{"id":49156,"date":"2025-04-03T10:03:12","date_gmt":"2025-04-03T13:03:12","guid":{"rendered":"https:\/\/agencia1.jornalfloripa.com.br\/agencia1\/49156"},"modified":"2025-04-03T10:03:12","modified_gmt":"2025-04-03T13:03:12","slug":"opiniao-riscos-da-sustentabilidade-da-previdencia-publica-no-seculo-21","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/agencia1.jornalfloripa.com.br\/agencia1\/49156","title":{"rendered":"Opini\u00e3o: \u201cRiscos da sustentabilidade da previd\u00eancia p\u00fablica no s\u00e9culo 21\u201d"},"content":{"rendered":"
Por Juan Schiavo<\/em><\/em><\/strong>*<\/p>\n A previd\u00eancia p\u00fablica \u00e9 uma das mais importantes conquistas sociais da era moderna, assegurando renda aos trabalhadores aposentados, inv\u00e1lidos ou a seus dependentes. No entanto, esse modelo enfrenta desafios crescentes no s\u00e9culo XXI, especialmente relacionados ao envelhecimento populacional e \u00e0 sustentabilidade fiscal. Este texto prop\u00f5e um breve panorama hist\u00f3rico da previd\u00eancia p\u00fablica no mundo, analisando suas origens, evolu\u00e7\u00e3o e os riscos atuais e futuros.<\/p>\n A previd\u00eancia social, como conhecemos hoje, tem suas ra\u00edzes na Alemanha do s\u00e9culo XIX. Em 1889, o chanceler Otto von Bismarck instituiu o primeiro sistema p\u00fablico de aposentadoria financiado pelo Estado, como parte de uma estrat\u00e9gia pol\u00edtica para conter movimentos pol\u00edticos de oposi\u00e7\u00e3o e proteger trabalhadores industriais.<\/p>\n Esse modelo inspirou diversas na\u00e7\u00f5es ao longo do s\u00e9culo XX, particularmente ap\u00f3s a Segunda Guerra Mundial, quando o Estado de bem-estar social se expandiu na Europa Ocidental. Nos Estados Unidos, o Social Security Act de 1935 marcou o in\u00edcio da previd\u00eancia p\u00fablica. Na Am\u00e9rica Latina, pa\u00edses como o Brasil adotaram sistemas contributivos a partir da d\u00e9cada de 1920, com reformas e amplia\u00e7\u00f5es ao longo das d\u00e9cadas.<\/p>\n Ap\u00f3s a devasta\u00e7\u00e3o da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), muitos pa\u00edses, especialmente na Europa Ocidental, buscaram reconstruir n\u00e3o apenas suas economias e infraestruturas, mas tamb\u00e9m o pacto social entre Estado e cidad\u00e3os. O trauma do conflito e a necessidade de garantir estabilidade pol\u00edtica e coes\u00e3o social impulsionaram a expans\u00e3o dos direitos sociais.<\/p>\n A previd\u00eancia social se expandiu rapidamente no Ocidente democr\u00e1tico nas d\u00e9cadas de 1940 a 1970. Na Am\u00e9rica Latina, especialmente entre os anos 1940 e 1970, diversos pa\u00edses ampliaram seus sistemas de previd\u00eancia com forte influ\u00eancia europeia, mas com caracter\u00edsticas distintas. Alguns adotaram modelos corporativistas, com regimes espec\u00edficos para categorias profissionais (militares, servidores p\u00fablicos, trabalhadores urbanos). Houve uma segmenta\u00e7\u00e3o dos sistemas, o que gerou desigualdades entre os benefici\u00e1rios. O financiamento muitas vezes dependia de repasses estatais, sem equil\u00edbrio atuarial, o que preparou o terreno para futuras crises de sustentabilidade.<\/p>\n Desse modo, apesar de lidarmos, muitas vezes, com o sistema previdenci\u00e1rio como se fosse uma pol\u00edtica consolidada e perene, a verdade \u00e9 que se trata de uma constru\u00e7\u00e3o relativamente jovem na trajet\u00f3ria da humanidade. Sua consolida\u00e7\u00e3o, especialmente no per\u00edodo p\u00f3s-Segunda Guerra Mundial, coincidiu com condi\u00e7\u00f5es excepcionalmente favor\u00e1veis: uma demografia expansiva, com popula\u00e7\u00f5es jovens e taxa de natalidade elevada; e um ciclo de crescimento econ\u00f4mico global impulsionado pela reconstru\u00e7\u00e3o da Europa, pela industrializa\u00e7\u00e3o e pela amplia\u00e7\u00e3o do consumo de massas. Nesse cen\u00e1rio, a sustentabilidade dos sistemas de reparti\u00e7\u00e3o parecia garantida. No entanto, esses pilares come\u00e7aram a se enfraquecer a partir das d\u00e9cadas de 1970 e 1980, quando o envelhecimento populacional e a desacelera\u00e7\u00e3o econ\u00f4mica colocaram em xeque a viabilidade de um modelo constru\u00eddo sobre bases demogr\u00e1ficas e econ\u00f4micas que j\u00e1 n\u00e3o se repetem.