Republicanos são vermelhos, democratas são azuis, mas já foi o contrário: saiba a origem das cores dos partidos nos EUA


Tradição de associar cada partido a uma cor da bandeira americana é recente, e só entrou no imaginário do país nas eleições de 2000. Eleições EUA: entenda como surgiram os símbolos dos partidos Democrata e Republicano
A cor vermelha costuma ser associada aos partidos de esquerda, dos mais centristas aos comunistas radicais, mundo afora. Menos nos EUA.
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Por lá, os “estados vermelhos” são os que votam no Partido Republicano, de viés neoliberal, ultraconservador nos costumes e abertamente anti-esquerda. Já os Democratas são associados a outra cor da bandeira americana, o azul.
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Transmissão da NBC News em 2012 mostra mapa eleitoral dos EUA com estados democratas em azul, e estados republicanos em vermelho
NBC News/Reprodução/Mídias sociais
Mas nem sempre foi assim. Inclusive, a história começou com as cores invertidas: os primeiro mapas eleitorais coloridos a aparecer na TV americana mostravam em azul os estados onde os republicanos Nixon, Ford e Reagan haviam conquistado mais votos — e em vermelho os locais onde Jimmy Carter, Dukakis e até Clinton haviam conquistado maioria.
A tradição de associar cada partido a uma cor é recente na história dos EUA, e só “pegou” seis eleições atrás, no ano 2000.
Ela tem sua origem algumas décadas antes, nos anos 1970, por causa das coberturas de eleições das TVs locais.
TV em cores
Em 1972, quando a TV em cores começava a ganhar espaço nas casas americanas, a rede CBS começou a exibir mapas de estados coloridos em azul ou vermelho, dependendo de qual partido havia tido mais votos – e, por consequência, levaria os respectivos delegados para o Colégio Eleitoral. A emissora atribuiu a cor azul a Richard Nixon, dos Republicanos, e o vermelho para McGovern, dos Democratas.
Nas eleições seguintes, em 1976, a concorrente NBC inaugurou um grande mapa analógico para acompanhar a apuração dos votos. Ele era dotado de luzes azuis ou vermelhas para cada estado, que se acendiam conforme o partido que ganhava no local. O mapa aparecia constantemente na tela, e foi considerado revolucionário na época. A ideia foi copiada pelos concorrentes nos anos seguintes.
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Novamente, os Democratas ficaram com a cor vermelha, e os Republicanos, com a azul. Em uma reportagem da revista “Smithsonian”, os produtores da NBC da época disseram que não se lembraram de discutir muito a respeito sobre qual cor ficaria com qual partido. Segundo um dos funcionários, a escolha foi feita com base no Reino Unido, que também possui um sistema mais ou menos bipartidário e cuja bandeira tem as mesmas cores da americana – onde os Trabalhistas, mais de esquerda, usam a cor vermelha, e os Conservadores, a azul.
Nos EUA, a ligação dos Republicanos com o azul data do século 19: na Guerra Civil Americana (1861-1865), essa era a cor do uniforme dos unionistas, liderados pelo então presidente Abraham Lincoln.
Mapa eleitoral da NBC News nas eleições de 1988 mostra estados republicanos em azul e estados democratas em vermelhos
NBC News/Reprodução/Mídias sociais
Ao longo dos anos 1980 e início dos 1990, cada canal de TV escolhia a forma de diferenciar os dois partidos em seus mapas eleitorais, e uma mesma emissora eventualmente trocava as cores depois de quatro anos.
Em 1980, a ABC adotou o vermelho para os Republicanos, que concorriam com Ronald Reagan. Em 1984, tanto a ABC quanto a CBS usaram o vermelho para os Republicanos e o azul para os Democratas. Na virada para os anos 1990, a ABC era a líder de audiência das TVs abertas americanas.
A NBC, criadora do painel de 1976, manteve seu padrão de cores até 1992. Em 1996, ela optou por seguir a concorrência para não confundir os telespectadores.
Foi nos anos 1990 que os jornais impressos americanos começaram a publicar pelo menos algumas de suas páginas coloridas, enquanto o padrão na mídia eletrônica se consolidava.
Bush x Gore
A divisão se consolidou de vez, porém, no ano 2000. Naquele ano, a eleição foi a mais apertada em décadas, e os mapas com as distinções entre estados “vermelhos” e estados “azuis” passaram horas no ar. Ao longo das semanas seguintes, a recontagem de votos na Flórida reforçou o padrão de cores no imaginário americano.
George W. Bush foi o vencedor depois de o democrata Al Gore admitir a derrota em 13 de dezembro daquele ano, mais de um mês depois do dia da votação.
Comentaristas políticos, títulos de jornais e até comediantes, como David Letterman, começaram a usar os termos “blue states” (estados azuis) e “red states” (estados vermelhos).
Já assimilada pelo público, a divisão se integrou até com o padrão gráfico dos partidos, que passaram a fazer seus logotipos com as respectivas cores.
Atualmente, os estados-chave, onde não há favoritismo claro de um partido, às vezes são chamados de “estados roxos”, ou aparecem em branco nos mapas.
Já candidatos de terceiras vias não têm uma cor definida. O último deles a ganhar eleições em estados e levar delegados ao Colégio Eleitoral foi o então governador do Alabama George Wallace, em 1968, que rompeu com os Democratas para apoiar leis segregacionistas contra negros pelo Partido Independente Americano. Ele conquistou cinco estados.
Atualmente, não há perspectiva de que candidatos que não sejam republicanos ou democratas conquistem qualquer estado.
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