Wanderson Lamoia: “Olhar para fora e aprender com quem já está à frente é o segredo”

Wanderson Lamoia acredita que o empresário deve olhar o negócio de fora, além de viver novas experiências para prosperar e crescer. Crédito: Reprodução de TV

De Piúma, no Litoral Sul do Estado, para o mundo. Assim que o presidente e fundador do Grupo Lamoia, Wanderson Lamoia, encara os negócios e planeja expandir a atuação. O grupo comanda a maior indústria de sorvetes do Espírito Santo, que tem planos ambiciosos para incrementar não só a produção, como também o turismo no Estado.

O Grupo Lamoia é dono de marcas conhecidas como Paletitas, Real Gelato, Luigi, Natuzon e iCream. Além de uma fábrica com 9 mil metros quadrados em Piúma, o grupo tem uma fábrica também na Itália. Ou seja, é a partir da unidade europeia que planeja expandir ainda mais a operação.

Do mesmo modo para este ano, a expectativa é abrir pelo menos 200 novas lojas pelo Brasil. A expansão da fábrica tem investimentos de R$ 90 milhões só em 2025. Dinheiro que vai além do aumento de produção. 

Nesse sentido, a ideia de Wanderson é criar um espaço panorâmico e transformar-se em um ponto turístico lá em Piúma. Uma espécie de “fantástica fábrica de sorvetes”. E é bom acreditar que o grupo conhece de timing. O empresário parece ser um especialista em aproveitar momentos ideais de mercado. Ou seja, ele investiu em açaí quando houve o boom do produto. Do mesmo modo apostou nas paletas mexicanas. E houve um novo boom do produto.

Veja o que o empreendedor pensa para os negócios e conheça os planos do Grupo Lamoia na entrevista abaixo.

Como foi o estalo para entrar no ramo do açaí em 2010 e das paletas mexicanas em 2014?

Em novembro de 2024 fez 30 anos que comecei a trabalhar com sorvetes. Ou seja, Eu era funcionário de uma pequena fábrica, de uma sorveteria em Minas, lá onde eu nasci. Depois virei lojista dessa fábrica. 

Em 2010, decidimos produzir açaí, aproveitando que ainda estava no início. Naquela época, era tudo em tigela – nem existia taça com camadas transparentes.

Vimos nisso uma oportunidade de inovar e criamos o self-service de açaí. Era contra todas as práticas da tigela, mas funcionou. 

As pessoas enxergaram a facilidade de montar o seu próprio açaí: “Eu quero com mais granola, mais banana, leite condensado, puro”. No final, havia uma balança – e ver o açaí pesado era a melhor parte, porque aquilo era dinheiro no bolso. Assim surgiu o sucesso das lojas de açaí para o Grupo Lamoia. 

Nossa marca era Açaí Mais Sabor. Com o tempo, fizemos ajustes e surgiram outras marcas, que hoje atuam com grande avanço.

E as paletas mexicanas? Como surgiu a ideia de o Grupo Lamoia investir nelas?

As paletas nasceram no Paraná, com uma marca que se tornou nacional. Depois veio uma segunda marca de Salvador, também um sucesso. Antes que isso chegasse ao Espírito Santo, corremos para montar uma estrutura de produção. Conseguimos pegar todos os shoppings e o aeroporto, sendo pioneiros no Estado em comercializar e produzir paletas.

Qual foi o “pulo do gato”? O que te fez enxergar o momento certo para investir?

Olhar para fora. Não ficar mergulhado apenas no seu negócio. Viajar, buscar aprendizado, queimar sola de sapato. Aprendi isso aos 11 anos, quando vendia picolé em Leopoldina (MG). Eu não quis disputar com 15 pessoas vendendo na praça. 

Fui para as empresas: companhia de água, de energia, escritórios de contabilidade. Aí ninguém entendia por que eu, com 11 anos, era quem mais vendia picolé na cidade. É sair do lugar onde todo mundo está olhando.

O mesmo vale para o açaí. Muitas empresas focam no mercado americano para vender em dólar, mas pouca gente olha para a América do Sul. Tem um mercado enorme para o açaí na Argentina, no Peru, no Chile, na Colômbia, na Bolívia. Nós já estamos exportando para o Chile.

E por que escolher Piúma como sede da fábrica?

