Israel aprova plano para a ‘conquista’ e ocupação permanente da Faixa de Gaza

O gabinete de segurança de Israel aprovou um plano para expandir as operações militares em Gaza, que inclui a “conquista” do território palestino e o deslocamento da população, informou nesta segunda-feira (5) uma fonte de alto escalão do governo. A nova fase do genocídio deve começar após a visita do presidente dos EUA, Donald Trump, ao país, na próxima semana.

Horas antes da reunião, o Exército anunciou no domingo (4) a mobilização de dezenas de milhares de reservistas para intensificar a ofensiva em Gaza contra o movimento islamista palestino Hamas.

“O plano incluirá, entre outras coisas, a conquista da Faixa de Gaza e a manutenção dos territórios”, assim como “movimentar a população de Gaza para o sul para sua proteção”, afirmou a fonte.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, também “continua apoiando” a ideia de Trump de promover a emigração voluntária dos habitantes de Gaza para países vizinhos, como Jordânia e Egito, acrescentou a fonte do governo. Ambos os países, porém, já expressaram oposição à proposta.

A fonte consultada pela AFP disse que o plano inclui desferir “golpes poderosos ao Hamas”, sem especificar sua natureza, e garantir o retorno dos reféns israelenses que permanecem em cativeiro.

O gabinete se reuniu depois que um míssil lançado pelos rebeldes huthis do Iêmen atingiu no domingo uma área próxima à pista do principal aeroporto de Israel, perto de Tel Aviv, uma ação reivindicada por este grupo aliado do Hamas e próximo do Irã.

Hamas denuncia “chantagem política”

O gabinete de segurança também aprovou “a possibilidade de efetuar distribuições humanitárias, se necessário”, em Gaza, “para impedir que o Hamas assuma o controle dos suprimentos e destrua sua capacidade de governança”.

Israel impõe um bloqueio severo em Gaza desde 2 de março, mas ministros e comandantes militares argumentaram que “há atualmente comida suficiente” no território, apesar da advertência de organizações humanitárias e agências da ONU sobre as consequências do bloqueio, com denúncias de um cenário de fome e desespero para a população.

O Hamas afirmou nesta segunda-feira que o plano israelense para a entrega de ajuda em Gaza equivale a uma “chantagem política” e culpou Israel pela “catástrofe humanitária” enfrentada pelos 2,4 milhões de habitantes de Gaza.

A ONG Conselho Norueguês para os Refugiados (NRC) denunciou, também nesta segunda, que o plano do governo israelense é “contrário aos princípios humanitários”.

Um grupo de agências da ONU e ONGs nos Territórios Palestinos acusou Israel de tentar “fechar o sistema de distribuição de ajuda existente” para obrigá-las a “entregar os suprimentos através de centros israelenses nas condições estabelecidas pelo Exército israelense”.

O plano “sacrifica os prisioneiros”

Israel intensificou os bombardeios aéreos e ampliou as operações terrestres na Faixa de Gaza desde que rompeu uma trégua e retomou o genocídio no território palestino em 18 de março.  A Defesa Civil do território anunciou nesta segunda-feira que 19 pessoas morreram em ataques de Israel no norte de Gaza.

O chefe do Estado-Maior do Exército israelense, Eyal Zamir, confirmou no domingo relatos de uma nova mobilização de reservistas, que afirmou ter como objetivo intensificar a pressão militar em Gaza para obter o retorno dos prisioneiros a Israel.

A imprensa israelense informou que este plano não será implementado antes da visita de Trump ao Oriente Médio na próxima semana. O Fórum das Famílias dos prisioneiros capturados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023 disse que o plano anunciado “sacrifica os prisioneiros”.

“Esta manhã, o governo reconheceu que escolhe o território e não os prisioneiros, ao contrário do desejado por mais de 70% da população”, afirma um comunicado divulgado pelo Fórum das Famílias.

O Hamas mantém 58 prisioneiros, do total de 251 capturados em 7 de outubro de 2023. O ataque do movimento islamista naquele dia provocou as mortes de 1.218 pessoas do lado israelense. O genocídio israelense que se seguiu matou pelo menos 52.535 pessoas desde então em Gaza, a maioria mulheres e crianças.

*Com AFP e Haaretz

Adicionar aos favoritos o Link permanente.