Mesmo com trégua, Índia e Paquistão mantêm tensão e risco global, diz professora

Apesar do recente cessar-fogo anunciado entre Índia e Paquistão, o cenário na região da Caxemira, disputada pelos dois países, continua sendo de instabilidade e tensão, segundo avaliação da professora Denilde Holzhacker, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Em entrevista ao programa Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, ela lembrou que o conflito entre os dois países é um dos mais antigos em curso, com raízes no fim do domínio britânico no sul da Ásia e a criação do Paquistão, em 1947.

“É um conflito longo que vem desde a independência da Índia e do Paquistão. […] A região da Caxemira foi contestada tanto pelo Paquistão, como pela Índia desde 47. Também tem uma parte contestada pela China, que teve um papel importante nessa disputa”, explicou Holzhacker. A atual escalada de tensão, segundo ela, se insere em um contexto de retórica nacionalista crescente dos dois lados.

De maioria muçulmana, a Caxemira controlada pela Índia (43% do território) vive sob o governo de Narendra Modi que vêm restringindo liberdades civis e religiosas, o que amplia o descontentamento da população local. “Há uma visão muito forte nacionalista, de se tornar ou parte do Paquistão, ou até uma visão de independência”, aponta a especialista.

Potências nucleares e o risco de escalada

Holzhacker destaca que a complexidade do conflito não se resume à disputa territorial ou religiosa. Por envolver Índia e Paquistão, ambas potências nucleares, qualquer novo episódio de violência gera preocupação global. “Sempre que surge um conflito, cria-se a perspectiva de o quanto essa instabilidade pode gerar uma escalada de violência e de uso de armamentos atômicos. Então o mundo olha com muito cuidado”, afirmou.

A instabilidade também é ampliada pela presença de grupos armados que a Índia considera terroristas, enquanto a população local denuncia violações sistemáticas de direitos por parte do Estado indiano. Essa dinâmica, somada ao histórico de confrontos militares, mantém a tensão em níveis elevados.

EUA, China e a disputa por influência

Embora os Estados Unidos tenham mediado o cessar-fogo mais recente, Holzhacker afirma que o governo Trump tem evitado envolvimento direto, buscando não abrir mais um flanco de instabilidade global que demande intervenção.

“O primeiro movimento do presidente [Donald] Trump neste novo mandato foi de dizer que o conflito não tinha relação com os interesses americanos”, afirma a professora. No entanto, diante da escalada recente, o governo passou a atuar como um dos mediadores da trégua.

Apesar da tentativa de distanciamento, os EUA mantêm relações estratégicas com a Índia, incluindo cooperação militar e investimentos. A professora destaca que a visita recente do vice-presidente J.D. Vance ao país asiático, após ataques na Caxemira, reforça essa aliança.

Do outro lado, o Paquistão mantém uma aliança sólida com a China, que fornece apoio econômico e militar. Esse alinhamento coloca o conflito também como um tabuleiro de disputa entre Washington e Pequim. “Esse é um ponto que coloca a questão do equilíbrio entre as disputas também geopolíticas entre Estados Unidos e China”, conclui Holzhacker.

Para ouvir e assistir

O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.