Favela do Moinho vive mais um dia de violência: ‘É um estado de exceção e de sítio’, diz deputada estadual

A favela do Moinho, última comunidade do tipo na região central de São Paulo (SP), viveu mais um dia de desrespeito aos direitos básicos da população e de violência policial. A Polícia Militar e a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) realizaram, nesta terça-feira (14), uma operação de dez horas no local, com o objetivo de demolir as casas de famílias que já se mudaram do local, em desrespeito a um acordo firmado com moradores.

Em resposta, a comunidade realizou um ato no final da tarde, na avenida Rio Branco, ocupada de maneira pacífica, com o uso de faixas de protesto. Em poucos minutos, policiais chegaram ao local e encurralaram os manifestantes na entrada da favela com o uso de gás lacrimogêneo. Bebês foram atingidos pelo gás e tiveram que ser removidos às pressas da comunidade.

“Não podemos responder com normalidade à anormalidade. O que vemos na favela do Moinho é um estado de exceção e de sítio. Não existe determinação judicial que autorize a demolição da casa das pessoas e trancar uma rua pública é algo que eu não concebo num Estado Democrático de Direito”, lamentou a deputada estadual Mônica Seixas (Psol).

Durante o dia, a reportagem do Brasil de Fato testemunhou crianças passando entre as viaturas e policiais com forte armamento. “Eu saio daqui com vontade de chorar. Agora, 16h30, as crianças estão saindo das escolas e bebês estão saindo das creches. Vê-los passando por policiais, bombas, armas, helicópteros é muito ruim e é grave. E é grave que a imprensa não posso entrar”, seguiu a deputada. O acesso à comunidade para a imprensa foi impedido.

Fernando Ferrari, ex-deputado estadual e mediador das negociações entre a favela do Moinho e o governo estadual, criticou a letargia do governo federal, dono da área, e pediu que haja celeridade nos próximos passos.

“Precisamos negociar com o governo federal urgentemente, porque as negociações com o governo estadual não existem mais, as portas estão fechadas. A favela do Moinho pede socorro e pede que vocês, governo federal, tragam uma comissão para negociarmos nosso reassentamento neste território”, disse Ferrari. “O que está acontecendo na comunidade do Moinho é um massacre, é um massacre”, encerrou.

O governo do estado de São Paulo solicitou à União a cessão do terreno em que está a favela do Moinho para a instalação de um parque. O processo para que o terreno fosse liberado para o governo Tarcísio está em curso, mas foi suspenso pelo Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) após a violência policial sofrida pela comunidade nesta terça-feira (13). Órgãos do governo federal se reuniram nesta quarta para discutir o posicionamento da gestão Lula em relação ao caso, mas até a noite de quarta não houve declaração oficial.

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