Policiamento com búfalos é atração turística na ilha de Marajó

O município de Soure, considerado a capital do arquipélago do Marajó, conta com uma modalidade de policiamento diferenciada. A corporação se utiliza do búfalo, que simboliza o local de maior rebanho do Brasil, que contribui para coibir a criminalidade e virou atração turística.
A unidade, vinculada ao Comando de Policiamento XI (CPR XI) – 8º BPM, portanto, realiza o policiamento montado em búfalos, animal símbolo cultural da região.
O município de Soure possui cerca de 25 mil habitantes, enquanto o efetivo do 8º BPM atua com aproximadamente 200 policiais militares. Além de viaturas e motocicletas, a unidade militar conta com o apoio de búfalos.
Somente a Ilha de Marajó, possui cerca de 600 mil cabeças da espécie. O número expressivo de búfalos coloca o arquipélago na posição de maior rebanho do país.
Com isso, o animal é visto com frequência nas ruas da cidade. Desde 1992, o búfalo tem auxiliado nas ações de segurança pública e defesa social da Polícia Militar. Ele tem elevado o nome da corporação, devido à procura de turistas e moradores da região que admiram o animal e a modalidade de policiamento.
O animal selvagem, que costuma pesar em média 590 quilos, consegue se locomover em terrenos e áreas alagadas, devido à força e tração das patas.
Isso acontece, já que Soure é banhada por rios. Além disso, possui muitas áreas de difícil acesso, limitando o alcance de motocicletas e viaturas operacionais em certas ocorrências.
No momento, o 8º Batalhão possui oito búfalos e sete deles estão aptos para o policiamento. Os animais são treinados em áreas alagadas, pelos policiais nativos da região. Quando o búfalo chega na fase adulta e tem um bom desempenho durante os treinos, ele se torna apto para o serviço policial militar, conta o sargento Manoel Vitelli Júnior, integrante do 8º Batalhão.
“A nossa região pede que o policial saiba montar e atuar com búfalos, porque os municípios do Marajó, como Soure, Cachoeira do Arari e Salvaterra, possuem várias áreas alagadas”, disse o sargento Manoel Vitelli Júnior ao portal ‘Agência Pará’, integrante do 8º Batalhão.
“Hoje eu tenho 26 anos de polícia montada em búfalos e é muito gratificante pra mim saber que nosso policiamento é conhecido no mundo todo. Fico feliz em saber que o que a gente passou pra elevar o nome da Polícia Militar teve reconhecimento”, completou o sargento.
O ‘Baratinha’ e o ‘Canária’, como são chamados dois búfalos do 8º BPM, vão até o porto do município receber turistas que vêm de outros estados do Brasil e diversos países para ver de perto o policiamento e registrar com selfies o momento ao lado do animal.
“O búfalo é um atrativo para as pessoas de fora e isso aproxima a Polícia Militar do Pará ao turista e, naturalmente, à população aqui da terra, porque o animal é o símbolo do Marajó, e o policiamento ostensivo se alinha com esse aspecto cultura da região”, destacou o comandante do 8º Batalhão, tenente-coronel Wilson Carlos de Araújo Filho.
Além disso, o oficial disse ainda que em breve uma doutrina vai nortear com mais detalhes a utilização dos búfalos no policiamento ostensivo, transporte e operações.
“Esse policiamento é interessante e único, porque nas outras cidades não é comum a gente ver búfalos no meio da rua, muito menos sendo utilizado no serviço policial. Eu costumo ver todos os dias os policiais e isso me deixa tranquila e me traz a sensação de segurança’’, disse a professora Ana Paula.
A unidade exerce o policiamento com búfalos num município que mesmo com o passar do tempo, ainda preserva o bucolismo, a cultura e a identidade dos moradores da região.
Soure é um município brasileiro localizado na zona fisiográfica da Ilha de Marajó, no estado do Pará, na Região Norte do Brasil. Foi fundada em 20 de janeiro de 1847 por Francisco Xavier de Mendonça Furtado e está localizada a 80 km da capital paraense Belém.
O atual município de Soure, primitivamente era uma aldeia dos índios Muruanazes, onde na época colonial do Brasil residiram alguns missionários. No século XVIII, se constituía na freguesia de Menino Deus.
Em 1757, ao estado do Pará o então governador, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, objetivando criar municípios no interior da Amazônia, assim elevando localidade à categoria de Vila com a denominação de Soure, dando-lhe assim, autonomia municipal.
Em 1833 a vila foi extinta, sendo re-criada em 1847. Entretanto, o seu território permaneceu anexado ao do município de Monsaraz até 1859, quando houve a instalação do município de Soure. Após a proclamação da República (1890), foi criado o Conselho de Intendência Municipal, obtendo assim foros de cidade.
No Marajó, o búfalo está presente na culinária, no policiamento, na produção do couro, nas apresentações culturais e no ambiente familiar dos moradores.
De acordo com o agrônomo e produtor de queijo Carlos Augusto Gouvêa, uma das explicações para a primeira introdução de búfalos no Brasil, nos anos 1890, está baseada na literatura e nas informações de vaqueiros, fazendeiros, nativos e pesquisadores.
Naquele período, um fazendeiro de Soure, chamado Vicente Chermont de Miranda, em viagem pela Itália viu o potencial do búfalo. Ao retornar para a Ilha do Marajó, comprou e trouxe consigo alguns desses animais.
“Tem informações que foram três fêmeas e um macho e tem outras informações que foi um grupo maior. Eu acredito que foram poucos búfalos, porque era um animal desconhecido e ele não ia investir grandes valores para trazer um rebanho maior”, afirmou ao G1
Segundo a Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Pará tinha cerca de 620 mil cabeças (cerca de 40% do total nacional) em 2021, das quais mais de 430 mil estavam apenas na ilha do Marajó.
Gouvêa destacou como o rebanho no Marajó chegou ao patamar de mais 600 mil cabeças apenas com a importação feita por Vicente Chermont de Miranda. Para ele, a entrada dos animais ocorreu pela costa da ilha. Os búfalos, por serem fortes e exímios nadadores, sobreviveram às viagens entre continentes.
Damasceno Gregório dos Santos, o mestre Damasceno, é um artista popular marajoara, que carrega a cultura do búfalo. Nascido na comunidade quilombola Salvar, em Salvaterra, no Marajó, o artista traz na bagagem mais de 400 composições sobre a cultura popular marajoara.
Como forma de valorizar o animal-símbolo da Ilha do Marajó, o artista de 68 anos, com deficiência visual, criou o “Búfalo-Bumbá: Segredo das Meninas”, uma adaptação da tradicional manifestação folclórica no Norte e Nordeste, conhecida por Boi-Bumbá.
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