Homem que gravou e publicou vídeo racista nas redes sociais criticando Lei Áurea é preso


Ex-funcionário de bar em BH disse que pessoas pretas têm que ‘tomar água do vaso’. Após repercussão do caso, MP solicitou investigação, mas suspeito foi recapturado por causa de mandado de prisão em aberto pelo crime de violência contra mulher. Alessandro Pereira de Oliveira tem várias passagens pelo sistema prisional
Reprodução
O homem que gravou e divulgou um vídeo racista na internet foi preso pela Polícia Militar nesta quarta-feira (23). De acordo com a corporação, o suspeito tem várias passagens pela polícia e estava com um mandado de prisão em aberto pelo crime de violência doméstica e familiar contra mulher.
“Ele está sendo recapturado e responderá também pelos crimes eventualmente praticados de racismo”, afirmou o tenente-coronel Eduardo Lopes, comandante do 13º Batalhão da PM.
O conteúdo ofensivo foi compartilhado pelas redes sociais na madrugada da última sexta-feira (18). Após a repercussão do caso, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) solicitou uma investigação policial.
Na publicação, Alessandro Pereira de Oliveira, de 36 anos, criticou a abolição da escravidão no Brasil e disse que pessoas pretas “têm que tomar água do vaso” (veja abaixo).
Ministério Público aciona polícia para apurar crime de racismo em vídeo que viralizou
“Nós tomamos conhecimento da presença desse cidadão em Belo Horizonte após justamente a repercussão de uma fala dele nas redes sociais. A partir daí, o serviço de inteligência da PM começou a realizar o devido acompanhamento e monitoramento, partindo do local em que ele trabalhava”, explicou o tenente-coronel.
O homem era funcionário de um bar no bairro Universitário, na Região da Pampulha, em Belo Horizonte e foi demitido depois que o dono tomou conhecimento sobre o ocorrido.
“Através do Disque Denúncia, o serviço de inteligência, juntamente com os policiais militares da Tático Móvel, realizaram hoje uma operação. Ele estava no bairro Jaqueline, estava utilizando um apartamento. Após o cerco da PM, ele viu que não teria nenhuma alternativa de fuga e acabou se entregando, permitindo o nosso acesso”, detalhou o comandante.
Críticas à Lei Áurea
No vídeo, o homem fez críticas à Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel para extinguir a escravidão no Brasil, em 1888, e diversas ofensas racistas. Leia abaixo:
“É, rapaz. Trabalhar em bar não é fácil, não. Tem que aturar cada uma. Maldita Princesa Isabel, que assinou aquela Lei Áurea para acabar com a escravidão. Preto tem que entrar no chicote e no tronco mesmo, tem conversa não. Ai, ai… […]. Vê se preto tem razão pra reclamar de p* de copo. Tem que tomar água do vaso essa desgraça. Falar pra você, viu… Eu tinha que ter vivido na época dos barões, cortar essa raça toda no chicote, amarrar no tronco e chicote estalando no lombo. Amarrar na caixa de ferro e deixar o dia todo no sol esses demônios. Falar pra você, viu… Eu tenho que aturar macaco aqui me enchendo o saco. […]” .
Antecedentes criminais
A Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) informou que Alessandro Pereira de Oliveira tem quatro passagens pelo sistema prisional.
Na última vez em que esteve preso, ele recebeu o benefício de saída temporária pela Justiça e não retornou no prazo determinado. Alessandro foi registrado como fugitivo por abuso de confiança e, desde março deste ano, estava com um mandado de prisão em aberto pelos crimes de:
Lei 11340, art. 24A (Maria da Penha): Descumprir decisão judicial que defere medidas protetivas de urgência previstas;
Lei 2848, art. 147A (Stalking): Perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio, ameaçando-lhe a integridade física ou psicológica;
Lei 2848, art. 147B (Violência psicológica): Causar dano emocional à mulher que a prejudique e perturbe seu pleno desenvolvimento ou que vise a degradar ou a controlar suas ações […];
Lei 2848, art. 218C (Divulgar cena de estupro ou pornografia): Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio […] cena de estupro ou de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou induza a sua prática […].
Demitido após vídeo
O dono do bar, Alex Sandro de Oliveira, disse à TV Globo que só soube do vídeo depois de ser abordado por clientes e questionado sobre a publicação.
“Eu sou contra o racismo. Fiquei indignado. Tenho parentes negros. Mandei ele embora na hora”, afirmou Alex Sandro.
Bar onde suspeito de racismo trabalhava fica no bairro Universitário, na capital mineira
Luiz Henrique Cisi/TV Globo
O homem trabalhava há cerca de quatro meses no bar e, segundo o proprietário, nunca tinha apresentado problemas no trabalho. Após ser demitido, ele não voltou ao local.
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