Florianópolis organiza plano integrado para manejo e monitoramento de capivaras

Florianópolis organiza plano integrado para manejo e monitoramento de capivaras

Florianópolis organiza plano integrado para manejo e monitoramento de capivaras – Foto: PMF/Divulgação

Nos parques, praças e até nas ruas, elas passeiam sem pressa, conquistam olhares e dividem espaço com a rotina agitada da cidade. A convivência cada vez mais próxima entre humanos e capivaras (Hydrochoerus hydrochaeris) em Florianópolis acendeu o alerta das autoridades ambientais e de saúde pública. Para enfrentar o desafio, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável criou o Projeto CAPI – Capivaras na Ilha, com diretrizes específicas para o manejo e o monitoramento da espécie na cidade.

Coordenado pela servidora Priscilla Regina Tamioso, o projeto conta com o apoio de um Grupo Técnico de Trabalho interinstitucional, reunindo UFSC (Universidade Federal de SC), Floram (Fundação Municipal do Meio Ambiente), IMA/SC (Instituto do Meio Ambiente de SC), Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e outras entidades. A iniciativa visa proteger a fauna silvestre e mitigar riscos à saúde pública, respeitando a legislação ambiental e o bem-estar animal.

“É indispensável a implementação de um plano integrado de ações que inclua estudos técnicos, monitoramentos, educação ambiental e medidas de manejo. Só assim conseguimos atuar com responsabilidade diante da convivência entre seres humanos e a fauna silvestre,” afirma o secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Alexandre Waltrick Rates.

Ações atendem solicitação do Ministério Público Federal

A criação do projeto também responde a uma solicitação formal do Ministério Público Federal. Em 2025, o MPF cobrou informações atualizadas da Prefeitura sobre a formação de um grupo técnico para tratar da presença crescente de capivaras no Campus I da Udesc (Universidade do Estado de SC), no Itacorubi, onde há risco de acidentes e transmissão de zoonoses, como a Febre Maculosa.

O Ofício n° 800/2025-GAB-WAM, vinculado ao processo I 50434/2025, pede diretrizes claras para prevenir riscos à saúde e à fauna. Em resposta, a Prefeitura da Capital reforça que o Projeto CAPI já articula ações estruturadas para análise técnica, monitoramento e planejamento de manejo ambiental, com base em estudos científicos conduzidos na UFSC, que envolvem o Projeto Fauna Floripa e outros laboratórios.

Pesquisa científica e manejo ambiental

Estudos desenvolvidos pela UFSC, com apoio da Floram e do IMA/SC, mapeiam as áreas de distribuição de capivaras na cidade, avaliam riscos de atropelamentos e caracterizam os ectoparasitas associados aos animais — como os carrapatos do gênero Amblyomma, vetores da bactéria Rickettsia, causadora da Febre Maculosa.

De acordo com os dados da Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina, não há registros de óbitos por Febre Maculosa no estado. Todos os casos estão associados à forma branda da doença e evoluíram para cura. No município de Florianópolis, no ano de 2024 foi confirmado apenas 1 caso autóctone de Febre Maculosa segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), não sendo possível comprovar a localização de infecção e a fonte de transmissão. Ainda assim, a proximidade das capivaras com áreas urbanas justifica o reforço das medidas de prevenção.

Entre as ações práticas que estão sendo implementadas, mencionam-se:

  • Limpeza periódica de parques e praças, reduzindo a altura da vegetação para dificultar a proliferação de carrapatos;
  • Instalação de barreiras físicas entre áreas verdes e espaços de passeio;
  • Alteração de substratos para reduzir a migração de carrapatos;
  • Cercamentos estratégicos para limitar a circulação de capivaras em áreas públicas;
  • Elaboração de placas informativas e campanhas de educação ambiental.

O Jardim Botânico de Florianópolis foi a primeira área a receber essas intervenções.

Manejo populacional depende de autorização federal

Conforme normas do Ministério da Saúde, a realização de manejo populacional de capivaras — como captura, realocação ou controle de natalidade — só pode ocorrer após estudos técnicos detalhados e com autorização expressa do IBAMA.

Atualmente, em Florianópolis, não há indicação de manejo direto, uma vez que não se confirmou a circulação de Rickettsia rickettsii, agente da forma grave da Febre Maculosa, e o número de casos registrados é considerado baixo.

Educação e conscientização

Além das medidas ambientais, o município discute a implementação de ações educativas em escolas, com materiais didáticos sobre a importância da convivência segura com a fauna silvestre.

A Floram também participa de encontros periódicos com UFSC, IMA/SC, IBAMA, DIVE/SC e SEMA/SC para alinhar estratégias conjuntas, fortalecendo a atuação integrada e multidisciplinar na gestão das capivaras em Florianópolis.

Por que as capivaras se adaptam tão bem às cidades?

A presença de capivaras em áreas urbanas é o reflexo direto das transformações no ambiente natural.

Sem predadores naturais, com abundância de alimentos e falta de competidores diretos, além da transformação do seu ambiente de ocorrência natural (cursos d’água, manguezais etc), esses animais encontram nas cidades condições favoráveis para se desenvolver. Além disso, o alto potencial reprodutivo da espécie favorece o crescimento populacional rápido, aumentando a proximidade com as pessoas.

Em Florianópolis, onde as capivaras chegaram a ser consideradas extintas na década de 1990, o cenário mudou com a recolonização espontânea e a expansão das áreas verdes urbanas. Hoje, parques, praças e margens de rios oferecem refúgio e alimento — mas também exigem novas estratégias de gestão para garantir o equilíbrio entre fauna e cidade.

Conforme determina a Lei Municipal nº 10.199, de 27 de março de 2017, a Prefeitura Municipal de Florianópolis informa que a produção deste conteúdo não teve custo, e sua veiculação custou R$2.000,00 reais neste portal.

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