Uma funcionária indicada pelo prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), para cargo na Secretaria da Cultura da capital paulista é presidente de uma associação que teve as contas reprovadas na mesma pasta. Ana Lúcia Soares, que preside o Instituto Brasileiro Social Cultural e Esportivo (Ibrasce), não prestou contas de R$ 1,4 milhão em recursos captados para projetos culturais entre 2019 e 2022. A falha resultou na determinação de que a entidade devolvesse os valores recebidos.
Atualmente, Ana Lúcia Soares é coordenadora do Centro de Culturas Negras do Jabaquara, subordinada à pasta da Cultura. Essa não foi a primeira nomeação de Soares para um cargo na administração Nunes. Em 31 de julho de 2024, ela foi nomeada secretária de Cultura. Quatro dias depois, sua nomeação foi tornada sem efeito, após vir à tona o fato de que o Ibrasce, entidade que fundou, estaria em falta com a prestação de contas na mesma pasta.
O Ibrasce recebeu R$ 531 mil para o desenvolvimento de oficinas culturais, que tiveram a prestação de contas rejeitadas em 2022. O outro projeto, que captou R$ 300 mil, tinha como objeto a produção do documentário Anastácia – Mulheres sem medo de (re)começar.
No despacho que reprovou a prestação de contas e determinou a devolução dos recursos, a pasta determina que juros e correção monetária sejam aplicados, o que fez a dívida saltar para R$ 631 mil. O documento é assinado pela ex-chefe da secretaria de Cultura, Aline Torres.
O instituto presidido por Ana Lúcia Soares também recebeu a determinação de devolver recursos à Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo (SMDHC), em 2022. O Ibrasce recebeu R$ 300 mil para um projeto chamado de “Casa Anastácia’s”, que também teve a prestação de contas recusada. O valor foi repassado em 2019, via emenda parlamentar do gabinete de Ricardo Nunes, que era vereador na época.

Apesar de presidir uma entidade que segue devedora da Prefeitura de São Paulo, Ana Lúcia Soares foi mantida como gestora do Centro de Culturas Negras, cargo para o qual foi nomeada em fevereiro de 2022, onde recebe R$ 7.453,96 por mês.
Em 2020, Ana Lúcia Soares foi candidata a vereadora em São Paulo, pelo MDB, legenda de Nunes. Recebeu apenas R$ 40 mil em doações, todo o recurso oriundo do partido. Na época, declarou possuir um patrimônio de R$ 140 mil.
Outro lado
O Brasil de Fato procurou a Prefeitura de São Paulo. No entanto, após contato telefônico com uma assessora de imprensa, o governo de Ricardo Nunes desistiu de se manifestar na matéria. A reportagem insistiu e questionou se as secretarias receberam os recursos cuja devolução havia sido determinada pelas pastas. Ainda assim, não houve resposta.
Ana Lúcia Soares foi encontrada apenas em suas redes sociais, mas não respondeu.
Caso se manifestem, o texto será atualizado.