O professor Ahmad Alzoubi, jornalista e pesquisador palestino, lança nesta semana no Brasil o livro Diáspora Palestina na América Latina – Estudos de mídia e identidade, que analisa como os principais jornais de cinco países latino-americanos — Argentina, Brasil, Chile, El Salvador e Honduras — abordam a causa palestina e influenciam a opinião pública sobre o tema. A obra parte da análise crítica dos conteúdos midiáticos publicados antes dos ataques de 7 de outubro de 2023, e aponta que a cobertura tende a seguir o discurso das potências ocidentais.
No Brasil, ele estudou a cobertura do jornal Folha de S.Paulo. “O jornal se apoia em agências internacionais, reproduzindo uma perspectiva imperialista, alinhada às vozes dos Estados Unidos ou do Reino Unido quando se trata da Palestina. Assim como nos outros países da região, não há correspondentes e jornalistas brasileiros acompanhando diretamente o que acontece na Faixa de Gaza, na Cisjordânia, em Jerusalém ou em outras partes da Palestina”, disse em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
Essa conduta, de acordo com Alzoubi, ignora preceitos do jornalismo, como ouvir diretamente fontes atingidas. “Falta um olhar próprio, de quem vê e relata com base na própria experiência. As agências internacionais não falam com palestinos, não mostram o sofrimento das famílias que vivem sob ocupação, das casas destruídas, das crianças e mulheres”, avaliou.
Alzoubi também criticou a tática do governo de Israel de associar qualquer crítica ao regime à prática de antissemitismo. Segundo o pesquisador, há uma “voz da ocupação” que molda discursos e se impõe sobre jornalistas, rádios e televisões, influenciando a forma como a causa palestina é apresentada. Ele destacou que há outras vozes importantes – inclusive no Brasil, onde menciona o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como defensor do povo palestino – que precisam ser ouvidas. Alzoubi também mencionou a existência de conexões profundas entre a ocupação israelense e estruturas acadêmicas, midiáticas e de segurança em países latino-americanos.
O pesquisador, que também atua como professor de Jornalismo e Comunicação no Catar, comentou ainda o alto número de jornalistas mortos nos últimos anos, especialmente em Gaza. Segundo o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), 85 dos 124 jornalistas mortos em 2024 foram vítimas das forças israelenses. “Nós, jornalistas, sofremos neste momento. Eles não querem pessoas vendo o que realmente acontece na Palestina, em Gaza”, lamentou, lembrando que a repressão à imprensa na Palestina não começou agora, mas remonta a décadas de ocupação.
Por fim, Alzoubi reforçou a importância de uma cobertura comprometida com os direitos humanos e com a verdade. “Brasileiros, argentinos e todos os latino-americanos precisam saber o que que acontecendo. […] Palestinos querem paz, querem viver como nós. Aqui no Brasil, vivo com paz. Sem mídia livre para cobrir o que está acontecendo, a verdade fica questionável”, ressaltou.
Para ouvir e assistir
O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.