Quem é o candidato que desafia Putin e se opõe à guerra na Ucrânia


Veterano político de centro-direita, Boris Nadezhdin promete encerrar conflito, libertar presos políticos e reverter legislação anti-LGBT e deverá ter candidatura barrada por órgão eleitoral. Boris Nadezhdin, candidato opositor de Vladimir Putin nas eleições da Rússia em 2024, em visita ao Comitê Central Eleitoral de Moscou, em 31 de janeiro de 2024.
Shamil Zhumatov/ Reuters
Boris Nadezhdin. Preste atenção nesse nome. Aos 60 anos, é atualmente o único candidato russo que se opõe abertamente a Vladimir Putin nas eleições de 17 de março, nas quais o presidente concorre ao quinto mandato. Ele promete pôr fim à Guerra da Ucrânia, libertar presos políticos e reverter a legislação anti-LGBT em vigor no país.
Indicado pelo partido de centro-direita Iniciativa Cívica, nas últimas semanas, Nadezhdin viu o apoio popular expresso em longas filas formadas para fornecer assinaturas em prol de sua candidatura. Nesta quarta-feira, ele apresentou o registro de 105 mil assinaturas exigidas pelo Conselho Eleitoral Central, embora assegure que tenha obtido o dobro.
Questionado pelo “Moscow Times” sobre a sua mensagem ao Ocidente, Nadezhdin respondeu com expressões que o país dirigido por Putin desconhece: “A Rússia deve ser livre e pacífica.”
O que vem a seguir segue um roteiro já definido. A exemplo de outras tentativas, é pouco provável que a candidatura seja aprovada pelo Conselho Eleitoral. A jornalista Yekatarina Duntsova foi excluída recentemente da disputa sob a alegação de “erros numerosos” na documentação apresentada.
O órgão eleitoral tem dez dias para examinar a candidatura de Nadezhdin e formalizá-la. Além de Putin, outros três candidatos já estão aprovados: Vladislav Davankok, do Partido Novo, o nacionalista Leonid Slutsky, do Partido Liberal Democrata e o comunista Nikolai Kharitonov.
Apenas Nadezhdin faz campanha contra a guerra que Putin empreende há quase dois anos na Ucrânia. Ele promete o retorno imediato dos soldados do país vizinho e, com isso, mobiliza jovens eleitores. Seu desafio ao presidente russo unificou a oposição e atraiu também nomes proeminentes da oposição, entre os quais ex-campeão de pôquer Maxim Katz e o oligarca Mikhail Khodorkovsky, além da Fundação Anticorrupção, do opositor Alexei Navalny, confinado numa prisão na Sibéria.
Como político veterano, Nadezhdin circulou durante muito tempo na esfera do Kremlin: na década de 1990 atuou como conselheiro do então vice-primeiro-ministro Boris Nemtsov, que se tornou crítico do regime e foi assassinado em 2015 com quatro tiros nas costas. Serviu também como assistente do ex-premiê Sergey Kiriyenko, atualmente vice-chefe de gabinete de Putin.
Essas credenciais levaram desconfiança à candidatura. Há quem o veja como um emissário do Kremlin, que serviria apenas para dar um verniz democrático às eleições, sem prejudicar a vitória de Putin. O jornalista Andrey Pertsev, do site investigativo Meduza, diz que o histórico de Nadezhdin mostra que ele teria sido uma boa escolha para esse papel, mas o candidato tem trilhado um caminho diferente.
“Seu manifesto eleitoral afirma que Putin arrasta a Rússia de volta ao passado, que cometeu um erro fatal quando foi à Guerra da Ucrânia e que o país corre em direção ao feudalismo medieval e ao obscurantismo. O Kremlin nunca concordaria que alguém dissesse essas coisas”, ponderou o jornalista num artigo para o Carnegie Endowment International Peace.
No seu entender, o mais importante nesse processo é que Nadezhdin tornou-se um ímã para os russos que se opõem à guerra e querem uma mudança de regime. É muito provável que sua candidatura não vingue, que ele seja impedido de concorrer e que Putin triunfe em março. Mas Nadezhdin será a prova de que existe oposição ao presidente.
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