Nos dias 9 e 10 de abril, o Brasil de Fato e o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) realizarão a Mostra de Cinema da Terra com filmes temáticos, durante a Feira da Reforma Agrária, em São Paulo.
Ao longo dos dois dias, serão exibidos seis documentários produzidos pelo BdF ou MST. No primeiro dia, é a vez de Terra Vista e Assentamento Olga Benário – Sementes da Resistência, todos lançados neste ano. Também haverá o lançamento do documentário Máquinas Chinesas, do Brasil de Fato. No domingo, serão exibidos O fantasma ronda o acampamento, de 2020, Transexualidade, travestilidade e reforma agrária popular, de 2025, e Comuna o nada, de 2024.
Confira as sinopses dos filmes
Terra Vista
Terra Vista é uma produção do Brasil de Fato que aborda a luta do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) para enfrentar o agronegócio e transformar, por meio da agroecologia, com foco no cultivo de cacau, uma região marcada pelo coronelismo e condições degradantes de trabalho no Sul da Bahia.
Com direção de Noa Cykman e Pedro Stropasolas, o filme aborda a trajetória de camponeses e camponesas do Assentamento Terra Vista, em Arataca (BA), para reflorestar uma antiga fazenda degradada na região conhecida como Costa do Cacau. Hoje, as 55 famílias assentadas nos 904 hectares se destacam pela preservação ambiental, agroecologia e produção de mudas da Mata Atlântica.
O enredo traz entrevistas inéditas com os primeiros moradores do assentamento e como se deu o processo de transição agroecológica – que perdura até hoje. O MST ocupou a fazenda em 8 de março de 1992 e, após cinco despejos, conquistou a propriedade para interesse social, contra os latifundiários e coronéis do cacau da região. Desde 2000, quando foi implementado os sistemas agroflorestais, as famílias do assentamento recuperaram 92% da mata ciliar do Rio Aliança e 80% das nascentes.
Assentamento Olga Benário – Sementes da Resistência
O documentário conta a história de famílias do assentamento Olga Benário, criado em 2006, em Tremembé, no interior de São Paulo. A produção também traz uma homenagem a Gleison Barbosa de Carvalho, de 28 anos, e Valdir do Nascimento, 52 anos, que foram mortos em janeiro deste ano, quando criminosos invadiram o assentamento com carros e motos, disparando indiscriminadamente contra as pessoas.
Liderança histórica do MST no Vale do Paraíba e coordenador do assentamento, Valdirzão era também um dos protagonistas da transformação da comunidade em um núcleo de coleta de sementes agroflorestais. Ele tinha sido designado como guardião da Casa de Sementes, ainda em processo de construção dentro do seu lote.
Máquinas Chinesas
O filme produzido pelo Brasil de Fato explora a introdução de máquinas agrícolas chinesas na agricultura familiar brasileira, destacando seu impacto social e econômico nas comunidades rurais. Parte de uma parceria entre China, Brasil, Consórcio Nordeste e movimentos populares.
O filme explora pautas fundamentais, como a redução da penosidade do trabalho no campo, proporcionando alívio aos agricultores ao eliminar tarefas mais árduas. Essa transformação também contribui para a diminuição do êxodo rural entre os jovens, que enxergam nas novas tecnologias uma perspectiva de futuro promissor no ambiente rural. A inclusão das mulheres na mecanização emerge como um tema central, destacando a mudança de papéis e o empoderamento feminino no setor agrícola.
Além disso, o documentário investiga o aumento da produtividade que essas máquinas podem oferecer, fortalecendo a reforma agrária e fortalecendo a produção agroecológica das famílias camponesas. O Brasil de Fato esteve no Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte e na China para ilustrar os desafios enfrentados por esses agricultores e a revolução que a mecanização pode trazer para a produção de alimentos saudáveis no Brasil. É uma reflexão poderosa sobre a luta por justiça social e a valorização da agricultura familiar.
O fantasma ronda o acampamento
Gravado com crianças da Ciranda Saci Pererê, da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a obra é baseada no livro homônimo da escritora Maria José Silveira, publicado em 2006 pela Editora Expressão Popular e destinado ao público pré-adolescente.
Na história, os “sem-terrinha” descobrem a trama de um fazendeiro e seus capangas para assustar e retirar um acampamento do MST recém-instalado. As filmagens ocorreram na Escola Nacional Florestan Fernandes entre os meses de julho e agosto de 2019. Foram oito dias de trabalho com as crianças, atores e atrizes populares do MST.
Transexualidade, travestilidade e reforma agrária popular
Um documentário da Brigada de Audiovisual Eduardo Coutinho do MST que dialoga sobre transexualidade, travestilidade e reforma agrária popular a partir das discussões do 1º Encontro Nacional de Trans e Travestis Sem Terra do MST.
O primeiro encontro nacional de pessoas trans e travestis do MST no Ceará é destacado como um marco para mapear, oferecer formação política e compartilhar conhecimentos sobre a diversidade camponesa e sem terra, buscando entender os desafios do Movimento para superar violências e a transfobia no campo.
A participação de pessoas trans e travestis no MST não é retratada como uma pauta isolada, mas intrinsecamente ligada à luta pela reforma agrária e por uma sociedade livre de estigmas. Ser uma mulher trans ou uma pessoa travesti no MST é visto como um ato de resistência, persistência e luta diária pela dignidade no campo, contra a expulsão de seus territórios causada pela associação entre latifúndio e transfobia, que muitas vezes leva à marginalidade e à prostituição. A reforma agrária é essencial não apenas para a produção de alimentos saudáveis e a preservação ambiental, mas também para proporcionar uma vida digna e autonomia às pessoas trans e travestis, permitindo-lhes existir, trabalhar na terra e construir, desafiando generalizações e rótulos sociais.
Comuna o nada
Comuna o Nada – A organização popular que sustenta a revolução bolivariana, que foi produzido pelo Brasil de Fato durante o período eleitoral de julho de 2024, ouviu e visitou diversas comunas, em distintas regiões da Venezuela, para entender como essa organização se fortaleceu ao longo do tempo e qual o tamanho da influência das comunas na política venezuelana.
As comunas foram idealizadas pelo então presidente venezuelano Hugo Chávez, anos antes de sua morte por problemas de saúde, em 2013. A iniciativa começou a ser implementada em 2010, após a promulgação da Lei Orgânica de Comunas. Os desafios para que a ideia se tornasse realidade foram os mais diversos, mas o grande sonho de Chávez se concretizou.
Hoje mais de 90% do território venezuelano tem organizações sociais formalizadas como comunas ou em processo de formalização. Oficialmente, existem 3.662 comunas na Venezuela e outras 1.578 já se consideram comunas, mas ainda carecem do aval estatal para atuar como tal.