Piúma foi uma das cidades onde abrimos uma das sorveterias da marca, lá em 1997. Tínhamos lojas em Guarapari, Muriaé, Cataguases, mas a primeira no Espírito Santo foi em Piúma. Era uma loja grande e foi nela que montamos nossa microfábrica – ou melhor, nano – de açaí. 

Era tudo manual. Tínhamos que quebrar a barra de açaí com marreta, triturar no liquidificador, que quebrava direto.

A fábrica tem hoje 9 mil metros quadrados. Tivemos uma ampliação para suportar a demanda a partir de 2022. Além disso, compramos áreas ao redor e um grande terreno de 149 mil metros quadrados para fazer uma nova estrutura fabril. A estrutura atual não comporta o crescimento que planejamos para o longo prazo. Queremos automação total.

Viajamos muito, aprendemos bastante com fábricas da Europa, da Ásia – China, Indonésia. Essas experiências mostraram como devemos proceder daqui para frente. É aquilo que volto a dizer:

Olhar para fora e aprender com quem já está à frente é o segredo.

E essa ideia de transformar a fábrica do Grupo Lamoia em ponto turístico?

É a quinta fase da nossa obra. Hoje estamos na primeira: a construção da Câmara Fria. A terraplanagem já foi feita e a câmara está sendo montada com 3.400 posições para pallets. Ela terá 15 metros de altura, sendo a primeira câmara fria autoportante (geralmente composta por painéis modulares que se encaixam, formando as paredes, o teto e o chão da câmara) de sorvetes no Estado.

Qual a capacidade de produção com essa nova estrutura?

A câmara fria mede armazenamento, não produção. A produção será determinada pela estrutura fabril que será anexada no segundo momento da obra. Essa nova estrutura do Grupo Lamoia poderá produzir até 170 toneladas por turno. Hoje produzimos 35 toneladas por dia. Teremos capacidade para operar com máquinas que produzem de 10 mil a 40 mil picolés por hora.

E a megastore para visitação? Como ela funcionará?

A ideia surgiu ao visitar lojas como a M&M em Londres, a Dengo e a Cacau Show em São Paulo. Visitamos uma fábrica na Indonésia com um anel de visitação de vidro – os visitantes veem todo o processo sem atrapalhar. Nós poderemos, com o Grupo Lamoia, receber de 200 a 300 visitantes por dia.

O Sul do Espírito Santo é belíssimo e recebe muito turismo. Atendemos o Rio de Janeiro, todo o Espírito Santo, boa parte de Minas e até o Sul da Bahia. Por que não transformar nossa fábrica em um atrativo turístico para mostrar o encantador mundo do sorvete?

Como você vê o turismo no ES?

O Estado tem potencial de sobra. A localização é privilegiada: montanhas a 100 km do mar, com climas muito diferentes. Em pleno janeiro, você pode pegar 17 graus na serra. Isso o turismo nacional ainda não conhece.

O novo aeroporto deu outra condição para o turista, as vias estão melhorando. A estrutura hoteleira e gastronômica está bem melhor, mas falta divulgação. Muitas pessoas que visitam a empresa se surpreendem com a beleza do estado. Precisamos mostrar mais isso para o Brasil.

Do ponto de vista de negócios, o que falta no ES?

Para nós do Grupo Lamoia, nada. A logística é excelente, bem como o poder aquisitivo que é bom. Porém a maior dificuldade está na contratação de mão de obra qualificada, principalmente para o interior. Ou seja, temos trazido profissionais de fora. 

Nos últimos dois anos, trouxemos sete, oito pessoas de Recife, uma de Maceió, seis de Minas. Ou seja, todos de alto nível, muitos da área técnica.

A Luigi foi a maior empresa de sorvetes do Estado e a segunda maior do Brasil nos anos 90, mas depois perdeu muitos profissionais qualificados. Do mesmo modo, precisamos buscar fora. E quem vem, gosta. Visitam o estado, conhecem a empresa e querem trazer a família. Ou seja, aqui faz sentido.

Mesmo com incentivos no Norte do ES, que é área da Sudene, ainda faz sentido manter a base em Piúma?

Sim, existe um histórico, um amor pela cidade. A sorveteria que mais deu certo foi em Piúma e foi de lá que partiu nossa primeira produção de açaí em 2010. Apesar de perdermos os benefícios da Sudene, que estão ligados ao Imposto de Renda, contamos com incentivos do Estado que ajudam a compensar essa perda. 

