O que Lula quer de Galípolo é submissão, não “verdadeira autonomia”

Depois da semana em que o Banco Central se viu obrigado a torrar 7 bilhões de dólares para evitar que o real se tornasse moeda de brinquedo, o marqueteiro de Lula, Sidônio Palmeira, cotado para ser o novo ministro da Secom, teve uma ideia copiada de transmissões ao vivo de Jair Bolsonaro.

Ele colocou Lula ao lado de Gabriel Galípolo na biblioteca do Palácio do Alvorada, acompanhado de Fernando Haddad, Simone Tebet e Rui Costa, para que o presidente da República dissesse ao novo presidente do BC que não iria interferir no trabalho da autoridade monetária.

“Você será o mais importante presidente do Banco Central que o Brasil já teve, porque será o presidente com mais autonomia”, afirmou Lula, entre declarações de amor recentíssimo à responsabilidade fiscal.

Assim como não existe mais ou menos virgindade, não existe mais ou menos autonomia de banqueiro central. Ou ele é autônomo ou ele não é. Como o presidente do Banco Central tem autonomia garantida por lei de 2021, Lula não faria mais do que a sua obrigação em respeitá-la.

O mercado se  tranquilizou, parece, com a cena armada pelo marqueteiro de Lula, mas é aquela tranquilidade à base de ansiolítico. O que deveria existir é medida protetiva de distância mínima entre presidente da República e presidente do BC.

Com um Executivo irresponsável, um Congresso delinquente e um Judiciário voraz, foi Roberto Campos Neto quem segurou a inflação até aqui. Se não fosse ele a manter a taxa de juros alta, apesar da gritaria presidencial, o governo já estaria pintando dinheiro para cobrir com mais inflação gastos totalmente fora de controle. Mas a fala de Lula não aponta para a continuidade do trabalho exemplar do ex-presidente do Banco Central.

“Quero que você saiba que está aqui por uma relação de confiança minha e de toda a equipe de governo (…) Porque eu tenho certeza que, pela tua qualidade profissional, tua experiência de vida e teu compromisso com o povo brasileiro, certamente você vai dar uma lição de como se governa o Banco Central com a verdadeira autonomia”, disse Lula.

A interpretação de texto básica é que o presidente da República espera que Gabriel Galípolo não seja um Roberto Campos Neto, a quem acusa injustamente de ser um sabotador bolsonarista. Que o seu garoto “dê uma lição como se governa o Banco Central com a verdadeira autonomia”.

A “verdadeira autonomia” que Lula e o PT querem de Gabriel Galípolo é o seu contrário: a verdadeira submissão. Porque, afinal de contas, ele tem uma “relação de confiança” com o presidente da República e “compromisso com o povo brasileiro”.

Lula deu um recado a Gabriel Galípolo nas entrelinhas de significado oposto ao do enunciado: “olha, companheiro, eu te pus aí porque conto com você para baixar na marra a taxa de juros, porque preciso ser reeleito e não quero mais ter de tocar nesse assunto em público”.

O novo presidente do BC ainda vai ter de provar se é leal ao país ou a Lula, e não haverá marqueteiro capaz de consertar o desastre se Gabriel Galípolo tiver mais lealdade ao seu criador.

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