Dirigente do MST critica projeto de mineração em terras indígenas: ‘Tentativa de legalizar um crime’

O coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Gilmar Mauro, fez duras críticas à criação de um grupo de trabalho na Câmara dos Deputados, liderado por Davi Alcolumbre (União-AP), para discutir um projeto de lei que regulamenta a mineração em terras indígenas. Para ele, a proposta representa um ataque direto aos povos originários e à preservação ambiental. “É a tentativa de legalizar um crime que já vem sendo cometido”, afirmou em entrevista ao Conexão BdF, do Brasil de Fato.

Mauro lembrou os riscos de tragédias ambientais envolvendo barragens de rejeitos. “Se chovesse os mesmos 400 mm que caíram no Rio Grande do Sul na região de Belo Horizonte, com tantas barragens, o que aconteceria?”, questionou. Segundo ele, o projeto beneficia grandes empresas extrativistas que lucram sem pagar impostos, deixando apenas “crateras e destruição ambiental sem nenhum desenvolvimento econômico e social”.

Além dos danos ambientais, o dirigente destacou a violência estrutural do garimpo sobre os povos indígenas. “Não é só extração ilegal de minério. É um conjunto de ações: estupros, mortes, destruição da floresta, mas também dos povos que cuidam dela. Essa ação é uma tentativa de legalizar um crime contra comunidades e contra uma reserva extraordinária para o Brasil.”

“É a destruição dos biomas que são fundamentais para a sobrevivência do povo brasileiro. É um crime isso que que a Câmara Federal está querendo legalizar e, infelizmente, em algum grau, com anuência do STF na figura do [ministro] Gilmar Mendes”, lamentou.

Governos assumiram violência contra classe de trabalhadores

Ao comentar o atropelamento do agricultor Gideone Menezes, de 67 anos, durante uma marcha do MST em Pernambuco, Gilmar Mauro denunciou o que classifica como uma continuidade da violência histórica no campo. Ele destaca que, desde os anos 1970, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) registra mais de 1,6 mil assassinatos ligados a conflitos agrários, a maioria sem investigação ou punição.

Para o coordenador, os ataques recentes são reflexo de um processo intensificado durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas que não se limita a ele. “Nos últimos anos, o sentido republicano foi para o espaço, foi para a lata do lixo, porque os governos assumiram publicamente essa visão de violência contra as classes trabalhadoras, muito particularmente contra os sem-terra. Deputados federais fizeram campanhas eleitorais se utilizando de discursos de violência e de ódio contra o MST”, exemplificou.

Ele também apontou a omissão do poder público em atender demandas básicas. “Se fosse feita a reforma agrária, nós não precisaríamos estar fazendo lutas. Infelizmente, nós não fizemos no Brasil e a situação se agravou no último período com o agravamento da violência no campo”, concluiu.

‘Papa Francisco plantou sementes com os movimentos populares’

A morte do papa Francisco foi lembrada com emoção por Gilmar Mauro, que exaltou a relação do pontífice com os movimentos populares. “A igreja perdeu um dos seus melhores padres e a humanidade, um ser humano extraordinário”, afirmou.

Segundo o coordenador do MST, o Papa foi o primeiro a convocar movimentos sociais do mundo inteiro para discutir as injustiças do sistema capitalista. “Ele defendeu que nenhuma família esteja sem terra, sem moradia e sem direitos. Foi um programa extraordinário para este tempo histórico.”

Neste sábado (26), os militantes do MST vão plantar, cada um, uma árvore em homenagem às contribuições ambientais e sociais do pontífice. “O papa Francisco marcou uma época e plantou sementes. Fisicamente, não o teremos, mas, sem dúvida e nenhuma, o seu legado permanece”, disse Mauro.

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