Para expansão, cidades como Aracruz e Linhares são opções. Nesse sentido, Linhares é uma cidade mais estruturada e familiarizada com os benefícios da Sudene. Do mesmo modo tem muitas grandes empresas instaladas. Porém, lá enfrentamos falta de mão de obra qualificada, devido à concorrência forte. 

No Sul do estado, temos custo de vida e mão de obra mais acessíveis. Ou seja, nossa obrigação é qualificar e desenvolver esse time, e temos feito isso nos últimos três anos.

Falando em expansão, o Grupo Lamoia montou uma fábrica na Itália. Como foi a decisão de abrir essa estrutura?

Começou com uma decisão minha e da minha esposa, antiga, de levar as filhas para estudar e conhecer outras culturas. Nesse sentido, elas têm cidadania italiana e foram para lá em 2021. Em 2022, decidimos investir e deixar de ficar indo e voltando, sem foco. Inicialmente, pensamos em abrir uma rede de lojas de açaí na Europa, onde o produto ainda está começando a ser conhecido. 

Sorvete tradicional (gelato) é típico da Itália então, para o segmento sorvetes, faz menos sentido investir lá. Ou seja, o foco era o açaí. Logo percebemos o valor do selo “Made in Italy” para o mercado europeu e decidimos montar uma fábrica com capacidade para 500 toneladas por mês. 

Em outubro começamos a produção. Do mesmo modo participamos de feiras importantes onde fomos muito bem recebidos.

A Itália também serve de base para outros mercados? Como?

Sim. Além da Itália, já temos clientes na Coreia do Sul, Dubai, Londres e Luxemburgo. Participamos de feiras e fazemos contatos para expandir. Por exemplo, em Dubai já temos negociações com um empreendedor que tem lojas de açaí. Ou seja, todo o açaí exportado para esses países sai da Itália, onde transformamos e envasamos a polpa trazida diretamente do Pará. 

O produto Made in Europe tem um peso muito grande para esses clientes, mesmo que seja mais caro que o produto direto do Brasil.

E como você vê o momento do ES em relação à logística?

O Espírito Santo está evoluindo muito, com portos se diversificando e ganhando agilidade. Temos o porto de Aracruz, Barra do Riacho em expansão, o novo Porto da Imetame e o PetroCity em São Mateus. Do mesmo modo o Estado tem contas públicas equilibradas e está próximo de grandes centros como Belo Horizonte, Rio e São Paulo. Isso é uma vantagem enorme para negócios. 

O Grupo Lamoia está ansioso para que a cabotagem e a logística melhorem, diminuindo os custos de transporte do açaí que vem do Pará.

Sobre expansão de lojas, o Grupo Lamoia tem a meta de abrir 200 novas unidades em 2025. Vai cumprir essa meta?

Estamos muito confiantes. Em março já inauguramos uma loja em Cariacica e estamos começando a expansão em Salvador e São Paulo. Em Salvador, por exemplo, temos um investidor capixaba que já planeja abrir 10 lojas. 

O Espírito Santo, Minas, Rio e São Paulo já apresentam alta demanda, então acreditamos que a meta é alcançável, porém sem abrir mão da qualidade. O foco é rentabilidade e sustentabilidade, não apenas números.

O que o mercado capixaba ensinou para você?

O Espírito Santo sempre teve uma carência grande de marcas locais no varejo. Quando chegamos, em 1997, éramos uma das poucas sorveterias locais. Porém logo nos tornamos a que mais vendia em Piúma. Expandimos para outras cidades e começamos a trabalhar com açaí, paletas e sorvetes. Chegamos a liderar o mercado de supermercados e varejo no Estado. 

O mercado nos ensinou que é preciso acreditar, buscar oportunidades e trabalhar duro. Hoje, estamos em Minas, Bahia, Rio e com projetos para São Paulo.

Onde você quer chegar com o Grupo Lamoia?

Nosso foco não é ser a maior fábrica do Brasil, mas sim ter uma indústria automatizada, com alto nível sanitário e certificações internacionais para atender multinacionais.

Queremos desenvolver o mercado com tecnologia e inovação, trazendo capacidade produtiva para o Espírito Santo, aproveitando incentivos fiscais como o Investe e o Compete. Queremos continuar crescendo com sustentabilidade e qualidade.

Wanderson Lamoia é presidente e fundador do Grupo Lamoia

Veja abaixo a entrevista completa com Wanderson Lamoia:

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