Em silêncio e de mãos dadas, uruguaios se despedem de Mujica nas ruas de Montevidéu: ‘Obrigado, Pepe’

Milhares de uruguaios foram às ruas da capital do Uruguai, Montevidéu, nesta quarta-feira (14) se despedir do ex-presidente José “Pepe” Mujica, falecido aos 89 anos no dia anterior. Com a principal avenida da cidade, a 18 de julho, fechada para o cortejo fúnebre, a multidão seguiu o caixão puxado por cavalos por cerca de três horas em direção ao Palácio Legislativo, onde está previsto o velório.

Nas ruas da capital uruguaia, a reportagem do Brasil de Fato pôde observar a tristeza durante toda a procissão, que “protegeu” o veículo que transportava o corpo de Mujica com um cordão humano formado por pessoas de braços dados.

O silêncio respeitoso era por vezes quebrado por palmas ou gritos de “obrigado, Pepe”. Ao BdF, a aposentada Isabel Maria diz que a partida de Mujica representa “uma dor enorme”. “Claro que se esperava, por ele estar muito doente, mas ainda assim é uma perda que dói, dói muito”, diz ela.

“É uma referência de honestidade, empatia, coerência. Como ele dizia, vivo como penso, penso como vivo. Agradeço ao presidente Lula pelas palavras dirigidas ao nosso povo e tudo o que disse de Pepe.”

Em nota emitida no dia de sua morte, Lula disse: “Conheço muita gente, eu conheço muitos presidentes, eu conheço muitos políticos, mas nenhum se iguala à grandeza da alma do Pepe Mujica”.

“Mujica foi o maior de todos. Vivíamos no mesmo bairro e lutamos juntos contra as privatizações, com sucesso, quando eu era sindicalista. Nós éramos governo de verdade”, disse ao BdF Roberto Ferradan, aposentado de 82 anos e amigo do ex-presidente.

Já Sandra Ferreira, de 59 anos, disse que Mujica era mais que um presidente, “era um amigo, um peão, um trabalhador”.

“Graças a ele pude ter um emprego digno. Ele ajudou muito as mulheres solteiras, assim como todo o povo uruguaio. Vai ficar nos livros de História como referência por muito tempo”, disse ela.

Reações

Adepto de um estilo de vida austero, fiel a uma retórica anticonsumista, José Mujica morreu em sua modesta casa nos arredores de Montevidéu, local que havia escolhido, acompanhado de sua esposa e ex-vice-presidente uruguaia, Lucía Topolansky.

“Sentiremos muita sua falta, ‘Velho’ querido”, escreveu o presidente uruguaio Yamandú Orsi na rede social X ao anunciar sua morte.

Orsi e Topolansky abriram o cortejo fúnebre nesta quarta-feira às 10h00 locais, (mesmo horário em Brasília), da sede da Presidência até o Palácio Legislativo. A partida do “presidente mais pobre do mundo”, como era frequentemente descrito em manchetes internacionais, desencadeou uma onda de mensagens de líderes latino-americanos e figuras da esquerda internacional.

Além de Lula – que vai ao funeral, na volta da viagem à China – o presidente chileno, Gabriel Boric, que frequentemente expressava sua admiração por Mujica e o visitou em fevereiro, também não poupou elogios.

“Pepe, querido, imagino que você esteja partindo preocupado com a amargura do mundo hoje. Mas se você nos deixou algo, foi a esperança inabalável de que é possível fazer as coisas melhorarem”, disse.

Em tom mais formal, a ex-presidenta argentina Cristina Kirchner, com quem Mujica tinha divergências, declarou que “a América Latina se despede de um grande homem que dedicou sua vida à militância e à pátria”.

Na Espanha, o primeiro-ministro, Pedro Sánchez, destacou que o uruguaio acreditava em “um mundo melhor”.

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