‘Reduzir velocidade das vias é única medida de curto prazo para evitar mortes no trânsito’, diz pesquisador do Ipea

O Brasil registrou 34,8 mil mortes no trânsito em 2023, um aumento de quase 3% em relação ao ano anterior. O dado é do novo Atlas da Violência, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Pela primeira vez, o estudo traz um recorte específico sobre a violência no trânsito, que vem se agravando ano após ano, mesmo após o país ter assumido compromissos internacionais para reverter esse cenário.

Segundo o estudo, o Brasil falhou no cumprimento da meta estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2010, que previa a redução de 50% das mortes e feridos graves no trânsito até 2020. “Infelizmente, tivemos mais mortes do que na década anterior”, lamentou Erivelton Pires Guedes, técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea e um dos autores do relatório, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato. Apesar do compromisso ter sido renovado até 2030, ele diz que “todos os sinais mostram que nós estamos no caminho errado”.

Entre as medidas de curto prazo que podem reverter a escalada de mortes, Guedes defende a redução dos limites de velocidade nas vias, como orienta a campanha atual da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran): “Desacelere, que o seu bem maior é a vida”. Segundo ele, essa pode ser a única política com efeitos imediatos para salvar vidas, ainda que, à primeira vista, pareça impopular.

“A velocidade é um grande fator de aumento do risco e das consequências de um eventual sinistro. Todos os prefeitos têm que tentar reduzir as velocidades nas vias. É uma medida que salva vidas e talvez seja a única medida concreta que temos no curto prazo para poder alcançar uma redução de verdade das mortes no trânsito”, defende.

O alerta do Atlas da Violência reforça o objetivo da campanha Maio Amarelo, que busca promover a conscientização sobre a segurança viária no Brasil. Entre os principais fatores de aumento das mortes no trânsito apontados pelo especialista estão “problemas de falta de infraestrutura, fiscalização inadequada e, principalmente, problemas na educação”.

Crescimento das motocicletas e vulnerabilidade

A pesquisa destaca que motociclistas são 38,6% das vítimas fatais no trânsito. Guedes explica que, com o crescimento acelerado da frota de motos nos últimos anos, impulsionado principalmente pela expansão de aplicativos de entrega e transporte desde a pandemia, aumentou também o número de ocorrências graves envolvendo esses veículos, que são “mais frágeis” e, muitas vezes, “conduzidos por jovens inexperientes”.

“A motocicleta é um desafio gigantesco. Os acidentes com moto tendem a ter gravidade muito alta, com ferimentos graves, perda de membros ou morte”, afirma o pesquisador. Segundo ele, medidas como a “faixa azul”, implementada em caráter experimental na cidade de São Paulo para motos circularem de forma mais segura, têm aplicação limitada e não podem ser tratadas como solução definitiva.

Além disso, Guedes destaca que o fim da cobrança do seguro Danos Pessoais por Veículos Automotores de Terrestres (DPVAT) prejudicou a população mais vulnerável. O seguro obrigatório, extinto em 2021, garantia indenizações a vítimas no trânsito, além de destinar 45% de sua arrecadação ao Sistema Único de Saúde (SUS), cerca de R$ 2 milhões por ano.

“Somente quando o condutor tem um seguro privado, as vítimas têm algum tipo de indenização, [caso contrário] têm que recorrer à justiça. Então, além desse problema para a população mais vulnerável, ainda temos a perda de recursos do SUS”, denuncia.

Para ouvir e assistir

O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.

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