Saiba por que a meritocracia deve prevalecer nas políticas de diversidade

Constituição Federal de 1988. Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

*Artigo escrito por Alice Effgen, engenheira mecânica, MBA em Gestão de Projetos e Processos, tecnóloga em Processos Gerenciais e membro do Ibef Academy.

Nos últimos anos, a diversidade tem ganhado destaque nas discussões sobre gestão empresarial. Muitas empresas têm adotado políticas voltadas para promover a inclusão de diferentes grupos identitários, influenciadas por pressões sociais, regulamentações e expectativas do mercado.

No entanto, é crucial avaliar se essas iniciativas, principalmente quando impostas, não acabam comprometendo a meritocracia e a eficiência, valores essenciais para o sucesso das organizações.

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As empresas têm o direito e a responsabilidade de buscar eficiência e excelência em suas contratações. No Brasil, legislações e regulamentações incentivam e/ou obrigam as empresas a implementarem medidas inclusivas.

Leis de reserva de vagas para pessoas com deficiência e programas para ampliar a presença de mulheres e minorias raciais em cargos de liderança são exemplos comuns.

Meritocracia, legislação e empresas

Embora com objetivos válidos, essas políticas frequentemente colocam as empresas em um dilema. A necessidade de cumprir metas de inclusão se sobrepõe à busca por competência, forçando contratações ou promoções baseadas em critérios identitários.

No Brasil, a Lei de Cotas para Pessoas com Deficiência (Lei nº 8.213/1991) exemplifica essa pressão, ao obrigar empresas com mais de 100 funcionários a reservar entre 2% e 5% de suas vagas para pessoas com deficiência, sob pena de multas e sanções administrativas.

Segundo dados do Ministério Público do Trabalho (MPT), cerca de 46% das empresas relataram dificuldades para preencher as vagas exigidas, muitas vezes devido à carência de profissionais capacitados.

Esse cenário leva à alocação de trabalhadores em funções que nem sempre correspondem às suas habilidades ou ao pleno potencial da organização, gerando custos adicionais e possíveis impactos negativos na produtividade e no engajamento das equipes.

Embora bem-intencionada, essa interferência pode limitar a capacidade das empresas de contratar os profissionais mais qualificados para atender às suas demandas.

Pequenas empresas

Embora grandes empresas tenham mais recursos para lidar com essas demandas, pequenas organizações frequentemente encontram dificuldades para implementar políticas inclusivas sem afetar sua capacidade produtiva.

As empresas menores enfrentam obstáculos adicionais, como orçamentos mais restritos e menor flexibilidade operacional, tornando ainda mais desafiador o cumprimento de metas obrigatórias de diversidade.

Por outro lado, a meritocracia oferece um modelo que valoriza talento, dedicação e competência individual. Nos processos seletivos, ela garante que as decisões sejam baseadas em qualificações técnicas, desempenho e alinhamento com as necessidades da organização.

Além disso, promove igualdade de oportunidades ao estabelecer critérios claros e transparentes, aplicáveis a todos os candidatos.

Meritocracia e liberdade

Ter a liberdade empresarial para tomar decisões com base em mérito é fundamental em um país onde empresas já enfrentam obstáculos significativos, como alta burocracia e instabilidade econômica.

Restrições adicionais, como as metas obrigatórias de diversidade, limitam a autonomia das organizações, dificultando sua capacidade de competir no mercado e de atrair os melhores talentos.

Respeitar a liberdade empresarial não significa ignorar a importância da diversidade. As empresas podem adotar estratégias próprias para promover inclusão sem comprometer a eficiência. No entanto, a implementação de metas de inclusão pode gerar questionamentos internos sobre o mérito das contratações e apresentar desafios para o engajamento.

A liberdade de contratar com base no mérito é fundamental para garantir que as empresas permaneçam competitivas e inovadoras. Substituir esse princípio por quotas de diversidade compromete a autonomia das organizações e distorce a essência do mercado, que se baseia na valorização do talento e da competência.

A diversidade não deve ser um objetivo imposto, mas o reflexo natural de um sistema justo, transparente e meritocrático. Quando as empresas têm liberdade para agir com base no que realmente importa — o mérito —, a pluralidade ocorre de forma genuína, beneficiando todos os envolvidos.

Em um mundo competitivo, as empresas precisam de autonomia para escolher os melhores.

É hora de respeitar a liberdade empresarial e priorizar a meritocracia como o caminho para construir equipes fortes, eficientes e, naturalmente, diversas.

Este texto expressa a opinião do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo.

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