Ministros e chefes de Estados latino-americanos participam nesta terça-feira (13) do 4º Fórum Ministerial China-Celac. O objetivo é aproximar a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) da economia chinesa em um contexto de guerra comercial com os Estados Unidos. A principal plataforma para isso é a Nova Rota da Seda, um dos maiores projetos do século na China.
O presidente colombiano, Gustavo Petro, afirmou que o país pretende entrar na iniciativa. “Vamos assinar a Rota da Seda. Tanto a América Latina quanto a Colômbia são livres, soberanas e independentes. E as relações que estabelecemos com qualquer povo do mundo, do norte, leste, oeste ou sul, devem ser baseadas em condições de liberdade e igualdade”, disse Petro.
O projeto foi lançado em 2013 pelo presidente Xi Jinping. A meta era expandir as relações comerciais dos chineses com o resto do mundo a partir de investimentos em infraestrutura. A inserção e a inclusão nesse projeto estariam centradas nos cinco fatores de conectividade: comunicação política, conectividade de infraestrutura, comércio desimpedido, circulação monetária e entendimento entre pessoas.
A entrada da Colômbia marcará um passo significativo na iniciativa, já que o país tem uma relação histórica com os Estados Unidos e é a terceira maior economia do continente, atrás apenas de Brasil, México e Argentina. O próprio colombiano jogou com a rivalidade comercial entre chineses e estadunidenses e disse que vai pedir a realização de um fórum EUA- Celac.
A Nova Rota da Seda começou com caráter regional no Sudeste Asiático, mas se expandiu justamente na Cúpula China-Celac de 2017, em Santiago do Chile. Hoje, 150 países são signatários do Memorando de Entendimento da Iniciativa do Cinturão e Rota. Só na América Latina, Argentina, Bolívia, Chile, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela estão no projeto ou manifestaram intenção de entrar.
O Panamá havia entrado, mas deixou o projeto em 2025 depois de pressão do governo de Donald Trump. O Brasil não entrou no projeto, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o seu governo vai estabelecer “sinergias” entre alguns programas brasileiros e a iniciativa chinesa.
“Estabeleceremos sinergias entre as estratégias brasileiras de desenvolvimento, como a Nova Indústria Brasil (NIB), o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o Programa Rotas da Integração Sul-Americana, e o Plano de Transformação Ecológica, e a Iniciativa Cinturão e Rota”, disse.
A Argentina já tem projetos de infraestrutura energética e renováveis. Outro país com projetos já em andamento é a Bolívia, que tem obras de rodovias e mineração.
Latinos participam
O presidente chinês Xi Jinping fez nesta terça-feira (13) a abertura da cúpula. Na segunda (12), o ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, se reuniu com os chanceleres cubano, Bruno Rodríguez Parrilla, venezuelano, Yván Gil, peruano, Elmer Schialer e uruguaio Mario Lubetkin.
O presidente Lula participa do fórum. O brasileiro chegou no sábado à China para uma viagem que vai durar 5 dias. Ele terá uma reunião bilateral com Xi Jinping e deve assinar acordos de cooperação. No ano passado, o país exportou US$ 94,4 bilhões em produtos para os chineses, a maioria em soja, minérios e combustíveis. Já os chineses vendem, principalmente, semicondutores, telefones, veículos e medicamentos para o Brasil.
No primeiro dia do encontro, Lula reforçou a importância da cooperação entre os países e disse que a atual governança global “não reflete mais a diversidade que habita nosso planeta”.
“A solução para a crise do multilateralismo não é abandoná-lo, mas sim aperfeiçoá-lo. A governança global já não espelha a diversidade que habita a Terra. Esse anacronismo tem impedido que se cumpra o propósito de evitar o flagelo da guerra, inscrito na Carta das Nações Unidas. Nossa vocação é ser um dos eixos de uma ordem multipolar, na qual o Sul Global esteja devidamente representado. O Fórum Celac-China foi o primeiro mecanismo de interlocução externa da América Latina e do Caribe com um país em desenvolvimento”, disse Lula em seu discurso.
Outro chefe de Estado que está presente é Gabriel Boric, do Chile. Já o México terá uma participação menos protagonista na cúpula. Era esperada a participação de Claudia Sheinbaum, mas quem participa da reunião é o chanceler Juan Román de la Fuente.
A entrada na Nova Rota da Seda será o principal ponto de discussão entre os países. A meta dos chineses é conseguir ampliar essa rede de nações que trabalhem em conjunto com a China em projetos de infraestrutura.
Venezuela negocia
Um dos países que tenta entrar no projeto é a Venezuela. Yván Gil foi até Pequim um ano depois de Maduro formalizar o pedido de entrada no bloco. A ideia do venezuelano é não só fomentar a parceria econômica, como também manter uma aproximação cada vez maior com os chineses para cavar também uma entrada no Brics ainda este ano. A meta é convencer Xi Jinping a trabalhar pela adesão dos venezuelanos.
No ano passado, o Brasil vetou a entrada da Venezuela no Brics. A participação do país caribenho como membro associado já havia sido apoiada pelo presidente russo Vladimir Putin durante a cúpula do Brics em Kazan, em novembro de 2024. Na semana passada, durante a celebração do Dia da Vitória, esse apoio foi reforçado pelo mandatário.
Já os chineses mantêm uma posição de neutralidade nessa questão. A ideia dos venezuelanos é justamente tentar tirar a China dessa postura, já que Pequim é a principal força econômica do Brics. A presidência rotativa do bloco esse ano é do Brasil.
Outra questão que será trabalhada por Yván Gil é a compra de petróleo. Ao final de abril, a vice-presidente e ministra do Petróleo da Venezuela, Delcy Rodríguez, esteve na China para costurar acordos petroleiros.
O objetivo da negociação é tentar ampliar a venda do produto para os chineses em meio a novos ataques dos Estados Unidos contra a economia venezuelana. Em março deste ano, a Casa Branca determinou que a companhia estadunidense Chevron terá que sair da Venezuela até o dia 27 de maio. A empresa é responsável por exportar 20% do petróleo venezuelano.