Porta de entrada para o Centro Hist\u00f3rico, a Rua Chile preserva tra\u00e7os da funda\u00e7\u00e3o da capital baiana baiana, que celebra 476 anos neste s\u00e1bado (29). Rua Chile: Salvador teve a primeira rua do Brasil
\nBatizada de “Rua Chile” h\u00e1 mais de 120 anos, a primeira rua a ser fundada no Brasil foi s\u00edmbolo de riqueza e elitismo at\u00e9 meados dos anos 70. Porta de entrada para o Centro Hist\u00f3rico de Salvador, a via de cerca de 400 metros preserva tra\u00e7os hist\u00f3ricos da capital baiana, que celebra 476 anos neste s\u00e1bado (29).
\nNa Rua Chile, est\u00e3o pontos tur\u00edsticos como as Pra\u00e7as Tom\u00e9 de Souza e Castro Alves, a sorveteria Cubana – tamb\u00e9m primeira da capital baiana – uma das entradas do ic\u00f4nico Elevador Lacerda, a sede da Prefeitura de Salvador, o Pal\u00e1cio Rio Branco, al\u00e9m de hot\u00e9is de luxo como o Fera Palace e Fasano.
\nA reabertura desses hot\u00e9is, a prop\u00f3sito, ajudou a retomar o glamour da Rua Chile na \u00faltima d\u00e9cada. Com obras de recupera\u00e7\u00e3o que mantiveram as estruturas originais, os estabelecimentos se tornaram joias do patrim\u00f4nio hist\u00f3rico soteropolitano.
\nNo Palace, empreendimento que ocupa um quarteir\u00e3o inteiro e que divide a Rua Chile com as ruas do Tesouro e a da Ajuda, “as senhoras da Gra\u00e7a e da Barra exibiam os \u00faltimos modelos e algumas delas, as mais evolu\u00eddas, num requinte de desenvoltura, arriscavam fichas na roleta”, conforme escreveu Jorge Amado, fazendo refer\u00eancia a bairros nobres da cidade, ainda nos dias atuais.
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\nRua Chile, em Salvador, foi a primeira rua do Brasil
\nReprodu\u00e7\u00e3o\/TV Bahia
\nNos tempos de prest\u00edgio, al\u00e9m de Jorge Amado, o cantor brit\u00e2nico Keith Richards e o ator americano Orson Welles foram algumas das personalidades que passaram pelo local.
\nDe acordo com ele, duas das lojas de vestu\u00e1rio e departamento que se destacavam na Rua Chile eram as saudosas \u201cDuas Am\u00e9ricas\u201d e a \u201cCasa Sloper\u201d, onde a alta sociedade encontrava as \u00faltimas novidades da moda da \u00e9poca.
\n“A Rua Chile era um grande shopping a c\u00e9u aberto, que tinha grandes lojas de roupa de marca e de moda. Era o local onde se encontrava tudo de mais moderno do Brasil e no mundo, os artigos de luxo”, disse o professor de Hist\u00f3ria da Bahia, Murilo Melo.
\nRua Chile, em Salvador, foi fundada em 1549
\nReprodu\u00e7\u00e3o\/TV Bahia
\nOutros estabelecimentos, como a loja \u201cAdamastor\u201d \u2013 que pertencia ao pai do cineasta Glauber Rocha, Adamastor Br\u00e1ulio Silva Rocha \u2013 e a \u201cChapelaria Mercouri\u201d \u2013 do bisav\u00f4 da cantora Daniela Mercury, \u2013 tamb\u00e9m se destacavam ao receber muitos clientes.
\n“Todo o requinte de Salvador girava em torno da Rua Chile, tanto em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 moda, \u00e0 paquera, \u00e0s pessoas que saiam dos seus bairros mais afastados do Centro… Era o lugar para passear com a namorada, tomar um sorvete na Cubana, al\u00e9m de olhar as vitrines das lojas”, afirmou o historiador.
\nAo longos dos 476 anos de Salvador, a Rua Chile j\u00e1 teve outros oito nomes. Os mais conhecidos foram “Rua Direita dos Mercadores” e “Rua Direita do Pal\u00e1cio”, pela proximidade do Pal\u00e1cio Rio Branco.
\nSin\u00f4nimo de beleza e eleg\u00e2ncia, a via, que tem uma vista invej\u00e1vel da Ba\u00eda de Todos-os-Santos, passou a ser chamada de “Chile” em 1902, em homenagem ao governo do pa\u00eds, ap\u00f3s a morte de oficiais chilenos, que adoeceram na capital baiana.
\nV\u00e1rios fatores explicam mudan\u00e7a de status
\nRua Chile, no Centro Hist\u00f3rico de Salvador, foi a primeira rua do Brasil
\nAlan Tiago Alves \/ g1BA
\nA partir do final dos anos 70, a Rua Chile deixou de ser o principal palco comercial da capital baiana. Essa mudan\u00e7a de movimento pode ser explicada por diversos fatores.
\nUm deles foi a abertura das chamadas “avenidas de vale”, onde as pessoas que moravam no interior do estado e se mudaram para trabalhar no Polo Petroqu\u00edmico de Salvador, constru\u00edram casas.
\n“A cidade era muito presa ao centro, pequena e acanhada. O que era centro passou a ser um lugar abandonado de certa forma, n\u00e9? Ent\u00e3o as pessoas v\u00e3o parar de passar naquela rua”, pontuou o historiador Murilo Melo.
