
Nesta semana, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne em meio a uma pressão crescente sobre a condução da política monetária brasileira. A expectativa majoritária é de que a taxa Selic seja elevada em 0,5 ponto percentual, o que levaria os juros básicos da economia para 14,75% ao ano. A decisão, se confirmada, será uma resposta a um conjunto de desafios persistentes que o país enfrenta, incluindo a inflação resistente, desequilíbrio fiscal e um cenário externo adverso.
No radar do Copom: inflação resistente e fiscal complicado
A inflação acumulada nos últimos 12 meses continua acima da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional. O comportamento dos preços mostra que, apesar da desaceleração econômica e do enfraquecimento do consumo das famílias, a desinflação estrutural ainda não se consolidou. A persistência de núcleos inflacionários, especialmente no setor de serviços, tem dificultado o controle da inflação e coloca a pressão sobre a autoridade monetária.
Para Hugo Garbe, professor de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), “o Copom precisa agir de forma mais firme para tentar ancorar as expectativas inflacionárias”. Garbe observa que o quadro fiscal também contribui para a incerteza, já que o governo tem enfrentado dificuldades para atingir as metas do novo arcabouço fiscal. O aumento do gasto público sem medidas claras de aumento da receita gera receio nos investidores, que temem a pressão fiscal sobre a inflação e os juros de longo prazo.
O impacto do cenário internacional
Além dos desafios internos, o cenário internacional também tem agravado a situação econômica do Brasil. A volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos reconfigurou a política comercial americana, impactando diretamente a economia brasileira. O aumento de tarifas sobre exportações brasileiras, que já está em curso, e o fortalecimento do dólar, como resposta à política externa mais protecionista, tornam as condições financeiras no Brasil ainda mais desafiadoras.
De acordo com Garbe, “essa inflação importada, somada aos fatores internos, exige uma postura mais firme do Copom”. O aumento da tarifa sobre as exportações e a pressão sobre o câmbio alimentam a inflação interna, forçando o Banco Central a continuar com sua estratégia de juros elevados.
Sinalização do Copom será crucial
A decisão sobre o aumento de 0,5 ponto percentual na Selic será acompanhada de perto, mas a sinalização do Copom será igualmente importante. Os mercados estão atentos ao tom do comunicado e às perspectivas do Banco Central sobre a continuidade ou término do ciclo de alta de juros. A previsibilidade da política monetária, em um momento de instabilidade, é essencial para evitar reações negativas no mercado e garantir o controle das expectativas futuras.
A necessidade de ações estruturais
Apesar de uma eventual alta da Selic, Garbe alerta que juros elevados, por si só, não são suficientes para resolver os problemas estruturais da economia brasileira. “A política monetária precisa ser acompanhada de uma política fiscal responsável e de reformas que aumentem a eficiência do gasto público e a produtividade do setor privado”, afirma o economista. Sem essas medidas, o Brasil permanecerá preso a ciclos de alta inflação e juros elevados.
A reunião do Copom será crucial para determinar o rumo da política monetária brasileira, e as decisões tomadas terão impactos duradouros na inflação, nos juros e na confiança dos investidores no Brasil.
Leia mais notícias e análises clicando aqui
Conheça nosso canal no YouTube
O post Copom e Selic: pressões fiscais e inflação no radar dos economistas apareceu primeiro em BM&C NEWS.