Após polêmica na China, Janja será enviada especial da COP30

Além de Janja, outros nomes proeminentes integram a lista de enviados especiaisCanal Gov/YouTube

A primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja, foi escolhida como enviada especial para temas relacionados às mulheres na COP30, a conferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), marcada para novembro, em Belém.

O anúncio, feito pelos organizadores do evento na quarta-feira (14), deu à socióloga um posto de destaque nas discussões internacionais.

A nomeação para a COP30, onde atuará de forma voluntária e em caráter pessoal, coloca Janja, mais uma vez, em uma vitrine global. Ela será um dos 20 enviados setoriais escolhidos para facilitar o diálogo entre a presidência da conferência e diferentes segmentos da sociedade civil. Na prática, a função exige capacidade de articulação e escuta qualificada. 

De acordo com a organização do evento, ao todo, serão 10 enviados para regiões estratégicas, com atuação geral nas regiões que representam, e 20 enviados para setores-chave. “Os enviados serão alguns dos interlocutores para o fluxo de informações e percepções das áreas que representam, o que permitirá que as interações ocorram de forma mais rápida e eficaz”, destacou o comunicado.

“Também serão canais diretos para apresentar demandas e pedidos para a Presidência da COP30, atuando como pontos de contato com setores e regiões”, acrescentou. O anúncio dos enviados especiais ainda ressaltou que Janja “tem se destacado na proteção de crianças e adolescentes, na defesa dos direitos das mulheres e na promoção da equidade de gênero”.

Além de Janja, outros nomes proeminentes integram a lista de enviados especiais, como a ex-primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, que ficará responsável por temas ligados à Oceania; a CEO da Fundação Europeia do Clima (ECF), Laurence Tubiana, que intermediará os diálogos sobre a Europa; a surfista Maya Gabeira, que vai representar os assuntos ligados ao esporte; o empreendedor e ativista Philip Yang, interlocutor de soluções urbanas; e o coordenador do Fórum de Mudança do Clima, Sérgio Xavier, que tratará sobre as iniciativas da organização. 

Apesar do protagonismo dos enviados especiais, o comando da conferência é de responsabilidade do governo federal, sob orientação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Integrantes do Executivo, como a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e outros secretários e diretores da pasta, como o embaixador André Corrêa do Lago, secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores; e a ex-secretária nacional de Mudanças do Clima, Ana Toni, atual presidente executiva da COP30, são alguns dos nomes ligados à organização do evento. 

Polêmicas 

A escolha de Janja para representar as mulheres na COP30 ocorre em meio à polêmica participação da primeira-dama na viagem oficial de Lula à China. Em encontro com o presidente chinês, Xi Jinping, em Pequim, ela abordou o tema das redes sociais e criticou a  atuação do TikTok no Brasil. 

O comentário causou desconforto entre as autoridades presentes, já que o tema é considerado sensível pelas autoridades chinesas. Além disso, foi considerado uma quebra de protocolos diplomáticos, isso porque o diálogo ocorreu em um jantar oficial, e teria constrangido a comitiva brasileira. 

Mas esse não foi o único momento polêmico de Janja. A primeira-dama já protagonizou episódios que fogem ao tom protocolar esperado de representantes do governo. Em novembro de 2024, por exemplo, durante um evento do G20 no Rio de Janeiro, ela encerrou sua fala com um recado direto ao bilionário Elon Musk. 

“F… you, Elon Musk”, disse a esposa de Lula. A plateia, formada majoritariamente por jovens, aplaudiu. Nos bastidores, no entanto, a avaliação foi de que a agressividade do gesto extrapolou o razoável para uma figura institucional. Nesse mesmo evento, Janja ironizou o caso do homem que detonou explosivos em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF). 

Sem mencionar o nome de Francisco Wanderley Luiz, o Tiü França, autor do atentado, a primeira-dama disse que “o bestão acabou se matando com fogo de artifício”. A fala de Janja foi usada pela oposição para criticar o governo e foi considerada inoportuna por minimizar a gravidade do caso, que tinha acontecido dias antes.

No início desse mesmo mês, novembro do ano passado, a primeira-dama também foi criticada por um comentário relacionado aos ex-presidentes do Brasil. Janja visitou o espaço da galeria de fotografias, no Palácio do Planalto, e disse a jornalistas que vários dos “ex-presidentes” não mereciam estar ali. 

No começo do mandato de Lula, a primeira-dama protagonizou outro episódio que repercutiu. Ela disse que diversos itens do Palácio da Alvorada haviam desaparecido após a saída do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL-DF) e criticou, publicamente, as condições da residência oficial. Meses depois, esses itens considerados desaparecidos foram encontrados dentro do próprio Alvorada. 

Apesar das polêmicas, Janja mantém forte influência no entorno do presidente Lula e vem acumulando espaço em agendas internacionais. Diferentemente de primeiras-damas que a antecederam, ela assume posições políticas e participa ativamente de debates sobre temas como equidade de gênero, direitos das mulheres e proteção de crianças e adolescentes.

Essa postura de Janja, inclusive, tem ampliado as fronteiras do cargo, levantando questionamentos jurídicos e políticos. Em 2024, a Advocacia-Geral da União (AGU) emitiu uma orientação normativa sobre o tema, classificando a atuação do cônjuge do presidente como “simbólica e sui generis”, sem poderes formais em nome do Estado.

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