\nHotel Palace, na Rua Chile, em Salvador
\nArte\/G1
\nOutro fator que pode explicar o esvaziamento e decl\u00ednio da Rua Chile foi a prefer\u00eancia das pessoas e comerciantes a habitar a regi\u00e3o do Iguatemi, ap\u00f3s a constru\u00e7\u00e3o do hoje Shopping da Bahia, e a Avenida Tancredo Neves, que virou um novo corredor de lojas.
\nAl\u00e9m disso, a transfer\u00eancia da sede do Governo da Bahia para o Centro Administrativo da Bahia (CAB) reafirmou a mudan\u00e7a da din\u00e2mica social da cidade.
\n“Com isso, as casas passaram a cair aos peda\u00e7os, ser mal cuidadas e as pessoas n\u00e3o trafegaram com a mesma frequ\u00eancia naquele local. Come\u00e7ar a ficar esvaziada e o investimento passou a ser nos novos locais criados”, explicou o professor.
\nRua Chile, em Salvador, na Bahia
\nCedoc TV Bahia
\nPersonagens ilustres
\nFalar da Rua Chile tamb\u00e9m \u00e9 relembrar hist\u00f3rias de pessoas que, por muito tempo, tiveram como “casa” esta via. Os pr\u00e9dios e casar\u00f5es foram cen\u00e1rios da Mulher de Roxo e do Guarda Pel\u00e9, personagens m\u00edsticos da cidade.
\nPalacete Tira-Chap\u00e9u \u00e9 reinaugurado em Salvador com baile de m\u00e1scaras
\nMulher de Roxo e Guarda Pel\u00e9 s\u00e3o personagens da Rua Chile
\nArquivo Pessoal
\nVestida com uma bata roxa e um crucifixo no peito, como uma freira, a Mulher de Roxo amanhecia o dia sentada em frente \u00e0 Sloper, antiga loja da Rua Chile. De l\u00e1, ela percorria os 400 metros da via pedindo dinheiro aos transeuntes.
\n“Ela morava em um albergue mantido pela prefeitura na Baixa de Sapateiros e virou uma verdadeira lenda urbana. Dormia l\u00e1 e passava o dia na Rua Chile”, acrescentou o professor de hist\u00f3ria.
\nO nome e a origem dela s\u00e3o mist\u00e9rios. H\u00e1 quem diga que ela se chamava Florinda, Doralice ou Nair. Alguns dos historiadores afirmam que a idosa foi uma mulher rica, que passou a ter problemas psiqui\u00e1tricos ao perder a fortuna. Outros alegam ela viu a m\u00e3e matar o pai e depois, tirar a pr\u00f3pria vida.
\nH\u00e1 tamb\u00e9m quem garanta que a Mulher de Roxo enlouqueceu ap\u00f3s ser abandonada no altar de uma igreja, no dia do casamento.
\nMulher de Roxo \u00e9 uma das principais personagens da Rua Chile
\nCedoc TV Bahia
\nJ\u00e1 Armando Marques da Silva, conhecido como o “Guarda Pel\u00e9” foi um policial militar que ganhou fama por colocar ordem no tr\u00e2nsito da rua enquanto dan\u00e7ava coreografias elaboradas.
\nAs performances fizeram com que ele “estrelasse” uma propaganda comercial de uma empresa de avia\u00e7\u00e3o e ganhasse f\u00e3s, que se amontoavam em alguns trechos da regi\u00e3o para ver as coreografias elaboradas.
\nUmas das pessoas que viram pessoalmente o “trabalho” do Guarda Pel\u00e9 foi a Rainha Elizabeth II, em 1968.
\nGuarda Pel\u00e9 \u00e9 um dos personagens da Rua Chile
\nCedoc TV Bahia
\nEm 2023, o policial da reserva da Pol\u00edcia Militar, Eliezer da Silva Ara\u00fajo, fez uma hist\u00f3ria em quadrinhos sobre o baiano, batizada com o apelido de Armando Marques da Silva.
\n“A partir da hist\u00f3ria desse camarada, pude perceber que a gente n\u00e3o t\u00eam desculpas para poder justificar muitas coisas que \u00e0s vezes acontecem na corpora\u00e7\u00e3o. O Guarda Pel\u00e9 viveu em per\u00edodo dif\u00edcil, entre a d\u00e9cada de 60 e 70, atuando de uma forma t\u00e3o descontra\u00edda”, contou o policial militar.
\nArmando destaca que era uma pessoa que chamava aten\u00e7\u00e3o das pessoas n\u00e3o s\u00f3 pelas performances, mas pela simpatia e carisma que mostrava para as pessoas.
\nDe acordo com Eliezer da Silva Ara\u00fajo, o Guarda Pel\u00e9 foi um exemplo de resist\u00eancia e supera\u00e7\u00e3o, porque teve uma inf\u00e2ncia humilde, criado apenas pela m\u00e3e.
\n“Com toda dificuldade que passou, sendo uma pessoa que teve uma base humildade familiar e passou por muitas lutas, se tornou um policial militar e, nem por isso transmitia essa carga que teve durante a inf\u00e2ncia. Era uma pessoa alegre e leve”, descreveu.
\nCapa da revista em quadrinhos sobre o Guarda Pel\u00e9
\nArquivo Pessoal
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