“A Venezuela é um país que dependeu do seu petróleo por muitos anos, mas agora o povo está criando uma consciência de voltar para a agricultura, para a terra, o campo”, disse ao Brasil de Fato Fhelipe Emannuel, do Centro Agroecológico Paulo Kageyama, nesta sexta-feira (9).
Para o militante do MST, que trabalhou nos campos venezuelanos, “agora o povo [da Venezuela] tem consciência do tamanho da importância da produção no campo para a construção da soberania nacional do país”.
“A Venezuela é um país que quer superar a dependência do petróleo, porque eles passaram 100 anos nesse processo.”
Falando à reportagem durante a Feira do MST em São Paulo, Fhelipe explica que essa dependência foi aumentando enquanto duas gerações de camponeses que viviam de cultivar a terra, não investiram na produção e desenvolvimento da agricultura.
“Mas com os bloqueios e sanções ao petróleo venezuelano, do dia para a noite eles não conseguiam mais comprar alimentos para sustentar o povo, comida que eles compravam de fora. Resultado disso foi o caos, o povo sem alimentos.”
“Com Hugo Chávez isso muda”, explica o militante. “Nasce uma nova constituição. E nos primeiros anos de governo, com a lei de terras, mesmo com o grupo de camponeses reduzido, isso foi mudando”.
“Depois de uma série de incentivos para voltar a produzir dentro do país, porque eles já previram um ataque do imperialismo contra a revolução bolivariana.”
Durante sua participação no seminário Caminhos para a Agroecologia, que ocorreu no primeiro dia da 5ª Feira Nacional da Reforma Agrária, Fhelipe relembrou a visita de Chávez a assentamentos do MST: “Ele viu como funcionava a produção saudável do campo, e convidou o movimento a ir para a Venezuela compartilhar a experiência”.
“A gente mandou uma brigada para lá para ensinar e cultivar a consciência da agroecologia, da produção saudável de sementes e plantas.”
“Não foi fácil esse trabalho de pregar a agroecologia, estimular a revolução agroflorestal. Porque ela foi perdida por duas gerações; as pessoas tinham perdido essa relação com o campo.”
“Mas, hoje em dia, está ocorrendo o movimento inverso, de volta para os campos venezuelanos”, completa Fhelipe. Ele pontua que, no mesmo caso do povo brasileiro, “eles precisam da terra para reproduzir e ter uma vida digna. E isso tudo dentro do processo de luta, de romper com a propriedade privada.”
“E isso também faz parte da luta da Venezuela por uma soberania nacional, alimentar e territorial”, completou.
Em março foi inaugurado o projeto Pátria Grande do Sul, no estado Bolívar, no sul do país. Foram entregues 180 mil hectares de terra ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que fará um trabalho em conjunto com o governo venezuelano para ampliar a produção de alimentos seguindo o viés da agroecologia.
A expectativa é produzir 30 mil hectares de feijão, mamão, cana-de-açúcar, inhame, frango, carne de porco, carne bovina e seus derivados, vegetais, milho e galinhas. O MST também prepara a produção de um banco de sementes nativas tradicionais e um viveiro de mudas para reflorestamento.