O que é Afrofuturismo? Entenda o conceito que virou tema da 11ª edição do Dia do Quadrinho Nacional em Campinas


Evento sediado na biblioteca Municipal Professor Ernesto Manoel Zink começa nesta terça e tem programação de mais de um mês para comemorar a data. Afrofuturismo vira tema da décima primeira edição do Dia do Quadrinho Nacional em Campinas
Biblioteca/Divulgação
Muito além de histórias em ambientações futuristas, a ficção científica é um gênero que especula o papel da tecnologia na sociedade e investiga a reação dos seres humanos às mudanças em ciência e tecnologia. Dentre os diferentes temas, dos sonhos utópicos aos cenários devastadores das distopias, está o Afrofuturismo, vertente que virou assunto da 11º Dia do Quadrinho Nacional, em Campinas (SP).
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Para marca o Dia do Quadrinho Nacional – comemorado nesta terça-feira (30) – e conhecer o tema da exposição, o g1 Campinas conversou com dois dos artistas com obras expostas, Rodrigo Candido e Will Rez, e com a bibliotecária Suze Elias, chefe do setor da biblioteca municipal.
O evento ocorre na Biblioteca Pública Municipal Professor Ernesto Manoel Zink a partir de 14h desta terça, com a abertura da exposição sobre Afrofuturismo. As atividades seguem até o dia 2 de março com a feira de quadrinhos independentes na mesma biblioteca.
Will Rez, Rodrigo Candido e Ariane Purika em evento sobre quadrinhos
Arquivo Pessoal
👀 O que você vai ver nesta matéria:
🌌 O que é o afrofuturismo? 🚀
🗨️ Dia do Quadrinho Nacional 💭
🖼️ Exposição de arte
🌌 O que é o Afrofuturismo? 🚀
A palavra afrofuturismo se tornou mais conhecida com o filme “Pantera Negra” que apresentou uma nação africana como expoente tecnológica e social para o cenário cinematográfico da Marvel.
No entanto, o conceito é mais antigo e não se restringe apenas a uma estética visual, pois trata-se de uma narrativa especulativa que trabalha com elementos inspirados em culturas do continente africano ao mesmo tempo que insere questões contemporâneas da população negra.
Capa de revista em quadrinhos sobre Afrofuturismo organizada por Will Rez
Arquivo Pessoal
O termo foi criado em 1993 pelo crítico cultural Mark Dery ao examinar um movimento cultural que vinha se manifestando desde pelo menos a década de 1970. Segundo o quadrinista Will Rez, extrapolou os campos da música e literaturae chegou aos quadrinhos.
Para Rez, o afrofuturismo tem um papel importante em trazer representatividade ao apresentar histórias com “protagonismo preto” onde o passado é recontado sob outra perspectiva que não a branca ocidental, dando ênfase na matriz e ancestralidade africana.
“Somos nós, o povo preto, se enxergando em um futuro próspero onde não somos serviçais ou aqueles coadjuvantes que morrem primeiro, mas sim protagonistas da própria história. História essa que escrevemos com um olho no futuro e o outro em nossos ancestrais”, conta o ilustrador Rodrigo Cândido.
Cândido ainda complementa que ao trazer outra perspectiva: futuros são imaginados a partir da harmonia entre ciência e espiritualidade. Esta visão que se utiliza de histórias e vivências que permitem fugir da representatividade padrão.
“Você pode pegar como exemplo as obras do Jordan Peele [diretor de ‘Corra’ e ‘Nós’], onde o protagonismo negro tem uma ótica que nenhum diretor ou roteirista não negro entenderia”, conta Will Rez.
Assim, ao utilizar referências e perspectivas diferentes, os autores apontam que abre-se todo um campo novo de narrativas possíveis.
“É uma ficção que tenta fugir, também, da simples jornada do bem contra o mal, trazendo tramas que nem sempre vão culminar na morte do “inimigo”, mas talvez em uma nova compreensão dos fatos por ambas as partes”, fala Rodrigo Cândido.
🗨️ Dia do Quadrinho Nacional 💭
O Dia do Quadrinho Nacional é comemorado nesta terça-feira (30). Uma data criada para celebrar a produção artística brasileira e que presta homenagem ao que é considerado o primeiro quadrinho publicado no país em 1869: “As Aventuras de Nhô-Quim ou Impressões de Uma Viagem à Corte”, do cartunista Angelo Agostini.
Suze Elias mostrando parte do acervo da gibiteca da Biblioteca Municipal de Campinas
Prefeitura de Campinas
Na biblioteca pública Municipal Professora Ernesto Manoel Zink, em Campinas, a data é celebrada há 11 anos com exposições, atividades, palestras e feira de quadrinhos independente. Regularidade que se deve à bibliotecária Suze Elias, chefe do setor que organiza o evento desde 2013.
“O primeiro evento foi extremamente bem recebido e a gente viu que era uma possibilidade grande de fazer o público conhecer e ler o quadrinho nacional. Do ponto de vista de uma biblioteca que trabalha com a questão da diversidade. Você amplia as possibilidades de conhecimento de narrativas que podem ser conhecidas e lidas”, conta.
O evento, inclusive, recebeu reconhecimento entre os quadrinistas e foi indicado aos prêmios Hqmix e Ângelo Agostini em algumas ocasiões. Além de terem sido convidados para participar do Seminário Internacional do Sistema de Bibliotecas do Estado de São Paulo, em 2018, para contar sobre a experiência.
“Nós somos reconhecidos como uma ótima prática. Isso fez a gente perceber. A gente estava no caminho certo”, comenta.
🖼️ Exposição de arte
Cada ano é escolhido um novo tema e um homenageado. A escolha pela ficção científica em 2024, segundo Suze, se deu pela possibilidade diversa que o gênero é capaz de proporcionar, e escolher o Afrofuturismo dentro desta diversidade possibilita apresentar ao público algo não muito conhecido.
“Muito legal ver o interesse cada vez maior na produção afrofuturista, principalmente no pequeno nicho que são os quadrinistas negros. Produzimos sabendo que para muitos nossas histórias não são o que esperam, mas sabemos que basta se dar a chance de ler que o material pode conquistar.”, diz Rodrigo Candido.
Will contou que o contato dele com a bibliotecária ocorreu no evento de 2023, quando foi convidado para participar da feira. E foi chamado para a exposição quando Suze soube que o quadrininsta produziria um segundo almanaque sobre o tema.
“Ela propôs uma exposição desses trabalhos [artes do segundo almanaque] e nós sabemos como é importante ocuparmos esse espaço importante, não só pra mostrar nossos trabalhos, mas pra também estarmos ali e nos reconhecermos como objetos artísticos e produtores de arte”, finaliza.
Serviço
Jornada “Dia do Quadrinho Nacional” na Biblioteca Zink – 11ª edição
Data: de 30 de janeiro a 02 de março 2024
Local: Biblioteca Pública Municipal “Professor Ernesto Manoel Zink”
Endereço: Avenida Benjamin Constant, 1.633, Centro
Entrada: gratuita
Programação
Terça-feira, 30 de janeiro – Abertura da exposição “Afrofuturismo” por Will Rex e Kitembo Editora
Quarta-feira, 31de janeiro – Abertura da exposição em homenagem à Germana Viana
VÍDEOS: Tudo sobre Campinas e região
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