Momentos de muita emoção marcaram a partida do ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica. A despedida iniciou com um cortejo fúnebre de mais de 3 horas pelas ruas de Montevidéu. O caixão chegou perto das 2 horas da tarde desta quarta-feira (15) no Palácio Legislativo.
Na quinta-feira (16), o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, chegou para se despedir do amigo. Com lágrimas nos olhos, o presidente Lula fez um breve pronunciamento à imprensa, onde afirmou que não poderia deixar de ir se despedir, pois Mujica era um ser humano muito especial.

“Mujica é um ser humano superior. Era aquela figura especial, aquela figura mais carinhosa, aquela figura que eu aprendi a respeitar, admirar e a seguir cada passo que do Pepe depois que ele assumiu a Presidência do Uruguai”, declarou.
Na manhã da quarta-feira (15), o cortejo teve início na sede da Presidência uruguaia, onde o atual presidente da Frente Ampla, Yamandú Orsi, colocou a bandeira nacional sobre o caixão de Mujica.
Com a principal avenida da cidade, a 18 de julho, fechada para o cortejo fúnebre, a multidão seguiu o caixão puxado por cavalos pelas principais ruas do centro da capital uruguaia em direção ao Palácio Legislativo. O silêncio respeitoso era por vezes quebrado por palmas ou gritos de “obrigado, Pepe”.
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Milhares de pessoas enfrentaram filas imensas para o último adeus, mas era preciso estar lá, como afirma o educador gaúcho Alexsandro Machado que está morando no Uruguai há 2 anos. “Eu tinha que estar aqui. E o Pepe, ele para nós simboliza toda a verdade de se poder viver aquilo que acredita. De se poder lutar até o fim, de ter esperança até o fim. E para mim é uma honra estar aqui, como o Brasil, como por todos nós que estamos no Brasil.”
Machado destaca ainda a importância de Pepe Mujica, lembrando a frase que estava estampada em camisetas, faixas e paredes. “Pepe é um dos grandes. Como ele disse, ele não tá indo, ele tá chegando, e como toda e qualquer forma de esperança, é assim que a gente tem que lutar a vida inteira, até o fim lutar, porque a carne pode ir, mas a esperança vai continuar, a inspiração vai continuar e ele é a nossa inspiração também e como Brasil, como brasileiro, é muito importante estar aqui nesse momento”, destacou.
Também estavam presentes militantes do Movimento Participação Popular (MPP), do qual Mujica foi um dos fundadores. Melody Caballero, militante do MPP, fala da perda. “Esse momento que estamos vivendo… Poderíamos estar acompanhando a partir de uma certa formalidade, mas na realidade entendemos que estar aqui, compartilhando com os vizinhos, buscando água ou colaborando, faz parte de colocar em prática no dia a dia algumas das ideias que Mujica trouxe e de nos acompanhar nesse processo que é muito doloroso e que estamos apenas começando a assimilar e entender.”
Melody também reflete sobre a visão deixada pelo viejo, como o chamam carinhosamente. “Porque nossa existência é finita e única e não deveria acabar sendo consumida por um relógio que determina o quanto produzimos, esquecendo o que é mais valioso. E nessa coisa mais valiosa, nós estamos aqui tentando nos sustentar nisso de também esperar por essa recepção, certo? Se você estiver chegando. É criar essa coisa nova também é a expectativa de uma chegada. Então isso parece fundamental para nós.”
O legado de Mujica também continuará junto à juventude, como afirma Ignácio Benitez, de 17 anos, do grupo Gurises da MPP. “Adeus, querido velho. Pelo mesmo motivo que eu estava te dizendo, ele nunca vai embora. Nunca deixaremos de lembrar de Pepe. Nós, os jovens, e nós contaremos aos nossos filhos e netos o que foi Pepe, qual é o seu legado e porque continuamos, porque nos sentimos tão fortemente por ele e porque escolhemos continuar carregando a bandeira de Pepe.”

Uma comitiva do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), de Santana do Livramento, também foi ao velório levar a homenagem de todo o movimento a Mujica. Os dirigentes do MST Ari Muller e Catarina Kovalick entregaram a Lucía Topolansky a bandeira e o boné do movimento. Catarina conta como foi esse momento.
“Foi muito emocionante, a gente chegou até a Lucía, a esposa de Pepe, que tava lá em Rivera, agora no último ato que a Rivera deu, proporcionou pro Pepe ir lá junto com a Frente Ampla. Ele dançava, ele dançava e ela tava ali, pareciam uns adolescentes. E aí ele falava muito nos jovens, que os jovens têm que seguir, que os jovens têm que seguir esse legado maravilhoso. E agora na entrega da bandeira e do boné do movimento sem terra, ela disse: ‘Pepe amava vocês’. Isso foi gratificante. Foi uma emoção. A gente sai assim, ó, que Pepe não morreu, Pepe tá presente, tá presente, presente, presente. E que nós temos essa semente que ele plantou e que nós vamos tocar, fazer germinar, pra vida.”