Evandro Teixeira, um dos maiores nomes do fotojornalismo brasileiro, morre no Rio, aos 88 anos


Fotógrafo registrou por 70 anos eventos marcantes da história brasileira e mundial. Evandro Teixeira em setembro de 2023, quando lançou mostra no CCBB do Rio
Marcello Cavalcanti
Evandro Teixeira, um dos maiores nome do fotojornalismo brasileiro, morreu nesta segunda-feira (4), aos 88 anos, no Rio de Janeiro.
O fotógrafo inúmeras vezes premiado e autor de imagens marcantes da história do Brasil – e até de outros países – estava internado na Clínica São Vicente, na Gávea, na Zona Sul.
Passeata dos 100 mil, Tomada do Forte, enterro de Neruda: fotógrafo Evandro Teixeira conta as histórias por trás da cobertura de ditaduras
Evandro registrou, quase sempre em preto e branco, boa parte do mais importante que aconteceu no Brasil na segunda metade do século 20.
Baiano nascido em 1935, Evandro Teixeira saiu de Irajuba, povoado a 307 quilômetros de Salvador, para fotografar o Brasil.
Ainda muito jovem, fez um curso de fotografia à distância. Desembarcou no Rio em 1957 com uma carta de recomendação para trabalhar no Diário da Noite.
De lá, surgiu o convite para trabalhar no Jornal do Brasil, onde ficou por 47 anos e se tornou referência do fotojornalismo.
Em quase 70 anos de atividade, registrou o golpe militar de 1964 e a ocupação do Forte de Copacabana, em 1º de abril de 1964.
Com a câmera escondida, ele se passou por um oficial sem farda, acompanhado por um amigo militar.
Visitante observa foto da exposição “Evandro Teixeira. Chile, 1973”, no Rio de Janeiro. Além dos registros feitos no Chile, a exposição mostrou imagens produzidas por Evandro durante a ditadura militar brasileira.
Tânia Rêgo/Agência Brasil
“Aí ele bateu continência, eu bati também e falei que era o capitão tal – já não me lembro mais o nome (risos)”, lembrou.
Foram as lentes dele que mais imortalizaram a luta contra os horrores da ditadura no país.
Fotos como a da multidão de cariocas na Passeata dos 100 mil, em 1968, na Cinelândia, na região central da cidade.
“Estava lotado e eu nunca vi tanta gente. Aquela faixa de ‘Abaixo a ditadura, o povo no poder’ me chamou a atenção.”
Em um dia de correria pelas ruas do Centro do Rio, Evandro fez outra de suas fotos mais conhecidas: a de um estudante caindo ao ser perseguido por dois policiais. A imagem chegou a circular recentemente com uma mensagem fake de que seria o hoje presidente Lula na imagem.
“Ele deu um tremendo gemido e ficou lá estirado. Eles [policiais] tentaram levantar o rapaz, eu fiz mais uma foto e me mandei porque eles corriam atrás de mim.”
Em outra imagem, na Candelária, Evandro fotografou a repressão por policiais montados a cavalo.
Golpe militar do Chile
Em setembro de 1973, mirou sua câmera para o golpe militar do Chile, que levou à morte o presidente Salvador Allende. A temporada por lá rendeu fotografias que se tornaram documentos históricos.
Alguns registros foram feitos no Estádio Nacional, onde Evandro conseguiu provar a violação de direitos humanos.
Também são dele as fotos do adeus a um dos ícones da esquerda no Chile, o poeta Pablo Neruda.
Também eternizou em imagens Pelé e Ayrton Senna, acompanhou a visita da Rainha Elizabeth e do papa João Paulo II, documentou fome e pobreza e as festas populares, como o carnaval.
O fotógrafo reuniu em livros tudo que lhe dava orgulho. Além da mulher Marli, duas filhas e netos, Evandro deixa um tesouro captado por um olhar incomparável.
Não foi à toa que ganhou, em vida, uma honraria: uma poesia escrita só para ele por Carlos Drummond de Andrade, um admirador do seu trabalho.
Ditaduras pelas lentes de Evandro Teixeira: veja imagens da mostra do fotógrafo em cartaz
Evandro Teixeira em setembro de 2023, quando lançou mostra no CCBB do Rio
Marcello Cavalcanti
Evandro Teixeira autografa uma de suas fotos célebres, a da Passeata dos Cem Mil
Marcello Cavalcanti
Evandro Teixeira em setembro de 2023, quando lançou mostra no CCBB do Rio
Marcello Cavalcanti
Evandro Teixeira em setembro de 2023, quando lançou mostra no CCBB do Rio
Marcello Cavalcanti
Fotógrafo Evandro Teixeira participou da escolha das imagens da campanha ‘Rio dos meus olhos’, da Globo, em 2016
Reprodução / Globo
Mostra ‘Evandro Teixeira, Chile, 1973’, que ficou em cartaz no CCBB do Rio
g1 Rio
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