{"id":51287,"date":"2025-04-06T05:18:33","date_gmt":"2025-04-06T08:18:33","guid":{"rendered":"https:\/\/agencia1.jornalfloripa.com.br\/agencia1\/51287"},"modified":"2025-04-06T05:18:33","modified_gmt":"2025-04-06T08:18:33","slug":"comunidade-corre-contra-o-tempo-para-salvar-macacos-cercados-por-desmatamento-e-usina-em-mt","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/agencia1.jornalfloripa.com.br\/agencia1\/51287","title":{"rendered":"Comunidade corre contra o tempo para salvar macacos cercados por desmatamento e usina em MT"},"content":{"rendered":"

Esp\u00e9cie conhecida como zogue-zogue s\u00f3 existe no norte do Mato Grosso e foi catalogada como um dos 25 primatas mais amea\u00e7ados do planeta. Macacos zogue-zogue s\u00e3o vistos em um galho de \u00e1rvore em uma pequena encosta de uma fazenda na Gleba Mercedes, munic\u00edpio de Sinop (MT).
\nPablo Porci\u00fancula\/AFP
\nEm uma manh\u00e3 de 2024, Armando Schlindwein encontrou no telhado de sua casa um dos cinco macacos que vivem no terreno da sua fazenda. Ele nunca tinha visto os animais se aventurarem al\u00e9m das \u00e1rvores.
\nEmbora esse pequeno agricultor n\u00e3o soubesse, o macaco tentava sobreviver. Preso entre o desmatamento e a eleva\u00e7\u00e3o do n\u00edvel da \u00e1gua causada por uma hidrel\u00e9trica vizinha, o animal tentava romper o cerco em torno da sua fam\u00edlia de zogue-zogues, uma das esp\u00e9cies mais amea\u00e7adas do mundo.
\nEm uma corrida contra o tempo, Schlindwein e outros moradores lan\u00e7aram no ano passado um projeto de reflorestamento, para que os animais consigam migrar para outras \u00e1reas com \u00e1rvores.
\n “N\u00e3o adianta tirar fotos: precisamos de um trabalho cotidiano para preserv\u00e1-los”, diz Schlindwein, 62.
\nRestam poucos milhares desses primatas (“Plecturocebus grovesi”), mais leves do que gatos e de barba alaranjada, que existem apenas no norte do Mato Grosso.
\nQuatro adultos e uma cria de zogue-zogue vivem na propriedade de Schlindwein, no assentamento rural Gleba Mercedes, localizado no munic\u00edpio de Sinop. Eles est\u00e3o isolados em uma \u00e1rea menor do que quatro campos de futebol, em uma regi\u00e3o conhecida como “arco do desmatamento”, a mais afetada no Brasil pelo plantio de soja e outras monoculturas do agroneg\u00f3cio.
\n‘Presos’<\/p>\n

Schlindwein encontrou os macacos pela primeira vez em 2020, intrigado com seus uivos territoriais. “Agora, eu me acostumei a acordar com a vocaliza\u00e7\u00e3o deles. Para mim, s\u00e3o como galos”, diz.
\nEm 2022, o zogue-zogue foi catalogado como um dos 25 primatas mais amea\u00e7ados do planeta, segundo a publica\u00e7\u00e3o cient\u00edfica internacional Primatas em Perigo. A esp\u00e9cie j\u00e1 perdeu mais de 40% do seu habitat devido ao desmatamento no Brasil, apontam estudos ambientais.
\nSe nada mudar, 80% desses animais ter\u00e3o desaparecido em duas d\u00e9cadas. “Quando os filhos nascem e precisam migrar para continuar o ciclo de reprodu\u00e7\u00e3o, n\u00e3o t\u00eam para onde ir”, explica Gustavo Rodrigues Canale, primatologista da Universidade Federal do Mato Grosso. “A a\u00e7\u00e3o humana os deixa presos em pequenos fragmentos florestais.”
\nCom o apoio de organiza\u00e7\u00f5es ambientais, como o Instituto Ec\u00f3tono e o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAR), a comunidade local plantou no ano passado sementes de 47 esp\u00e9cies nativas em um hectare desmatado pr\u00f3ximo ao terreno, para que a nova floresta conecte os macacos a outras \u00e1reas verdes. A expectativa \u00e9 que, daqui a cinco ou sete anos, a vegeta\u00e7\u00e3o plantada tenha crescido at\u00e9 triplicar o espa\u00e7o dispon\u00edvel para a fam\u00edlia zogue-zogue.
\n”N\u00e3o podem atravessar’
\nO desmatamento, por\u00e9m, n\u00e3o \u00e9 a \u00fanica amea\u00e7a. Do outro lado do terreno, os cinco macacos tamb\u00e9m se veem isolados pela eleva\u00e7\u00e3o da \u00e1gua causada pela barragem de uma usina hidrel\u00e9trica, criticada por moradores.
\n“Antes, havia um riacho com \u00e1rvores, mas a atividade da UHE Sinop, que faz parte de um complexo de quatro usinas, gerou um grande lago, que os macacos n\u00e3o conseguem atravessar”, explica Anthony Luiz, porta-voz do MAR, ao lado de uma superf\u00edcie de \u00e1gua de 300 metros entre as duas margens.
\n“Al\u00e9m disso, a empresa cumpriu apenas 30% da supress\u00e3o vegetal obrigat\u00f3ria antes de operar, e as \u00e1rvores que deixou apodrecendo debaixo d’\u00e1gua matam os peixes”, acrescenta Luiz.
\nAnthony Luiz procura por macacos zogue-zogue na Gleba Mercedes; uma fam\u00edlia de cinco macacos zogue-zogue (Plecturocebus bernhardi) luta para sobreviver, encurralada entre o desmatamento e a inunda\u00e7\u00e3o da floresta causada por uma usina hidrel\u00e9trica que moradores locais denunciam como prejudicial.
\nPablo Porci\u00fancula\/AFP
\nA Sinop Energia, empresa que opera a UHE Sinop, afirmou \u00e0 AFP que a usina cumpre “todas as exig\u00eancias legais e ambientais”, e que, “para garantir a estabilidade do ecossistema, mant\u00e9m um monitoramento permanente da qualidade da \u00e1gua, da fauna aqu\u00e1tica e terrestre e da regenera\u00e7\u00e3o vegetal na \u00e1rea de influ\u00eancia do reservat\u00f3rio”.
\nPropriedade da EDF Brasil e da Eletrobras, a Sinop Energia informou que em 2020, ap\u00f3s o in\u00edcio da opera\u00e7\u00e3o da usina, iniciou “o Programa de Monitoramento de Primatas Amea\u00e7ados, que est\u00e1 em total conformidade com a legisla\u00e7\u00e3o ambiental e \u00e9 acompanhado regularmente pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente”.
\nVista a\u00e9rea da pequena floresta onde vive uma fam\u00edlia de macacos zogue-zogue na Gleba Mercedes.
\nPablo Porci\u00fancula\/AFP<\/p><\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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