<\/p>\n O Desafio do Envelhecimento Populacional<\/strong><\/p>\n Os sistemas previdenci\u00e1rios p\u00fablicos foram, em sua maioria, baseados no modelo de reparti\u00e7\u00e3o simples, no qual os trabalhadores ativos financiam os benef\u00edcios dos inativos. Esse modelo pressup\u00f5e uma base populacional crescente, com muitos jovens sustentando relativamente poucos idosos.<\/p>\n Em contraste, o modelo de capitaliza\u00e7\u00e3o \u2013 no qual cada trabalhador contribui para sua pr\u00f3pria aposentadoria, acumulando recursos ao longo da vida laboral \u2013 foi adotado por alguns pa\u00edses, como o Chile na d\u00e9cada de 1980, como alternativa de sustentabilidade.<\/p>\n Com o aumento da longevidade e a queda nas taxas de natalidade, muitos pa\u00edses enfrentam um grave desequil\u00edbrio demogr\u00e1fico. A propor\u00e7\u00e3o entre trabalhadores e aposentados vem caindo, comprometendo a solv\u00eancia de sistemas baseados em reparti\u00e7\u00e3o. Na Uni\u00e3o Europeia, por exemplo, estima-se que at\u00e9 2050 haja menos de dois trabalhadores ativos por aposentado.<\/p>\n Esse cen\u00e1rio pressiona os governos a aumentarem a idade m\u00ednima de aposentadoria, reduzir benef\u00edcios ou elevar as contribui\u00e7\u00f5es \u2013 medidas impopulares, por\u00e9m cada vez mais necess\u00e1rias.<\/p>\n O Risco de Insustentabilidade Fiscal<\/strong><\/p>\n O aumento dos gastos com previd\u00eancia, somado \u00e0 estagna\u00e7\u00e3o ou queda da base contributiva, coloca em risco o equil\u00edbrio fiscal dos pa\u00edses. A previd\u00eancia passou a representar uma das maiores despesas p\u00fablicas em diversos or\u00e7amentos nacionais.<\/p>\n Se reformas n\u00e3o forem implementadas, o risco \u00e9 de colapso do sistema, com atrasos nos pagamentos ou a necessidade de cobertura via endividamento p\u00fablico, o que compromete outras \u00e1reas sociais e gera instabilidade econ\u00f4mica.<\/p>\n As reformas previdenci\u00e1rias s\u00e3o inevit\u00e1veis e, muitas vezes, dolorosas. Alguns caminhos poss\u00edveis incluem:<\/p>\n \u00c0 medida que os sistemas p\u00fablicos de previd\u00eancia enfrentam limita\u00e7\u00f5es, o papel dos investimentos privados e do planejamento patrimonial de longo prazo ganha centralidade na estrat\u00e9gia de bem-estar financeiro das fam\u00edlias. Em vez de depender exclusivamente de uma \u00fanica fonte de renda na aposentadoria, indiv\u00edduos e fam\u00edlias s\u00e3o chamados a estruturar portf\u00f3lios que combinem ativos l\u00edquidos e il\u00edquidos, geradores de renda passiva, e que considerem diferentes horizontes temporais e perfis de risco. Fundos de previd\u00eancia privada, planos PGBL e VGBL, carteiras de a\u00e7\u00f5es, fundos imobili\u00e1rios, e at\u00e9 mesmo ativos alternativos, como investimentos em empresas ou im\u00f3veis, podem compor uma reserva s\u00f3lida e diversificada para o futuro. Nesse contexto, o planejamento patrimonial deixa de ser um tema restrito a grandes fortunas e passa a ser uma necessidade para qualquer pessoa que queira envelhecer com dignidade e independ\u00eancia. Trata-se de organizar os recursos acumulados ao longo da vida de forma eficiente, considerando aspectos como sucess\u00e3o, prote\u00e7\u00e3o do patrim\u00f4nio, otimiza\u00e7\u00e3o tribut\u00e1ria e liquidez intergeracional. A integra\u00e7\u00e3o entre previd\u00eancia p\u00fablica, poupan\u00e7a privada e gest\u00e3o patrimonial se torna, portanto, um trip\u00e9 essencial para garantir seguran\u00e7a financeira em um mundo no qual a longevidade cresce, mas a previsibilidade dos sistemas estatais diminui.<\/p>\n *Artigo escrito por Juan Schiavo, economista e s\u00f3cio da CIMO Family Office<\/em><\/em><\/p>\n As opini\u00f5es transmitidas pelo colunista s\u00e3o de responsabilidade do autor e n\u00e3o refletem, necessariamente, a opini\u00e3o da BM&C News.<\/em><\/strong><\/p>\n Leia mais colunas de opini\u00e3o<\/em> aqui<\/em>.<\/em><\/p>\n Acesse o canal de v\u00eddeos da BM&C News.<\/p>\n O post Opini\u00e3o: \u201cRiscos da sustentabilidade da previd\u00eancia p\u00fablica no s\u00e9culo 21\u201d apareceu primeiro em BM&C NEWS.<\/p>\n<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Por Juan Schiavo* A previd\u00eancia p\u00fablica \u00e9 uma das mais importantes conquistas sociais da era moderna, assegurando renda aos trabalhadores aposentados, inv\u00e1lidos ou a seus dependentes. 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