
A recente escalada das tarifas comerciais imposta pelos Estados Unidos reacendeu preocupações sobre os rumos da economia global. Pequim retaliou, aplicando 34% sobre mercadorias americanas e restringindo exportações de minerais estratégicos. Na esteira desse embate, a União Europeia estuda contramedidas. O impacto foi imediato: bolsas globais desabaram, commodities sofreram forte desvalorização, e o temor de recessão ganhou força. Mas como fica o Brasil nesse cenário?
Maurício Takahashi, professor de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, analisa o cenário como “um terremoto que redesenha o mapa do comércio internacional“. Segundo ele, as rotas consolidadas de comércio foram profundamente afetadas, exigindo dos investidores uma leitura atenta e dinâmica dos sinais que vêm da economia global.
Inflação e crescimento global: os impactos no Brasil
Com a guerra tarifária em curso, o crescimento global se torna uma preocupação central. As tarifas operam como um freio de mão, reduzindo consumo, investimentos e fluxo comercial. Takahashi aponta que o Banco Central brasileiro enfrenta um dilema delicado: “Mesmo com uma possível recessão global, a inflação no Brasil pode não ceder, pressionada pela alta do dólar e por cadeias produtivas desorganizadas.“
De fato, o Boletim Focus já sinalizava Selic a 15% para o fim de 2025, e a guerra tarifária reforça essa expectativa. Os bancos centrais, mundo afora, se veem limitados: cortar juros pode estimular a economia, mas com a inflação resistente, há pouco espaço para afrouxamento monetário.
Commodities e câmbio: riscos para a balança comercial do Brasil
A menor demanda global já derrubou os preços das commodities, impactando petróleo, minério de ferro e produtos agrícolas — setores vitais para o Brasil. Takahashi alerta: “Se a China, principal cliente do Brasil, reduzir significativamente suas importações, o Brasil pode sentir o baque.“
Além disso, o real sofre pressão frente à valorização do dólar, considerado porto seguro em tempos de crise. O Banco Central tem tentado conter a volatilidade com leilões de swap cambial, mas a força da moeda americana tende a persistir.
Reconfiguração das cadeias globais e impacto no Brasil
A disrupção nas cadeias de suprimentos pode, paradoxalmente, abrir oportunidades para o Brasil. “Existe uma janela para o país ampliar exportações para a China, especialmente de soja e carnes“, diz Takahashi. Mas ele adverte: “Sem melhorias no ambiente de negócios e segurança jurídica, essa oportunidade será limitada.”
Por outro lado, produtos asiáticos e europeus que perderem espaço nos EUA podem invadir o mercado brasileiro, aumentando a competição e pressionando a indústria nacional.
Três cenários possíveis para o futuro
Maurício Takahashi trabalha com três hipóteses para os próximos meses:
- Cenário otimista: Uma trégua parcial entre as potências, que evitaria uma recessão profunda.
- Cenário pessimista: Escalada tarifária ainda mais severa, recessão global e estagflação.
- Cenário intermediário (o mais provável): Tarifas mantidas, investimentos travados e crescimento global moderado. Para o Brasil, isso significaria inflação pressionada, Selic elevada e expansão econômica fraca.
Estratégia para investidores: cautela e diversificação
Na leitura de Takahashi, o momento pede cautela redobrada. “É fundamental manter uma carteira diversificada, inclusive em termos geográficos“, orienta. Ele recomenda monitoramento constante das curvas de juros e dos comunicados dos bancos centrais, além de revisões frequentes de portfólio e uso de instrumentos de proteção cambial.
“Mais do que nunca, é hora de focar em fundamentos sólidos e na resiliência das empresas“, conclui o professor.
Leia mais notícias e análises clicando aqui
O post Guerra tarifária global acende alerta para o Brasil: riscos, oportunidades e o que esperar apareceu primeiro em BM&C NEWS.