Vingança pelo assassinato da esposa alçou Marcola ao topo do PCC

São Paulo – Ana Maria Olivatto, de 45 anos, foi assassinada a tiros, em 23 de outubro de 2002, quando se preparava para sair com seu carro de casa, em Guarulhos, Grande São Paulo. Casada com Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, ela atuava como advogada de membros do Primeiro Comando da Capital (PCC).

Na ocasião, a mulher iria para o interior paulista, no Centro de Readaptação Penitenciária de Presidente Bernardes, onde já havia agendado entrevistas com José Márcio Felício, o Geleião, e César Augusto Roriz Silva, o Cesinha, fundadores da facção, aos quais pessoas diretamente ligadas à execução estavam ligadas — como constatado posteriormente.

Até então, Marcola não ocupava nenhum posto de liderança no PCC. No entanto, a morte brutal da companheira mudou a vida do criminoso — conhecido no mundo do crime, até então, como ladrão de bancos.

“Eu tinha uma divergência com esses caras aí, tanto que eles mataram a minha mulher também, entendeu. A finada doutora Ana. Aí que me tornei o chefe do negócio [do PCC], porque antes disso, eu não era chefe de nada, eu não era nem líder. Se eles não matam a doutora Ana, eu estava na rua [liberdade] há 20 anos atrás já”, afirma o agora líder máximo da facção.

Cesinha e Geleião foram depostos do PCC em 2002, a mando de Marcola, que passou a considerá-los inimigos. Cesinha foi assassinado em 2006. Geleião morreu de Covid-19, em maio de 2021. Pessoas ligadas à morte de Ana Olivatto foram perseguidas por parceiros de Marcola e também assassinadas.

Desde então, Marcola mantém o posto máximo da maior facção criminosa do Brasil, na qual implementou um esquema empresarial — e que gera bilhões de reais anualmente, por meio do tráfico internacional de cocaína.

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A ascensão de Marcola

Condenado a mais de 330 anos de cadeia, Marcola é apontado como o homem por trás da transformação do PCC em organização criminosa com estrutura e visão empresariais. Responsável por assaltos milionários, ele está no sistema penitenciário desde 1986, quando tinha 18 anos.

Em depoimentos, o líder máximo do PCC afirma que “já estudou bastante Lênin”, o líder da Revolução Russa de 1917, e elege “Assim Falou Zaratustra”, do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900),como a sua obra preferida.

Afilhado de Cesinha e um dos primeiros batizados no PCC, Marcola logo assumiu a liderança. Em comum com os fundadores, ele tinha perfil político, raciocínio rápido e capacidade de influenciar colegas de cela. Em contrapartida, discordava de métodos mais violentos, sem objetivos claros, defendidos pela primeira cúpula.

Em 2002, por exemplo, Cesinha e Geleião planejaram usar carros, recheados com 30 quilos de dinamite, para explodir o prédio da Bolsa de Valores de São Paulo e o Fórum Criminal da Barra Funda, ambos na capital. Para Marcola, a facção ganharia mais ficando fora do radar da polícia e das autoridades.

Nova “diretoria”

A relação entre Marcola e os fundadores do PCC já estava estremecida desde o assassinato de Idemir Carlos Ambrósio, o Sombra, enforcado no Piranhão, em julho de 2001. A guerra ficaria evidente com a morte de Ana Olivatto Herbas Camacho.

Para vingar o assassinato da esposa, Marcola teria vazado a informação de que Geleião era condenado por estuprar uma jovem durante um roubo – crime repudiado pela massa carcerária e proibido pelo estatuto do PCC. Por isso, Geleião e Cesinha acabaram expulsos e “decretados” (à morte) pela facção no mês seguinte.

Com os antigos líderes depostos, Marcola imediatamente escalou sete “homens de confiança” para compor o primeiro escalão do PCC, a chamada Sintonia Final Geral, em 2002. Entre eles, estava Julinho Carambola. Pela primeira vez, a alta diretoria, formada majoritariamente por assaltantes, tinha traficantes de drogas.

 

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