

Foi numa estrada de areia no sul da Bahia que vivi uma das experiências mais marcantes da minha jornada como conservacionista.
Eu, o Paulo Radaik e a nossa colega Marcela seguimos de carro rumo a uma atividade de campo do nosso mestrado em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável, promovido pela ESCAS e o Instituto Ipê.
A turma vinha de ônibus. Nós, por morarmos no Espírito Santo, optamos por dividir um carro, pois voltaríamos direto, logo após a aula de campo. Mal sabíamos o que nos esperava naquela visita.
A surpresa que floresce da terra
Chegamos antes. Na entrada da propriedade rural onde seria a aula, fomos recebidos por um senhor de fala mansa e sorriso largo.
A área, antes um areal infértil, agora exibia um frondoso pomar — laranjeiras carregadas davam um tom fresco ao ar.
Paulo olhou ao redor e soltou uma frase que ainda ecoa na minha memória: “Rapaz, já fiz um trabalho por aqui!”
A surpresa foi geral. Os professores haviam escolhido aquele local para nos mostrar um caso de sucesso em transformação do solo com agrofloresta, e o responsável técnico pelo trabalho… era o Paulo. E ele nem suspeitava.
O produtor rural, ao reconhecê-lo, abriu os braços em alegria, com um grande sorriso, como quem reencontra um velho amigo.
Uma frase que mudou tudo
O senhor nos guiou pela propriedade com orgulho. Mostrou as árvores, os frutos, a cisterna funcionando. E então, com uma simplicidade que me desarmou, disse:


“Antigamente, antes do Paulo fazer o trabalho dele aqui, eu passava fome. Tinha dia que não tinha o que comer. Hoje eu sou RICO!”, mostrando um galho carregado de frutas.

Essas palavras me atravessaram. Aquela riqueza que ele falava não tinha nada a ver com cifras. Era comida na mesa, era poder levar a família para passear, era dignidade. “Hoje, temos o que comer três vezes por dia e ainda posso levar a minha família para passear no fim de semana”, completou ele.
Naquele instante, com um arrepio da espinha indo até os pelos dos braços, entendi como a verdadeira conservação começa. Começa com gente de barriga cheia, com água para beber, com casa em pé. Com dignidade!
E um pensamento veio à mente naquele momento. “Só assim conseguimos construir um caminho de equilíbrio entre a sociedade e a natureza”.
O rosto por trás das transformações
Registrar essa história em imagens foi um privilégio. Paulo Radaik aparece sorrindo ao lado de quem viu sua vida mudar.
Em outra, ele observa atentamente uma área de agrofloresta em estágio inicial.

Nas mãos calejadas dos produtores, a prova viva de que o solo antes seco agora dá frutos.

É nesses momentos que entendo o poder da fotografia: não é só sobre a fauna e a flora, mas conseguir também contar histórias sobre pessoas que cuidam de tudo isso com as mãos na terra e o coração no lugar certo.

A trajetória de quem planta dignidade
Paulo Radaik é engenheiro agrônomo formado pela Universidade Federal de Lavras e mestre em conservação da biodiversidade. Fundador da Agrobiológika, junto com sua parceira Fabiana Ruas, ele já implementou projetos de agrofloresta e saneamento rural em dezenas de comunidades, assentamentos, aldeias indígenas e áreas degradadas.
Sua atuação vai de Aracruz ao Vale do Jequitinhonha, do norte do Espírito Santo ao sul da Bahia.
Entre seus feitos, está a capacitação de centenas de famílias em agricultura sintrópica, restauração florestal produtiva e técnicas de convivência com o semiárido.
Seu trabalho é plantar possibilidades. Onde muitos veem solo pobre, Paulo enxerga com as técnicas certas, um possível futuro fértil.

Agrofloresta comoerramenta de conservação
A agrofloresta, para quem ainda não conhece, é um sistema de cultivo que imita a lógica da natureza. Árvores, plantas e culturas alimentares crescem juntas, formando um ambiente equilibrado e produtivo.
Se bem executada, a técnica permite restaurar áreas degradadas, aumentar a biodiversidade e, ao mesmo tempo, gerar renda e alimento.
Esse equilíbrio entre natureza e ser humano está no centro da filosofia de Paulo. E é justamente por isso que sua história tem tanto a ensinar a todos que, como eu, acreditam na conservação como um ato de amor — e, como aprendi nessa história compartilhada, de justiça social.
Transformação
Rever essa história anos depois, com as imagens para compor essa matéria, é como folhear um álbum que fala para o coração.
As imagens que apresento são testemunhos de uma transformação. A minha!
Uma esperança renovada de um caminho, ou ao menos o início dele, para tornar possível a nossa tão necessária harmonia com o planeta.
O exemplo do Paulo me mostrou que transformar o mundo pode começar por um gesto simples: ouvir as pessoas, entender suas necessidades e semear nossa empatia e conhecimento. No caso de Paulo, seu conhecimento sobre as Agroflorestas.

Um chamado ao que importa
Essa história me transformou, e espero que toque você também que está lendo este texto. Ao conhecer trajetórias como a do Paulo Radaik, percebemos que a conservação da natureza começa no humano.
Que proteger florestas é, muitas vezes, ajudar famílias a ter o que comer. Conhecer e valorizar esses personagens da vida real é um ato de respeito com a terra e com as pessoas que a cultivam.
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Espero que tenham gostado desta história. Te vejo na próxima aventura!