florestas tropicais, al\u00e9m de florestas tropicais e subtropicais \u00famidas, e se destaca por sua impressionante capacidade de locomo\u00e7\u00e3o.
\n\u201cOs sifakas possuem uma locomo\u00e7\u00e3o bastante caracter\u00edstica, tanto no solo quanto nas \u00e1rvores. No ch\u00e3o, eles se movem de maneira peculiar, deslocando-se eretos sobre as patas traseiras enquanto balan\u00e7am os bra\u00e7os para manter o equil\u00edbrio. Esse modo de andar, que lembra passos de dan\u00e7a, lhes rendeu o apelido de \u2018l\u00eamures bailarinos\u2019\u201d, explica Andrews Nunes.
\nO sifaka-de-Coquerel vive em florestas tropicais, al\u00e9m de florestas tropicais e subtropicais \u00famidas
\nDavid Bree\/iNaturalist
\nDe acordo com o bi\u00f3logo, como suas patas dianteiras s\u00e3o curtas e pouco adaptadas para caminhar, essa postura se tornou a forma mais eficiente de locomo\u00e7\u00e3o terrestre para a esp\u00e9cie. J\u00e1 em ambiente arb\u00f3reo, os sifakas utilizam um m\u00e9todo chamado “salta\u00e7\u00e3o”, impulsionando-se com as poderosas patas traseiras para saltar entre os galhos.
\n\u201cCom essa t\u00e9cnica, eles conseguem percorrer dist\u00e2ncias de mais de 6 metros em um \u00fanico salto, garantindo agilidade e efici\u00eancia na movimenta\u00e7\u00e3o entre as \u00e1rvores. Esse estilo de locomo\u00e7\u00e3o \u00e9 uma adapta\u00e7\u00e3o essencial para sua sobreviv\u00eancia em habitats florestais\u201d, diz Andrews.
\nOs sifakas vivem em grupos de 3 a 10 indiv\u00edduos, sendo as f\u00eameas dominantes sobre os machos, o que lhes d\u00e1 acesso preferencial \u00e0 comida e \u00e0 escolha do parceiro. Esses l\u00eamures se alimentam de folhas novas, cascas, flores e frutos na esta\u00e7\u00e3o chuvosa, enquanto na esta\u00e7\u00e3o seca consomem folhas e brotos maduros.
\nA esp\u00e9cie possui um sistema de comunica\u00e7\u00e3o complexo, utilizando diferentes sinais sonoros, visuais e olfativos para interagir com seu grupo. O pr\u00f3prio nome “sifaka” tem origem na l\u00edngua malgaxe e faz refer\u00eancia ao som caracter\u00edstico emitido por esses l\u00eamures. Esse chamado, descrito como “shif-auk”, ocorre em duas partes: um rosnado grave, que vibra na garganta, enquanto a segunda se assemelha a um estalo, parecido com um solu\u00e7o amplificado.
\nAl\u00e9m desse som peculiar, o sifaka tamb\u00e9m emite um alerta espec\u00edfico, o “shih-fak”, usado para avisar seus companheiros sobre a presen\u00e7a de predadores terrestres. Esse chamado tamb\u00e9m pode servir para afastar intrusos e refor\u00e7ar a defesa do territ\u00f3rio, j\u00e1 que a esp\u00e9cie \u00e9 altamente territorial e mant\u00e9m hierarquias bem definidas dentro do grupo.
\nA principal causa do decl\u00ednio populacional da esp\u00e9cie \u00e9 a substitui\u00e7\u00e3o de seu habitat por pastagens para gado
\nCarmelo L\u00f3pez Abad\/iNaturalist
\nLonge das telas, essa esp\u00e9cie ic\u00f4nica luta contra o desmatamento e a degrada\u00e7\u00e3o de seu habitat. A principal causa desse decl\u00ednio \u00e9 a substitui\u00e7\u00e3o de seu habitat por pastagens para gado, resultante de queimadas intencionais e do desmatamento para extra\u00e7\u00e3o de madeira. Atualmente, o sifaka-de-Coquerel \u00e9 categorizado como \u201cEm Perigo Cr\u00edtico\u201d (CR) pela Lista Vermelha de Esp\u00e9cies Amea\u00e7adas da IUCN.
\n\u201cO sifaka-de-Coquerel enfrenta ataques de diversos predadores. Entre as amea\u00e7as vindas do alto est\u00e3o falc\u00f5es e outras aves de rapina, enquanto no solo h\u00e1 o perigo representado por cobras e outros predadores terrestres\u201d, informa Andrews.
\nParalelo a isso, predadores introduzidos, como c\u00e3es selvagens, gatos africanos e europeus, mangustos e civetas, tamb\u00e9m contribuem para os riscos que a esp\u00e9cie enfrenta. No entanto, segundo o bi\u00f3logo, os humanos representam a maior amea\u00e7a. Os sifakas passaram a enxergar as pessoas como um perigo e alertam seus companheiros sempre que percebem a aproxima\u00e7\u00e3o humana.
\nA degrada\u00e7\u00e3o do habitat em Madagascar tem impactado significativamente o sifaka-de-Coquerel, reduzindo sua popula\u00e7\u00e3o pela metade ao longo das \u00faltimas tr\u00eas gera\u00e7\u00f5es. Infelizmente, a esp\u00e9cie \u00e9 encontrada apenas na Reserva Natural de Ankarafantsika e na Reserva Especial de Bora
\nDiante do cen\u00e1rio preocupante, esfor\u00e7os de conserva\u00e7\u00e3o t\u00eam sido essenciais para tentar reverter o decl\u00ednio da popula\u00e7\u00e3o desse primata. Institui\u00e7\u00f5es como o Duke Lemur Center, onde viveu Jovian \u2013 o Zoboomafoo da vida real \u2013, desenvolvem pesquisas e programas de reprodu\u00e7\u00e3o em cativeiro para garantir que a esp\u00e9cie tenha uma chance de sobreviv\u00eancia no futuro.
\nEmbora Zoboomafoo tenha sido apenas um personagem de TV, seu legado continua vivo. Para muitos, o programa foi a primeira porta de entrada para o fasc\u00ednio pelo reino animal, e hoje, o verdadeiro sifaka-de-Coquerel precisa dessa mesma aten\u00e7\u00e3o para garantir que suas acrobacias e saltos encantem n\u00e3o apenas os espectadores do passado, mas tamb\u00e9m as futuras gera\u00e7\u00f5es.
\n*Texto sob supervis\u00e3o de Lizzy Martins
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