
De acordo com a SES-PB, há indícios de que os medicamentos vencidos foram usados no mutirão oftalmológico realizado na última quinta-feira (15). Hospital de Clínicas de Campina Grande
Reprodução/TV Paraíba
Parte dos medicamentos usados em um mutirão oftalmológico realizado no Hospital de Clínicas em Campina Grande, estava vencida. A informação foi confirmada nesta terça-feira (20) pela Secretaria de Estado da Saúde (SES), após pacientes que passaram por procedimentos no mutirão relatarem infecção e perda de visão.
De acordo com a SES-PB, ao menos 6 dos 30 frascos da medicação utilizada estavam vencidos e abertos. Há indícios de que os medicamentos vencidos foram usados no mutirão oftalmológico realizado na última quinta-feira (15).
Ainda segundo o órgão, a quantidade de pacientes que apresentam desconforto persistente e baixa visão subiu de 4 para 9. Ao todo, 64 pacientes foram submetidos ao procedimento, executado no Hospital de Clínicas de Campina Grande através de um contrato da SES-PB com a empresa Fundação Rubens Dutra Segundo. O contrato com a empresa foi rompido após a repercussão do caso.
A secretaria ressaltou que os profissionais e o fornecimento de materiais utilizados durante o procedimento são de “responsabilidade exclusiva da empresa”. À TV Paraíba, o presidente da Fundação Rubens Dutra Segundo disse que acompanha as investigações e confirmou que os medicamentos e profissionais envolvidos possuem ligação com a fundação.
Rubens Dutra também afirmou que mais de 20 pacientes apresentaram sintomas após os procedimentos, explicou que presta assistência a eles desde o sábado (17) e disse acreditar que uma possível aplicação de medicação vencida não ocasionaria as reações apresentadas. A fundação destinou uma equipe para investigar as causas das infecções e deve divulgar até a próxima quinta-feira (22) o resultado.
Processos administrativos, éticos e criminais foram instaurados pela SES-PB para apurar as condutas dos envolvidos. Os pacientes afetados estão recebendo acompanhamento e avaliação médica, ainda segundo a Secretaria de Estado da Saúde (SES).
Em nota enviada ao g1, o Conselho Regional de Medicina do Estado da Paraíba (CRM-PB) afirmou que acompanha o caso. Segundo o CRM-PB, nenhuma denúncia formal chegou à Comissão de Ética Médica do órgão, mas mesmo se não houver denúncia, uma sindicância de ofício será aberta para apurar e responsabilizar os envolvidos.
Pacientes relatam complicações após cirurgia nos olhos, em Campina Grande
Entenda o caso
Pacientes que participaram de um mutirão oftalmológico realizado na última quinta-feira (15), no Hospital de Clínicas de Campina Grande, denunciaram complicações graves nos olhos após os procedimentos. A Secretaria de Estado da Saúde da Paraíba (SES-PB) informou que quatro pacientes apresentaram desconfortos e que foi instaurado um processo administrativo para apurar o caso.
De acordo com as denúncias, que começaram a ser veiculadas nesta segunda-feira (19), já no fim de semana seguinte ao mutirão, diversos pacientes procuraram atendimento em outras unidades de saúde relatando dores intensas e sinais de infecção ocular.
Um dos casos de pacientes infectados é o de uma idosa de 89 anos, que perdeu completamente a visão de um dos olhos após o procedimento. Segundo a família, a paciente, que tinha um edema macular, vinha apresentando melhora com as aplicações mensais.
Michell Ferreira Pereira é filho de outro paciente que passou pelo mutirão e que, agora, está sem enxergar. Ele relatou que o pai precisou passar pela aplicação de uma medicação ocular para tratar uma retinopatia diabética. O tratamento já havia sido feito outra vezes.
“No dia ele me relatou que doeu muito a aplicação, [das outras vezes] doía mas ele disse que não tanto como essa última vez. Ele relatou também que as outras médicas sempre pediam para ele olhar para baixo, e dessa vez, pediram para ele olhar para os lados e houve duas aplicações. Só tinha uma aplicação, e dessa vez foi duas”, disse Michell, filho de um dos pacientes que estão sem enxergar após mutirão oftalmológico em Campina Grande.
Ainda de acordo com Michell, na sexta-feira (16), um dia depois do procedimento, o pai dele chegou a trabalhar, mas no sábado (20) começou a sentir dor, vermelhidão e irritação no olho.
No domingo (18) a situação se agravou e o paciente já não conseguia mais enxergar. Foi quando Michell levou o pai para uma clínica oftalmológica em João Pessoa para passar por exames, que não detectaram o problema.
A família voltou para Campina Grande e levou o paciente foi até o Hospital de Emergência e Trauma da cidade. Na unidade, profissionais de saúde informaram que outros pacientes com o mesmo problema, que também haviam sido atendidos no mutirão oftalmológico feito no Hospital de Clínicas, também estavam sendo atendidos na unidade.
O pai de Michell deve ser encaminhado para uma clínica em João Pessoa. O tratamento que ele faz é necessário para pacientes diabéticos diagnosticados com retinopatia diabética, complicação da doença que afeta a retina e pode ocasionar a perda da visão. A aplicação do medicamento pode desacelerar e até inibir totalmente a perda ocular.
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