ONGs afirmam que ações do governo federal não conseguiram acabar com garimpo ilegal em Terra Yanomami


No primeiro semestre de 2023, as ações do governo retiraram 80% dos invasores. No segundo semestre, muitos voltaram. ONGs afirmam que ações do governo federal não conseguiram acabar com garimpo ilegal em Terra Yanomami
Jornal Nacional/ Reprodução
Organizações não governamentais divulgaram nesta sexta-feira (26) um relatório em que afirmam que as ações do governo federal brasileiro não conseguiram acabar com o garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami.
A área impactada pelo garimpo ilegal no território yanomami cresceu menos em 2023 se comparado aos últimos anos: 7% – 6 mil hectares de devastação. Mesmo assim, depois da emergência em saúde pública decretada pelo presidente Lula, há exatamente um ano, a situação ainda preocupa.
Os dados da Hutukara Associação Yanomami, com apoio do Instituto Socioambiental e do Greenpeace Brasil, indicam que a crise humanitária persiste. Garimpeiros não foram totalmente expulsos, a desnutrição e a malária resistem.
Estêvão Benfica, geógrafo do Instituto Socioambiental, afirma que houve um relaxamento das ações de repressão.
“As operações passaram a ser menos regulares. Passou um sinal de que era possível manter as coisas operando dentro do território, mas, no segundo semestre, tanto os relatos de área, quando as imagens por assessoramento remoto indicam uma retomada do crescimento da área impactada pelo garimpo”, diz ele.
No primeiro semestre de 2023, as ações do governo retiraram 80% dos invasores. No segundo semestre, muitos voltaram. Garimpeiros recuperaram pistas clandestinas para aviões, começaram a explorar longe dos rios e passaram a usar novas tecnologias de comunicação para escapar das operações. Segundo o relatório, pelo menos sete indígenas morreram em confronto com garimpeiros.
O documento mostra ainda que a presença dos garimpeiros ilegais dificulta o acesso a serviços de saúde. Com medo, profissionais têm evitado fazer visitas a muitas aldeias.
Em 2023, 129 indígenas yanomami morreram por doenças infecciosas, parasitárias e respiratórias – mais de 40% de todas as mortes no período. Em média, são quase 2 mil casos de malária por mês e a cobertura vacinal não atingiu nem metade das crianças até 4 anos.
Organizações não governamentais cobram um plano de proteção territorial e, principalmente, a retomada das operações para a retirada de garimpeiros do território.
“Esse é o papel do policial, é pegar garimpeiro que está estragando nossa terra mãe e não é levar para casa dele, não, porque ele volta, porque ele volta para continuar derrubando, continuar sujando água”, diz o yanomami Davi Kopenawa, presidente da Hutukara Associação Yanomami.
O governo já anunciou a presença permanente das Forças Armadas e da Polícia Federal na região.
O Ministério da Saúde afirmou que, desde janeiro de 2023, aumentou o efetivo de profissionais, dobrou o investimento em ações de saúde e trabalhou para garantir a assistência e combater as principais doenças e que, com a reabertura dos sete polos base, fechados por ações criminosas, totalizaram 68 estabelecimentos de saúde.
O Ministério dos Povos Indígenas afirmou que o governo federal investiu mais de R$ 1 bilhão para o enfrentamento da emergência, com 340 acampamentos destruídos, redução de 85% das áreas para mineração ilegal e queda de 50% do desmatamento; e que o presidente da República determinou a abertura de novo crédito de R$ 1,2 bilhão destinado à nova etapa da operação.
O Ministério da Defesa afirmou que houve a distribuição de cerca de 766 toneladas de alimentos, 3.029 atendimentos médicos e 205 evacuações aeromédicas, que os militares detiveram 165 suspeitos e que, em 2024, as Forças Armadas transportarão mais 15 mil cestas de alimentos para o território indígena.
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