O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, iniciará uma visita de Estado aos Estados Unidos nesta segunda-feira (19), no que seu governo descreve como uma tentativa de “reiniciar” a relação entre os dois países, atualmente considerada a mais fria em décadas. A visita ocorre poucos dias após os EUA terem acolhido um grupo de 59 “refugiados” sul-africanos brancos que, segundo o presidente estadunidense, Donald Trump, estão sendo perseguidos na África do Sul por sua raça e enfrentam um “genocídio”.
Eles voaram para os EUA com um plano especial de realocação e terão permissão para se estabelecer lá. O governo de Ramaphosa nega as alegações e afirma que os brancos, que possuem mais de 70% das terras, apesar de representarem apenas 7% da população, não sofrem discriminação.
Em um comunicado, o gabinete de Ramaphosa afirmou que os dois líderes discutiriam questões de interesse “bilaterais” e “globais”. A Casa Branca ainda não se pronunciou sobre o encontro. Esta é a primeira vez que Trump receberá um líder africano na Casa Branca desde que assumiu o cargo em janeiro. A África do Sul, que atualmente preside o G20, entregará a liderança aos EUA em novembro.
Ramaphosa se encontrará com Trump na Casa Branca na quarta-feira, 21 de maio. Seu gabinete não divulgou a agenda das negociações, mas deve incluir o tratamento dado aos sul-africanos brancos – historicamente privilegiados -, cortes na ajuda humanitária e as guerras em curso na Ucrânia e em Gaza.
Os africâneres brancos são descendentes de colonizadores, principalmente holandeses, que, até 1990, controlaram o país sob um sistema de apartheid que segregava e excluía a maioria negra. Muitos dos líderes empresariais e proprietários rurais mais bem-sucedidos do país ainda são brancos. Mais da metade da população negra é classificada como pobre.
Trump e seu aliado bilionário, o sul-africano Elon Musk, criticaram severamente o suposto tratamento inadequado dado pelo governo Ramaphosa a essas pessoas brancas no país, após o presidente sancionar uma Lei de Expropriação que permite ao governo confiscar terras, em alguns casos, sem indenização. A lei, assinada em janeiro, permite a expropriação de terras de qualquer proprietário para redistribuição a grupos marginalizados, como mulheres e pessoas com deficiência.
Alguns grupos africâneres afirmam que a lei poderia permitir que suas terras fossem redistribuídas a parte da maioria negra do país, alegação destacada por Trump. Esses grupos dizem que fazendeiros brancos enfrentam um número desproporcional de agressões violentas, que equivalem a “genocídio”.
O governo sul-africano negou que haja um genocídio e afirma que os ataques fazem parte de um problema criminal mais amplo. Falando no fórum Africa CEO em Abidjan, na Costa do Marfim, em 13 de maio, Ramaphosa disse que o governo dos EUA “entendeu a situação de forma errada”, já que a África do Sul sofre, em geral, com altos índices de crimes violentos, independentemente da raça das vítimas. Agricultores brancos e negros têm sido alvos de ataques a fazendas, nos quais criminosos armados agrediram, roubaram e, às vezes, assassinaram trabalhadores rurais em locais geralmente remotos.
Enquanto isso, Musk, fundador da empresa de internet Starlink, também culpa o governo pelo fracasso do lançamento da empresa na África do Sul devido às suas leis de empoderamento negro, que exigem que grandes corporações e empresas que buscam contratos governamentais sejam, em parte, de propriedade de marginalizados.